Assinado pelo jornalista Paulo Henrique Arantes, o artigo “Sustentabilidade, inegável zeitgeist atual”, publicado no portal Brasil 247 no último dia 9 é simplesmente uma pérola do capachismo. No texto, o colunista enaltece “a postura do presidente brasileiro na Cúpula da Amazônia” que, segundo Arantes, “é de alguém comprometido com a preservação ambiental e, em consequência, com a questão climática”, um jeito simpático de dizer que Lula submeteu-se ao que ele próprio batizou – muito acertadamente, diga-se de passagem – de “neocolonialismo verde”.
Desde o último quarto do século XX, previsões catastróficas envolvendo um apocalipse climático têm se proliferado na máquina de propaganda do imperialismo, o que se revelou muito útil para pressionar os países atrasados a abandonar seus projetos de desenvolvimento. Paralelamente, com o deslocamento da matriz produtiva das nações centrais do capitalismo para a China, a proximidade do juízo final ecológico virou também um fator de pressão interna, para que as massas dos países desenvolvidos não estranhassem a desindustrialização em marcha nessas nações, mas recebessem o fenômeno como algo positivo.
Muito mais conscientes de seus interesses, os setores mais frágeis da burguesia norte-americana sentiram os efeitos devastadores da política imperialista e vêm lutando para impedir sua continuidade, o que se expressa na força do republicano Donald Trump. Aparentando não perceber esse movimento, o jornalista simplesmente entrega que “Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris”, sem maiores explicações sobre o motivo, quase como se a origem do fato fosse a maldade intrínseca ao coração do excêntrico bilionário e seu séquito. Na continuação, porém, o colunista entrega: “o Brasil assumiu, no Acordo de Paris, metas bastante ambiciosas até 2030, até mais ambiciosas que as dos Estados Unidos”. Óbvio.
Escapa a Arantes que a suposta defesa do meio ambiente não é para favorecer os oprimidos, mas os opressores. A fraqueza da burguesia brasileira e das demais nações atrasadas as coloca em uma posição no qual ou aceitam, ou aceitam, um tipo de negociação eternizada no cinema pelo clássico “O Poderoso Chefão”, onde o personagem Vito Corleone (um chefe mafioso, para quem ainda não conhece a obra) se notabiliza pelo que chama de “proposta irrecusável”, que em termos práticos significa: faça o que eu mando ou sofra as mais terríveis consequências.
O artigo, no entanto, segue com uma política cada vez pior, creditando à submissão uma virtude: “Com a redução do desmatamento”, defende, “na Amazônia e também do Cerrado o Brasil consolidará a imagem de país que trilha o caminho da sustentabilidade”, uma política apropriada a escravos dependentes da aprovação dos donos, mas de forma alguma a uma nação independente e soberana.
Ao fim do artigo, a sentença: “Quem não praticar sustentabilidade hoje estará fora da pauta econômica, fora do comércio internacional, fora da movimentação global.” Aqui se evidencia a verdadeira política do autor. Não é o medo do apocalipse que o aflige, mas o medo do próprio imperialismo.
Que loucos os cubanos, venezuelanos e russos, não é mesmo? Não deveriam se comportar como nações soberanas, mas como nações submissas ao “prestígio internacional”, isto é, ao “mundo civilizado”, isto é, às nações desenvolvidas. Após conseguir a aprovação destes, talvez aí sim poderiam pensar nos interesses de seus respectivos povos, desde que não se choquem com a sustentabilidade e o comércio internacional, claro. A coragem de ser covarde.
Via de regra, ceder a chantagens – como defende o colunista de Brasil 247 – está longe ser considerado uma virtude, sendo antes uma patética demonstração de fraqueza. No caso da luta de uma nação atrasada contra o parasitismo das potências estrangeiras, é ainda pior. Tem consequências diretas para toda uma população, em especial os mais pobres e, no caso brasileiro, entre estes se destacam os índios, que Arantes diz considerar ao dizer que “nenhum valor econômico que exista embaixo ou em cima da terra é superior aos direitos dos povos originários”, porém, demonstrando uma preocupação meramente superficial, moralista e nada consequente com as condições materiais de vida não só dos indígenas, mas do povo brasileiro de conjunto.
A história está recheada de eventos que demonstram como a coragem de enfrentar opressores é progressista, mas carece de um único exemplo que engrandeça a covardia dos oprimidos. Enfrentar a ditadura global, como vem fazendo o presidente Lula ao denunciar o “neocolonialismo verde”, é a verdadeira política progressista, capaz de impulsionar uma luta de grandes proporções, fazer avançar a luta contra a espoliação nacional pelas nações imperialistas e a consciência de classe das massas. É o que vai garantir os direitos dos índios, dos camponeses, dos operários, dos estudantes e das amplas massas.