Após anos, talvez décadas, de uma paralisia mórbida do movimento estudantil, a greve em diversos campus da USP (Universidade de São Paulo) e recentemente na UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) é uma mobilização real que revela qual é, de fato, o ânimo de revolta da juventude.
O grande problema ainda é, como sempre foi, as direções do movimento estudantil que colocam a mobilização a reboque de pautas rebaixadas, e impõem obstáculos a uma verdadeira luta da juventude.
Balanço Geral
A USP é centro político de toda a luta do movimento estudantil no País. É a maior universidade, na maior estado e melhor classificada. Mesmo assim, a greve começou por uma necessidade econômica.
Os professores de da Faculdade de Letras, no mesmo departamento de Filosofia e Ciências Humanas (FFLCH), começaram uma greve ainda em agosto reivindicando a imediata contratação de docentes. Alguns cursos, como a habilitação em coreano, estavam ameaçados de extinção, e em outros cursos poucos professores trabalhavam por muitos.
Logo, os estudantes do curso de Letras e toda a FFLCH ocuparam a faculdade e passaram a participar ativamente da mobilização. Em setembro, como o problema não era apenas nos cursos de humanas mas em todas as faculdades da USP, o movimento se desenvolveu e foi aprovada a greve, com piquetes, atos, etc.
A problema econômico é real. Não tem como ter universidade sem professores. Agora, na medida em que o movimento foi se organizando, os estudantes foram aprovando novas reivindicações. A maioria delas, até pelos anos de paralisia, também econômicas, como o gatilho automático, a retirada de grades de uma faculdade, o acesso indígena a USP, etc. Entretanto, os estudantes já propunham e falavam para derrubar o governo de direita do Tarcísio, reivindicar mais verbas para a educação e outras pautas que de fato, podem resolver o problema.
Aqui está a questão chave. Como nada de grande porte acontecia há anos, os estudantes mostraram sua rápida tendência a radicalização. Nas assembleias e atos, o que mais se escutava era falar do Tarcísio, das privatizações e da necessidade de tomar o controle da universidade. A pauta econômica, apesar de ser colocada pela direção do movimento e pela imprensa como a central, pouco era reivindicada.
Diferente de um movimento meramente sindical, onde, no geral, é reivindicado alguma melhora econômica, como aumento salarial, uma greve estudantil tende a ser abertamente política. A juventude tem uma predisposição a não se contentar com migalhas, e se coloca em luta com maior facilidade. Finalmente, são dezenas de anos de vida em jogo e um projeto intenso de privatização e de destruição do ensino público sendo impulsionado por Tarcísio e por toda a direita.
Do que adianta, por exemplo, o reitor dizer que não tem orçamento para contratar professores imediatamente se o problema real não é a falta de professores mas sim a verba para a edução? O PCO, por exemplo, participa da greve denunciando que o dinheiro que deveria ir para a educação, está indo para os bancos estrangeiros. Mesmo que o reitor contrate temporariamente professores, o governador, o congresso e o próprio STF de direita podem pisar em cima de sua decisão e de todos os grevistas. As reivindicações precisam ser radicais, porque a direita e a burguesia são radicais contra a juventude e a classe trabalhadora.
O movimento é real como não era há anos, e agora, mostra que a juventude está revoltada contra o sistema como sempre foi. Ele não deve parar com migalhas distribuídas pela reitoria, mas sim, continuar e reforçar a radicalização do setor mais combativo da sociedade.
Últimos dias
A greve será votada amanhã, na segunda-feira, em assembleia-geral no vão da história às 18h30. Diante das reivindicações e com as duas reuniões realizadas com o comando de greve e a reitoria, a mesma fez uma proposta ínfima para conter a mobilização.
O reitor e sua vice, na primeira reunião, fugiram dos estudantes. Agora na segunda reunião, que ocorreu na quarta-feira (04/10) nesta última semana, elaboraram algumas resoluções sobre a propostas do movimento:
Contratação de professores: a reitoria se comprometeu a disponibilizar 1027 vagas docentes. Dessas 879 já estavam previstas e 148 serão distribuídas conforme a necessidade das unidades de ensino.
Abertura de dados: a reitoria também se comprometeu em disponibilizar publicamente uma planilha com os dados referentes ao número de docentes da universidade.
Segundo o levantamento da Associação de Docentes da USP, com base nas folhas de pagamento, o número proposto ainda é menor do que o de vagas perdidas pela universidade ao longo dos últimos nove anos, de 1042 profissionais.
Manutenção dos cursos: a reitoria afirmou que nenhum curso da universidade será fechado por falta de professores.
Termo de Não Represália: a gestão se comprometeu a assinar um documento após a greve, como forma de garantia que não haverá perseguição a alunos que aderiram ao movimento.
Democratização do ensino: a gestão atual afirmou que implementará uma comissão para estudar formas de aumentar o acesso de indígenas à USP.
Permanência estudantil: a proposta dos grevistas de equiparação da verba do auxílio ao valor do salário mínimo paulista será avaliada pela reitoria, que deverá apresentar uma devolutiva na próxima reunião.
Outros tópicos serão discutidos na segunda-feira (09/10), mas já fica evidente que nem a reivindicação principal a reitoria vai cumprir. Os estudantes reivindicam quase o dobro de novas contratações de professores. De resto, a reitoria verá como colocar indígenas na universidade, pacificar a situação, e ver melhor como fazer com o aumento do auxílio.
Aqui fica claro: a reitoria quer acabar com a mobilização por meio de migalhas. Essas que as direções do movimento podem colocar como uma grande vitória. Fazer uma greve para derrubar Tarcísio, tomar o controle da universidade, ou qualquer outra pauta que garanta uma verdadeira universidade fica para trás de tais propostas completamente medíocres.
No momento em que os estudantes recuarem, a reitoria vai continuar podendo fazer o que bem entender. É importante que a mobilização continue, e o PCO se manterá firme defendendo a mobilização, que só pode ter um resultado concreto com:
O Governo Tripartite. O reitor, sempre ligado aos tucanos, não pode ser o rei absolutista da USP. É preciso que professores, funcionários e a maioria de estudantes controle a universidade, com votos proporcionais. Ou seja, são os estudantes, a maioria, que devem ter o maior poder de decisão. Assim, não apenas novos professores podem ser contratados, como a universidade inteira pode lutar por um orçamento digno.
O fim do vestibular, ou seja, pelo livre acesso de todos os trabalhadores à universidade pública. Não apenas indígenas e trans que precisam de mais facilidade de acesso à universidade, mas sim, todos. Hoje, o trabalhador é proibido de entrar na universidade por conta dos vestibulares difíceis e feitos para alunos da rede privada de ensino.
A ampliação do orçamento da educação. Quase todo o dinheiro nacional vai para as mãos dos bancos estrangeiros, e quase nada para a educação. A USP é uma das melhores universidades do Brasil e tem poucos professores. Nenhum centavo para os banqueiros, por uma educação estatal de qualidade e para todos!
Conheça a AJR, a juventude do PCO
A Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) é a organização da juventude do PCO, o Partido da Causa Operária. O nosso objetivo final é a derrota do imperialismo no Brasil, para assim atingir as principais conquistas da classe operária. O movimento estudantil é importante, pois agrega o setor mais combativo da sociedade, a juventude. Em muitos momentos foi esse movimento um fator de primeira importância da luta política no Brasil e no mundo. Contudo, ele não pode se ater apenas à luta econômica das universidades públicas. A juventude pode e deve se comportar como a vanguarda de todo o movimento operário.
Em 1968, os estudantes foram a vanguarda que saiu às ruas e levaram a classe operária também a realizar grandes greves. O ápice foi na França, mas também aconteceu no Brasil com as greves de Contagem e de Osasco. Já em 1976, foram os estudantes os primeiros a desafiar a ditadura nas ruas, e assim abrir o caminho para as greves do ABC que derrubaram completamente o regime político imposto pelo imperialismo. A Revolução Cubana é outro exemplo, a juventude compôs a direção do movimento que levou a primeira Revolução Socialista da América Latina à vitória.
A AJR se inspira nos movimentos revolucionários da história da classe operária, bem como nas suas reivindicações, principalmente no próprio Partido Bolchevique de Lênin e Trótski. Na atual conjuntura de crise do imperialismo é preciso organizar a juventude, essa será a vanguarda de todo o movimento que libertará o Brasil dessa ditadura imposta por forças estrangeiras e conquistará o socialismo.
Entre em contato: 11 99926-9142 ou 61 8211-4025 e participe das nossas reuniões semanais na Rua Serranos 90, sempre aos sábados, às 16h30.