Não vi Pelé jogar com os meus próprios olhos. Me restaram os vídeos da internet e, antigamente, os programas esportivos televisivos, ou mesmo um VHS. Eu ouvi sobre Pelé. Era semelhante a uma lenda, os mais velhos, meus pais e tios, comentavam a mágica que era ver o futebol genial praticado por Pelé. E sempre que o Brasil perdia era em razão da falta de um Pelé no time, mas que, por outro lado, nunca mais teríamos algo nem parecido, e estão certos sobre isso.
Antes de seu falecimento, Kely Nascimento, uma das filhas de Pelé, postou em suas redes sociais a chegada de seus irmãos ao hospital onde o Rei se encontrava. Uma prática médica antiga de juntar os parentes para se despedir da pessoa querida. E eu já sabia que iria acontecer, mas não queria que fosse agora, após o hexa mundial ter escapado por entre os dedos.
Mas veio a notícia que todo mundo não queria receber, Pelé faleceu, na quinta-feira, dia 29 de dezembro de 2022, perto das 16 horas. E eu, que bolei planos e planos de encontrar o Rei, me vi desolado e com a única oportunidade de vê-lo em seu velório, em Santos, no segundo dia do ano seguinte. Com demais companheiros de Partido e do Zona do Agrião, partimos para o litoral para participar do velório, prestar nossa homenagem ao Rei do futebol e, para mim, o representante de todo o povo oprimido, é dizer, o representante da Terra por seus feitos espetaculares.
Quando entrei na Vila Belmiro, após uma longa fila, tocava um samba de Pelé, onde uma determinada frase dizia “me tornei Rei sem querer ser”, e vendo tudo que foi dito e escrito sobre o homem é fácil perceber que ele era franco, sincero e humilde. Gente comum, do início ao fim de sua carreira. Um típico brasileiro.
A primeira e última vez que vi Pelé, em um estádio cheio de história dele mesmo e do próprio futebol foi neste velório. Não é possível mensurar o tanto que o futebol deve a Pelé, talvez a resposta mais simples seja a correta: “tudo”, como disse um entrevistado nosso durante essa romaria. E, da mesma forma, não dá para saber o quanto o Brasil e mesmo o mundo devem a Pelé.
Então, meu dia com Pelé deve ter sido parecido como nos tempos em que jogava, imagino. Vila Belmiro lotada (os números apontam mais de 250 mil visitantes), palavras de ordem da torcida do Santos, grandes craques presentes, e o povo na rua querendo ansiosamente ver Pelé, não só santistas, mas devotos de outros clubes também, como no meu caso, o Flamengo.
Eu esperava um clima de tristeza e comoção em razão do falecimento do Rei, mas o que vi no velório foi o orgulho de todos que lá estavam, de Pelé ter sido brasileiro, e eu, que triste estava, rapidamente fiquei orgulhoso. E percebi que esse deveria ser o efeito natural nas pessoas que viram Pelé jogando.
A sensação de que todo brasileiro é herdeiro do que Pelé fez, de que cada um aqui neste País tem, sem sombra de dúvidas, algo para se orgulhar. O fato de termos Pelé, para sempre, eterno, como se diz, Rei inquestionável, é algo que nos traz orgulho de sermos brasileiro.
Tem uma cena maravilhosa, de quando Pelé faz o primeiro gol da Copa de 1970, de cabeça, na final contra a Itália, em que Gerson, o Canhotinha de Ouro, levanta as mãos para o céu, meio que dizendo “meu Deus do céu, a gente vai conseguir”, emocionado, e ao fundo Jair comemora com Pelé o gol. Das milhares de cenas do Pelé, sempre achei que essa cena expressa muito bem o que é o Rei para mim. Vou deixar aqui ao final.
Assim, depois de muito pensar e ler sobre, talvez ninguém tenha conseguido expressar ou dizer o que realmente foi Pelé, ou tudo que ele significou. E é claro que não serei eu que direi. Então, adeus e obrigado, Rei.
https://youtu.be/ye4Zn6djQMY?t=60
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