Jogo entre Palmeiras e Flamengo no Allianz Parque, dia 8 de julho. A jovem Gabriela Anelli, de 23 anos, torcedora do Palmeiras, membro da Mancha Verde, foi atingida por uma garrafa de vidro lançada por alguém durante uma confusão entre torcedores e morreu. O acontecimento, envolvendo duas torcidas rivais, acabou gerando enorme comoção por parte da imprensa golpista. Por semanas, foi falado no caso e por semanas a carga recaía sobre as torcidas organizadas. Tentaram de todas as maneiras colocar a culpa nas torcidas.
Último domingo (24), final da Copa do Brasil, São Paulo e Flamengo, estádio do Morumbi. Desde cedo, a massa de são-paulinos recebem fraternalmente as torcidas organizadas do Flamengo. Há uma amizade de anos entre as torcidas, selada pela inclusão nessa amizade da última organizada que faltava, a Raça Rubro Negra, do Flamengo.
Um jogo, portanto, em que violência entre torcidas era uma possibilidade tão improvável quanto chuva naquele dia particularmente quente em São Paulo.
Tudo em paz, certo? Não. A polícia e as autoridades municipais decidiram impedir as dezenas de milhares de torcedores que não conseguiram comprar ingresso, mas queriam participar da festa próxima ao estádio, de chegar perto do estádio. A direita gosta muito de falar em direito de ir e vir quando há alguma manifestação popular, mas parece que para o torcedor isso não vale. Na verdade, torcedor é que não vale nada para a burguesia.
Era para ser um dia de confraternização e de comemoração pelo título. Mas aí apareceu a polícia e matou um torcedor do São Paulo, membro da torcida Independente, da ala de Surdos e Mudos da organizada. Rafael dos Santos teve perda de massa encefálica ao ser atingido por uma nova munição “não letal” da PM paulista, chamada bean bag, que consiste em pequenas esferas de chumbo envoltas num saco de tecido sintético.
Estamos diante de dois casos de morte. Dois torcedores, mortos nas imediações do estádio. Mas o caso do são-paulino Rafael não tem nem um quarto do destaque dado para a morte de Gabriela. Antes de falarem que estamos ferindo a imagem da torcedora do Palmeiras, não se trata disso. A comparação serve para mostrar que o caso Gabriela ganhou tanto destaque porque a ordem é atacar as torcidas organizadas.
A burguesia está numa campanha contra as torcidas que imprensa capitalista reproduz. Querem banir as torcidas, querem transformar os estádios em arenas cada vez mais caras e distantes do povo. Os capitalistas que comandam os clubes querem se ver livres das torcidas organizadas porque são elas que garantem que o futebol continue sendo popular.
A morte de Gabriela foi simplesmente usada para essa campanha. Já a de Rafael é o contrário.
O que aconteceu com o torcedor da Independente desmente a campanha contra as torcidas porque no Morumbi naquele dia não havia confronto de torcidas. E mais ainda, como o assassinato foi provocado pela PM, ele revela que, se há uma organização que promove a violência nos estádios, ela se chama Polícia Militar.
A morte de Rafael não tem destaque porque não serve à campanha contra as torcidas. E pior ainda, ela serve para mostrar que é a PM que deveria ser afastada dos estádios. A PM deveria ser extinta.
Na Lei Geral do Esporte, aprovada recentemente, há uma aberração jurídica. Ela prevê que a torcida organizada inteira pague por algum crime cometido por uma pessoa. É um ataque brutal ao direito de organização não apenas das torcidas, mas de todo o povo.
Mas se a lógica é essa, por que a PM não sofre a mesma coisa? A PM deveria pagar caro pela morte de Rafael, ela deveria ser extinta dos estádios. Logicamente que a burguesia não fará isso, porque o Estado pode massacrar o povo à vontade, pode cometer todos os crimes e atrocidades contra o povo. Já se for o contrário, aí não se tolera nem um passo fora da linha.