O presidente Lula em sua viagem para China deu um verdadeiro tapa na cara daqueles elementos políticos que desde o início do governo tem propagado que a política externa do Brasil seria pró-imperialista. Lula celebrou uma série de acordos com a China, tornou explicito o interesse do Brasil em substituir o dólar nas negociações internacionais, atacou a postura dos norte-americanos e da União Europeia de promoverem a guerra na Ucrânia ao invés de procurar estabelecer a paz.
Essa falsificação relacionada a política exterior do governo, de que o Brasil estaria abaixando a cabeça para os EUA e a UE, ela tem sido feita por oportunistas ou por pessoas com baixa capacidade de compreender o que se passa em nosso país. Os primeiros querem de fato sabotar o governo e causar uma divisão em sua base social. Os segundos não conseguem fazer uma análise crítica da situação e acabam trocando os pés pelas mãos.
Lula não é um aventureiro. Obviamente que também não está imune aos erros. Mas é de fato um político de uma habilidade impressionante. O presidente tem noção da fragilidade institucional de seu governo e diante disso não toma posições extravagantes, como muitos querem. Tem muito bem em mente que um relacionamento de maneira mais abrupta com os EUA poderia desencadear em um intervencionismo norte-americano mais intensificado, tanto no terreno político, como no econômico.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e possuem uma enorme influência política em nosso país, nas forças armadas e forças auxiliares, no judiciário, no parlamento, etc. Uma exposição do governo de maneira espalhafatosa e aventureira o colocaria em uma circunstância de grande fragilidade, tendo em vista que existe uma enorme busca para mudar o quadro econômico para este ano (em que a previsão de crescimento não passa de 1%) para assim desagregar a capacidade de atuação da oposição e conseguir dar uma certa estabilidade ao governo por meio do respaldo popular. Nesse sentido, o governo tem de pisar em ovos para não se precipitar e fazer com que Washington acione esses elementos internos para aumentar sua sabotagem contra o governo.
Mas, ao mesmo tempo que Lula tem noção de que seu governo é institucionalmente frágil, sabe também que a posição do imperialismo internacionalmente se encontra enfraquecida. Isso lhe dá espaço para não se alinhar com o imperialismo nas ofensivas contra a Nicarágua e Rússia, recusar a venda de armamento para Ucrânia, criticar as práticas do FMI e Banco Mundial, a consideração de Taiwan como parte da China, para propor esse processo de substituição do dólar nas transações e já colocar isso em prática com a China, apresentar descontentamento com o acordo entre Mercosul e União Europeia, que é desfavorável para indústria nacional e procura intensificar a reprimarização da economia brasileira. De toda forma, o imperialismo não é bobo e certamente vem preparando uma ofensiva contra o governo Lula para evitar perder mais terreno. Aliás, adotar essa postura é a única maneira de perpetuar o capitalismo. As declarações da Casa Branca em resposta as falas do presidente Lula já sinalizam para isso. O que é incerto, nesse caso, é quando essa ofensiva será intensificada. A militância de esquerda precisa ficar atenta e de prontidão para defender o governo Lula, para que o país seja reconstruído e consolide cada vez mais a soberania nacional.