Desde a Segunda Guerra Mundial, incontáveis conflitos entre judeus e palestinos ocorreram no Oriente Médio – em geral, na forma de horrendos massacres dos últimos pelos primeiros, em que mulheres e crianças foram brutalmente assassinados. No entanto, apesar de a ideologia sionista ser necessariamente fascista, houve um tempo em que judeus e árabes comungavam postos de trabalho pacificamente. Isso apenas se tornou impossível nos anos que antecederam o Estado de Israel, graças à pressão cada vez maior dos sionistas para que o Império Britânico entregasse todo o território palestino aos judeus.
O fato está registrado em duas obras do historiador israelense Ilan Pappé: “A Limpeza Étnica da Palestina”, da qual é o único autor, e “A Questão Israel-Palestina”, da qual é o editor de uma coletânea de textos.
Durante a década de 1920, várias tentativas foram feitas para que árabes e judeus se unificassem em uma mesma central sindical, mas a desconfiança mútua acabou inviabilizando tal plano. Em abril de 1946, após o desenvolvimento de ambas as classes operárias, como consequência da Segunda Guerra Mundial, aconteceu uma greve com 13 mil trabalhadores árabes e judeus dos setores de correios, telégrafos, construção civil, portos e serviços públicos.
“Esta greve geral paralisou a administração colonial britânica e ganhou o apoio de grande parte da opinião pública judaica e árabe. Os comunistas árabes e judeus naturalmente viram nela uma manifestação maravilhosa de solidariedade de classe, ‘um golpe contra a política de dividir para governar do imperialismo, um tapa na cara daqueles que defendem ideologias chauvinistas e propagam a divisão nacional’, mas alertou sobre os ataques contra ‘elementos derrotistas e reacionários, árabes e judeus’. Os jornais conservadores de ambos os lados foram menos entusiasmados” (A Questão Israel-Palestina. Ilan Pappé).
Os trabalhadores acabaram por conquistar muitas das suas reivindicações e a sua vitória deu um forte impulso ao movimento operário árabe. O ano seguinte testemunhou o rápido crescimento dos sindicatos e o ativismo dos trabalhadores, especialmente nas refinarias de petróleo, da qual se destacavam as instalações da Companhia Iraquiana de Petróleo, localizadas na cidade de Haifa.
“Nestes locais de trabalho, os trabalhadores árabes e hebreus cooperavam frequentemente na procura de salários mais elevados e de melhores condições, embora as relações entre a Histadrut [central sindical sionista] e os sindicatos árabes nunca tenham sido inteiramente isentas de atritos”.
Essa cooperação não duraria muito tempo. O final da Segunda Guerra, ao mesmo tempo em que levou ao desenvolvimento da classe operária árabe, também levou ao desenvolvimento das milícias fascistas sionistas, que, sob a liderança de David Ben-Gurion, estava levando adiante uma política de atentados terroristas contra o imperialismo britânico e de ataques violentos contra os árabes, como forma de pressionar para estabelecer o Estado de Israel em todo o território palestino. A violência dos sionistas elevaria a polarização política no país e, dessa forma, acabaria por minar qualquer tipo de colaboração entre trabalhadores judeus e árabes.
A cidade que melhor simboliza essa mudança é Haifa, considerada na época um símbolo de prosperidade do Mandato Britânico da Palestina.
“Os ataques judaicos na cidade”, conta Ilan Pappé, em “A Limpeza Étnica na Palestina”, aumentaram as tensões numa dos principais áreas onde judeus e árabes trabalhavam ombro a ombro: a refinaria da Companhia Iraquiana de Petróleo, localizada na cidade de Haifa. Tudo começou com uma gangue do Irgun [milícia sionista] jogando uma bomba contra um grande grupo de palestinos que estavam esperando para entrar na refinaria. O Irgun alegou que o ataque havia sido uma retaliação por um ataque anterior dos trabalhadores árabes aos seus colegas de trabalho judeus, um novo fenômeno em uma área industrial onde trabalhadores árabes e judeus geralmente uniam forças na tentativa de garantir melhores condições de trabalho para seus empregadores britânicos”.
Como resultado da ação dos sionistas, seis árabes foram mortos e dezenas ficaram feridos. Os trabalhadores árabes, então, reagiram, matando 41 judeus. No dia seguinte, a milícia fascista Haganá invadiu uma vila palestina e matou 60 palestinos.