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Ministro identitário

Silvio Almeida e seu discurso identitário

Silvio Almeida toma posse como ministro, mas seu discurso mostra é o retrato do identitarismo, uma ideologia incentivada pelo imperialismo.

Silvio Almeida

Os identitários estão em êxtase com a nomeação de Silvio Almeida como ministro dos Direitos Humanos. No entanto, ainda é cedo para comemorar, ainda mais se considerarmos a ligação de Almeida com o IREE, um instituto que tem relações com a Global Americans e o NED, duas entidades que são braços da CIA. No IREE, para quem não se lembra, trabalha ninguém menos que Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo golpista e eminência parda do governo Temer.

Silvio Almeida começa seu discurso de posse falando sobre o tempo para relembrar os nossos antepassados. Diz que somos o povo que, mais de um século antes do Pastor Martin Luther King, dizíamos, com Luiz Gama, ter um sonho: ver “o Brasil americano e as terras do Cruzeiro, sem reis e sem escravos!”. E disse que também irmãos e irmãs, jamais se enganem: a nossa força é, sobretudo, a força dos nossos ancestrais.

É importante frisar esse ponto porque a força do negro, do branco, do mestiço, e o Brasil é majoritariamente mestiço, não está em sua ancestralidade, mas na sua classe social. A classe trabalhadora é a única força capaz de vencer a burguesia e o imperialismo. A luta do negro, apartada da luta de classes, não passará de discurso moral e será um freio à emancipação do negro, pois com a classe trabalhadora dividida se enfraquece.

Temos visto isso há anos. Muito se comemorou a eleição de um homem negro à presidência dos Estados Unidos. No entanto, foi no seu governo que se tramou o golpe para derrubar Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil. Com a queda de Dilma, a situação da classe trabalhadora e especialmente dos negros, piorou de maneira brutal. Aqueles que festejaram Obama, hoje, se calam ou fingem de mortos.

O mesmo se deu com o cargo de Kamala Harris, uma mulher negra, à vice-presidência dos EUA, parte da esquerda pequeno-burguesa e identitária foi ao delírio, passando por cima do passado de Harris que o que mais fez pelos negros foi aumentar o rigor da lei contra eles. O governo Biden tem se mostrado o pior pesadelo para humanidade e para a população pobre dos Estados Unidos que está cada vez mais pobre. Os identitários, se calam, pois para eles o que importa é colocar determinadas ‘identidades’ em posições de poder. Como diz o próprio Almeida a respeito de si “homem preto, ministro de Estado ”.

Sim, as pessoas negras sofrem todos os tipos de preconceitos, no entanto, colocar meia dúzia de pessoas em altos cargos não resolve os problemas enfrentados pela esmagadora maioria da população. Essa medida serve apenas como uma cortina de fumaça.

O pecado original

Silvio Almeida recorre, mais uma vez, recorre à culpa que, segundo ele, carregamos pela escravidão: Como ministro de Estado, ouso dizer que o Brasil ainda não enfrentou a contento os horrores da escravidão, como outros traumas que se avolumam sobre nós, o que permite que a obra da escravidão se perpetue no racismo, na fome, no subemprego e na violência contra os homens e as mulheres pretas e pobres deste país.

Nós, trabalhadores, não temos nada a ver com a escravidão, não nos beneficiamos com isso. O racismo não é propriamente uma derivação da escravidão. Se deve ao fato de os negros terem ficado relegados a trabalhos subalternos. A mulher, por exemplo, é discriminada historicamente porque seu trabalho ficou restrito basicamente aos trabalhos domésticos. O nordestino, aqui no Sudeste, sofre discriminação porque ficou muito tempo preso aos trabalhos braçais.

A classe trabalhadora, que sofre com o desemprego, com a fome, não pode ser responsabilizada pela escravidão do período colonial brasileiro, seria um absurdo. Alguns insistem que a cor da pele traz algumas vantangens. Se for assim, somos obrigados a admitir, como tentou inferir Djamila Ribeiro, que os negros de pele mais clara teriam mais vantagens que os retintos.

A discriminação é um problema da divisão da sociedade em classes. Enquanto perdurar essa divisão, ou, em outras palavras, o capitalismo; enquanto não forem extintas as classes, haverá discriminação, por mais que nos comerciais de tevê se coloquem negros, índios, trans etc.

Punição

Uma das coisas que se destacou no discurso foi que todo o ato ilegal, baseado no ódio e no preconceito, será revisto por mim e pelo Presidente Lula, que sempre teve compromisso com a Democracia.

Os identitários vivem exigindo aumento de pena para quem cometer ‘crime de ódio’. O ódio, como se sabe, é uma coisa subjetiva. Uma briga entre torcidas poderá ser enquadrado no tal crime? Ora, no papel é muito bonito combater o ódio, no entanto, na vida real, nós já sabemos o que vai acontecer: é o pobre, a pessoa que não tiver recursos para contratar um advogado que vai pagar. Tem sido sempre assim, pois a Justiça tem a ver com a luta de classes. E o ódio, não vai diminuir um milímetro enquanto perdurar a divisão de classes.

Dividir e dividir

Adiante no seu discurso, Silvio Almeida enfatiza essa divisão que identitarismo vem semear na esquerda.

Trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós.

Mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós.
Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós.
Povos indígenas deste país, vocês existem…
E assim por diante.

Já estamos vendo surgir as contradições dentro do próprio movimento identitário, e isso tende a se alargar. Djamila Ribeiro, por exemplo, se ‘identifica’ como uma ‘feminista negra’. Não vai demorar nada e teremos a ‘feminista negra retinta’, a ‘feminista trans’, a ‘feminista cis…’. As feministas não querem ser ‘invisibilizadas’ pelas ‘pautas’ das ‘pessoas trans’ e, no resultado disso é que a luta de classes vai ficando escanteada, e é tudo o que a burguesia quer, pois isso enfraquece a esquerda e a classe trabalhadora.

Política imperialista

Como não poderia deixar de ser, o caráter repressivo do Estado é reforçado, por isso que Almeida Para que essa luta prospere, é preciso reconstruir as instituições e comprometer toda a Administração Pública com políticas de direitos humanos.

Silvio Almeida traz à tona a questão dos ‘desastres climáticos’ e que gostaria de enfatizar que, no novo Programa de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos, atenção especial será dada à situação dos defensores ambientalistas.

A questão climática, como sabemos, é uma derivação do finado ‘aquecimento global’, uma história que inventaram para punir manter no atraso os países em desenvolvimento. O tema da moda são as ‘mudanças climáticas’, uma política que o imperialismo utiliza, por meio de ONGs financiadas pela CIA, para dificultar que países como o Brasil, Nicarágua etc., façam uso de seu território. No caso da Nicarágua, estão tentando impedir a construção do canal interoceânico, que rivalizará com o Canal do Panamá. No nosso caso, querem impedir que se desenvolva a região Amazônica, área extremamente cobiçada pelas potências imperialistas.

A esquerda identitária tem pressionado bastante o governo Lula e já estão colocando diversas figuras que defendem essa ideologia, o que significa quase uma interferência externa no governo que se inicia. A Rede Globo, por exemplo, tem sido só elogios a Silvio Almeida, inclusive recomendando a leitura de seu livro “Racismo Estrutural”. Já sabemos o que isso significa…

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