Após 8 de janeiro, o governo Lula tenta de uma forma interna despolitizar as Forças Armadas. Como se fosse possível que através de leis e decretos, o general ou mesmo cabo trocaria sua ideia ou um pensamento político. Cada ser-humano carrega dentro de si uma ideia e uma visão de mundo, o que torna praticamente impossível desvincular isso da realidade deste, ainda mais através de protocolos e leis. A própria força, como guerras e polícia, não atinge a proposta como podemos observar através da história.
Na última semana, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, um elemento bolsonarista dentro do governo, entregou ao Palácio do Planalto a proposta que exige a desvinculação dos militares da ativa das Forças Armadas caso decidam se envolver na política. O projeto prevê que militares que se candidatarem a cargos políticos serão automaticamente transferidos para a reserva ou terão que se desligar das Forças Armadas, caso não tenham cumprido o tempo mínimo para ingressar na reserva. A mesma regra também se aplica aos militares que assumem cargos ministeriais. Na mesma toada, a Marinha Brasileira enviou a seus oficiais uma mensagem interna estabelecendo prazo de 90 dias para que militares da ativa se desfiliem de partidos políticos, sob risco de punição.
A questão central é que independente da filiação de um militar a um partido político, a sua tendência e orientação política não fará a diferença. Os militares possuem diversos documentos internos sobre suas posições em relação à política nacional. São livros, palestras e doutrinação diária que movimentam o órgão em em uma posição à direita. A posição deste setor em relação à política nacional é bem organizada, estruturada e fixa. Podemos dizer facilmente, que boa parte da política nacional atual passa pelos militares, vejamos os golpes contra Dilma e Lula e os mais de 20 anos destes no controle do país, mostrando uma face ativa deste setor.
O que de fato o governo necessita é criar uma mobilização das bases e dos movimentos sociais por reivindicações populares principalmente sociais e econômicas, fazendo com que o governo atenda também os militares. Isso ajudaria o governo Lula a aplicar uma política ainda mais popular, visto que boa parte dos militares, como soldados e sargentos, encontram-se em uma situação também difícil em face da crise. O governo não deve temer a politização dos militares e sim investir no setor do baixo escalão. Cabe à esquerda mostrar uma alternativa e perspectiva para este setor como a de defesa dos interesses populares e nacionais. Por exemplo, o direito à sindicalização, aumento do salário e o direito à filiação partidária, pois é um direito que todos devem ter.
Não podemos acreditar que qualquer mudança histórica, como a revolução, passará sem a intervenção militar. É dever da esquerda atrair este setor e mostrar que a perspectiva de luta é positiva e para o baixo escalão uma vitória. A obrigatoriedade da despolitização dos militares é uma derrota, pois a política ocorre todos dias dentro de um quartel. Seria uma prática de ilusionismo, onde parece que a coisa acontece, mas de fato nada aconteceu.