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Arthur Cesconetto

Dirigente nacional do Partido da Causa Operária e da Aliança da Juventude Revolucionária. Responsável pela organização dos comitês de juventude em Santa Catarina e estudante da Universidade Federal de Santa Catarina.

Um debate

Será a Rússia um país imperialista?

Só no campo militar a Rússia manifesta o seu poder, ainda que este aspecto isolado seja insuficiente, segundo Lenine, para tipificá-lo como estado imperialista

No artigo As mudanças na situação internacional e a crítica da caracterização da Rússia como país imperialista, de Ángeles Maestro, que foi reproduzido na edição de hoje no Diário Causa Operária (DCO), li um trecho especialmente importante porque, com os dados, comprova-se como a Rússia é um país atrasado. E não imperialista, como setores da esquerda pequeno-burguesa procuram afirmar

A fim de destacar esses dados, reproduzo, logo abaixo, trecho do artigo em questão aos nossos leitores que deixa evidente qual é a verdadeira situação econômica da Rússia. Confira:

Será a Rússia um país imperialista? (Por Ángeles Maestro)

A partir de abordagens materialistas, a atribuição do caráter de imperialista a um Estado exige uma análise concreta e fundamentada das suas características, especialmente quando não se trata de um estudo teórico e sim das bases sobre as quais se erige a posição política perante uma guerra de grandes dimensões como a atual.

Esta caracterização, realizada, insisto, a partir da afirmação de posições leninistas, não foi contrastada com a análise de Lenine em “O imperialismo, fase superior do capitalismo” no qual se especificam com clareza os princípios básicos que definem um Estado capitalista como imperialista e que são, sem dúvida, bem conhecidos por organizações marxistas-leninistas. Tais critérios são:
1- A concentração da produção e do capital e a criação de monopólios.
2- Os bancos e seu novo papel.
3- A fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação do capital financeiro e da oligarquia financeira.
4- Importância destacada da exportação de capitais.
5- Grandes monopólio capitalistas internacionais repartem o mundo entre si.

Lenine, com base nestes princípios, analisou e comparou os dados concretos que permitiam caracterizar como imperialistas as grandes potências do momento: Alemanha, França e Grã-Bretanha. Diversos autores marxistas, como Renfey Clark, Roger Annis (2016) e Stansfield Smith (2019), realizaram análises importantes, bem documentadas, sobre as características do Estado russo. Pude atualizar boa parte delas; outras são anteriores à intensificação das sanções contra a Rússia, que sem dúvida não contribuíram para deteriorar e sim, muito pelo contrário, para melhorar as posições que aqui se assinalam:

  1. As grandes empresas russas entre os grandes monopólios internacionais.
    Os dados da Forbes para 2022 são os seguintes: das 10 maiores empresas, 5 são dos EUA, 3 da China, 1 da Arábia Saudita e 1 do Japão. Entre as 100 primeiras empresas, a Rússia tem só 2, Gazprom e Rosneft, de propriedade estatal maioritária, nos postos 49 e 81. E em 2019 tinha 4 nos postos 43, 47, 73 e 98.
    As vendas em 2018 das 25 companhias russas incluídas no ranking das 2.000 maiores companhias do mundo, (em 2022 haviam-se reduzido a 23) implicavam só 1,45% do total.
  2. Produção russa de produtos manufaturados.
    Em 2015, a China ocupou o primeiro lugar com 20% da produção mundial e os EUA o segundo com 18%. A Rússia ocupou o posto número15, por trás da Índia, Taiwan, México e Brasil, com só 1% do total mundial.
  3. Exportações russas, fundamentalmente de matérias-primas.
    Os países imperialistas exportam fundamentalmente mercadorias de alta tecnologia e de grande valor acrescentado, ao passo que os países menos desenvolvidos exportam matérias-primas aos preços determinados pelas grandes potências no mercado mundial.
    Segundo o Banco Mundial, no ranking geral de exportações, a China ocupa o primeiro lugar, seguida dos EUA. A Rússia tem o posto 17 e 82% das suas exportações são matérias-primas, enquanto os produtos tecnológicos, incluídos os militares, só representaram 85.
  4. O papel internacional da banca russa.
    O principal banco russo ocupa o lugar 66 entre os maiores bancos do mundo. Os ativos do sector bancário russo representam só 75% do PIB, quando nos países mais desenvolvidos costumam superar os 100% do PIB. Por outro lado, na Rússia predominam os bancos pequenos, maioritariamente estatais, procedentes de estruturas soviéticas.
  5. O papel da Rússia na exportação de capitais.
    Uma das características de um país imperialista, segundo Lenine, é a exportação de capitais. Na Rússia, a “exportação de capitais” adquiriu a forma fundamental de fuga de capitais. Desde que Putin acedeu ao governo em 1999, até 2018, calcula-se que a saída de capitais russos seja superior a um milhão de milhões de dólares. O Banco Central da Rússia calculou que a fuga de capitais em 2018 ascendeu a 66.000 milhões de dólares.
    Por outro lado, no ranking das 100 maiores empresas não financeiras, classificadas pelos seus ativos no estrngeiro – elemento chave para avaliar a exportação de capital financeiro – figuram 20 corporações dos EUA, 14 da Grã-Bretanha, 12 da França, 11 da Alemanha, 11 do Japão, 5 da Suíça e 5 da China. Nenhuma delas é russa.
    Na participação na riqueza financeira e não financeira do mundo, os EUA têm 31%; dos países restantes, só a China tem mais de 10%, ou seja, 16,4%. A Rússia representa uns exíguos 0,7%.
    A partir destes dados, a única conclusão possível é que na exportação de capitais com fins produtivos a Rússia não ocupa um papel destacado no cenário mundial e é impossível qualificá-la como país imperialista.
  6. O papel da Rússia na “divisão do mundo entre grandes potências”.
    Este último aspecto, na hora de definir as características imperialistas de um Estado, pode ser analisado a partir de três pontos de vista: os orçamentos militares, a exportação de armas e as bases militares no estrangeiro.

Só no campo militar a Rússia manifesta o seu poder, ainda que este aspecto isolado seja insuficiente, segundo Lenine, para tipificá-lo como estado imperialista. A este respeito, é preciso destacar que o poderio militar da Rússia capitalista, sobretudo quando a desenvolvimento armamentístico e sobretudo no que se refere a armamento nuclear, procede da época soviética e são empresas públicas.

É preciso assinalar que tanto na época da URSS – na qual seu viu obrigada a participar numa descomunal corrida armamentística – como depois, a Rússia esteve constantemente ameaçada pelo imperialismo e pela NATO.

Contudo, ainda que a Rússia seja um dos principais países exportadores de armas do mundo, as exportações russas neste campo são menos da metade das dos EUA. Enquanto as exportações de armas dos EUA aumentaram 25% entre 2013 e 2017, as da Rússia reduziram-se 7,1% no mesmo período.

Quanto às bases militares no estrangeiro, a Rússia tem 15 e só duas fora de países da ex-URSS, Vietname e Síria. Os EUA têm mais de 800 bases no estrangeiro.

Quanto ao orçamento militar, os dados oficiais dos EUA para 2023 indicam a cifra de 860.000 milhões de dólares. Este montante ascende a mais um milhão de milhões de dólares se somarmos o de todos os países da NATO. O orçamento militar da Rússia para 2022 foi de 61.700 milhões de dólares, menos de 10% do dos EUA e pouco mais de 5% do conjunto de países da NATO.

A análise do Estado russo, nos termos propostos por Lenine, situam-no muito atrás de outras grandes potências capitalistas e nada comparável à posição da URSS antes do seu afundamento.

A Rússia é agora um país capitalista de terceiro ou quarto nível, com a única exceção da sua capacidade militar, em boa parte herdada da época soviética e fortalecida agora diante da evidência de um ataque da NATO, que se vem gestando há anos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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