Na última semana, foi firmada uma trégua de cinco dias entre Israel e o Eixo de Resistência palestino liderado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). O acordo, mediado pelo Catar, contou com uma troca de prisioneiros de ambos os lados e a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Apesar da boa notícia, no entanto, é fundamental compreender o porquê do acordo ter sido firmado e de representar uma vitória significativa para o Hamas e toda a resistência palestina.
Enquanto a imprensa burguesa reitera que a pausa foi desencadeada pela pressão externa, como se a Organização das Nações Unidas (ONU) ou os próprios norte-americanos estivessem se empenhando pela paz, a realidade material dos fatos vai por um outro caminho. A pressão externa teve, sim, a sua relevância, mas não devido ao caráter humanitário das demais potências, mas pelo tamanho da crise provocada pela dificuldade das forças de ocupação sionistas de darem seguimento ao seu processo de limpeza étnica e genocídio em Gaza. Em um mês, são, em média, 15 mil pessoas mortas, estimando-se mais de 6 mil crianças. O mundo ocidental nunca se importou com a perda de vidas palestinas, mas o número, desta vez, fica feio até para setores direitistas que desejam defender Israel, mas possuem vergonha de estar ao lado de tamanhos crimes de guerra.
O acordo firmado, no entanto, forçou Israel a reconhecer o Hamas como uma força beligerante e a aceitar a necessidade de negociações, incluindo a existência de reféns de ambos os lados. É uma mudança significativa do que tem ocorrido historicamente por parte dos sionistas, onde, pela primeira vez desde 7 de outubro, o governo israelense aprovou uma trégua proposta. Essa decisão, além de buscar a libertação de reféns israelenses e palestinos, autoriza a entrada de assistência humanitária por Rafá, na fronteira com o Egito. Esse recuo forçado revela um revés nas ambições militares de Israel, que falhou em avançar conforme planejado e enfrentou perdas consideráveis tanto humanas, quanto no âmbito militar e financeiro.
A resistência palestina, liderada pelo Hamas, desafiou a superioridade militar israelense. Essa é a realidade. Por meio de táticas de guerrilha, o Hamas foi capaz de destruir tanques com granadas postas à queima-roupa, infligir baixas significativas nas forças de ocupação israelenses e comover boa parte da opinião mundial no apoio massivo à luta de resistência. Tal qual os vietcongues, que ficaram famosos pela heroica resistência ao terror norte-americano e por mostrarem a fraqueza do imperialismo, a estratégia de guerrilha do Hamas revelou a fragilidade do Estado de Israel, demonstrando sua incapacidade de alcançar uma vitória militar decisiva como haviam dito que o fariam. Não só civis, mas membros do governo falaram em acabar com os “animais” do Hamas e transformar Gaza “em um grande estacionamento”.
Apesar da trégua, Israel declarou manter-se em estado de guerra, reafirmando seu compromisso de atingir seus objetivos, incluindo a aniquilação completa do Hamas. É preciso compreender o que isso significa, sendo um aceno direto ao imperialismo à medida que clama por receber mais dinheiro, suporte militar e até humano, recrutando reservistas judeus simpatizantes ao sionismo de todas as partes do mundo. Enquanto isso, o Hamas enfatizou seu compromisso com o povo palestino, buscando fortalecer a resistência e proporcionar alívio às feridas causadas pelo terrorismo de Estado dos sionistas.
É preciso que fique claro: a trégua representa uma vitória de grande importância para a resistência palestina, que continua a enfrentar a agressão israelense, apesar da ausência de um exército formal. A mobilização internacional contra as ações de Israel e a pressão sobre o Estado sionista refletem uma mudança na dinâmica geopolítica global, que nunca fez questão de condenar Israel para não se opor ao imperialismo de forma direta.
A trégua temporária, no entanto, não revela um gesto humanitário, sendo uma resolução aceitada por Israel unicamente por falta de opção palatável. Ela revela, por sua vez, a vulnerabilidade de Israel diante da resistência palestina. É preciso destacar, com muita ênfase, a importância da luta liderada pelo Hamas na resistência contra a opressão israelense e dos demais grupos que deixaram suas divergências de lado e se uniram na guerra de libertação nacional palestina, como a Jihad Islâmica, a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) e a Frente Democrática de Libertação da Palestina (FDLP).
A atuação heroica do Eixo de Resistência, além de inspirar outros grupos a se unirem à luta, como é o caso do Hesbolá, desafiou as narrativas mentirosas do imperialismo, enfatizando a necessidade de uma solução justa e duradoura para o conflito: a libertação do território palestino do rio Jordão ao mar Mediterrâneo.