No último dia 4 de abril, foi publicado um artigo no sítio Brasil 247 intitulado “O socialismo”, assinado por Pedro Fagundes de Borba.
O colunista fala de socialismo com o rigor científico de uma pessoa sentada à mesa de um bar, ou seja, rigor zero. Faz uma mistura de ideias sobre o tema, nenhuma delas correta, e usa um sociólogo conservador, Émile Durkheim, como a principal base para definir o socialismo. Mas antes de entrarmos nas ideias de Durkheim, vejamos o que fala o colunista sobre o socialismo que, para ele é uma reação aos problemas do capitalismo:
“Com as mudanças surgidas após o antigo regime, o capitalismo passa a se moldar e, gradativamente, se tornar o sistema dominante. Com isto, a sociedade começa a sofrer suas contradições e problemas. A partir disto, as ideias socialistas passam a surgir e serem difundidas.”
Se é verdade que as ideias socialistas ganharam força (embora não tenham surgido daí) como uma reação às mazelas do capitalismo, não é correta a afirmação de que o socialismo seria apenas um conjunto de ideias. O socialismo são as condições da libertação da humanidade e essas condições são materiais. É o desenvolvimento capitalista e suas contradições, que dão lugar ao socialismo, não para as ideias socialistas simplesmente, mas para um novo sistema econômico e social.
O marxismo, que o colunista trata de passagem e como sendo apenas mais uma ideia de socialismo, ou como ele diz “uma versão mais conhecida e difundida das ideais socialistas”, descobriu as bases materiais para a sociedade capitalista. Por isso, Marx e Engels fundaram o socialismo científico em oposição ao socialismo utópico de teóricos anteriores, que entendiam o socialismo como um projeto, uma idealização, mais ou menos como pensa o colunista do Brasil 247.
A aí, o colunista chega em Durkheim:
“Émile Durkheim deu a mais completa e certeira visão: ele é o grito de um corpo doente, de dor e, por vezes de cólera. No caso, a sociedade capitalista estaria doente de seus problemas e os que sentem este mal estar dariam este grito.”
Para o colunista, então, o sociólogo francês teria a melhor visão sobre o socialismo. E qual seria ela? A de que o socialismo seria uma constatação do mal da sociedade capitalista. Ela está doente e o socialismo é um grito desesperado.
A partir dessa constatação da doença, seria preciso encontrar um remédio para ela. O socialismo seria, então, a cura para o capitalismo, uma reforme do capitalismo:
“A qual os médicos, cientistas sociais, precisarão estar sempre debruçados, atentos aos gritos sociais para ver como podem curar e melhorar este corpo. Pois sua missão é a cura do doente. E só poderá haver a cura através de alguma forma de socialismo, que responda e tire os problemas sociais.”
Segundo essa ideia, o capitalismo seria então a forma final de existência da humanidade. A tarefa dos socialistas seria apenas livrar a sociedade desses males.
Para ele, portanto, o socialismo deixa de ser um sistema econômico e social superior, para ser apenas um remendo do capitalismo. É um reformismo de baixíssima intensidade. No fundo, é um conservadorismo. E é exatamente a conclusão que se tira da teoria durkheimiana que considera a sociedade como um todo com muito pouca margem de transformação. Por isso, o socialismo para Durkheim não é nada mais do que apenas uma expressão moral da própria sociedade capitalista, não sua negação, a sua superação até que a sociedade seja completamente transformada. Não uma transformação moral, mas uma transformação material, nas bases econômicas da sociedade.