A quatro meses do início da Copa do Mundo Feminina que será disputada na Austrália e Nova Zelândia, a Seleção Brasileira estreou com vitória no She Believes Cup, um torneio amistoso disputado nos Estados Unidos. Na quinta-feira, 16, o Brasil venceu o Japão por 1 a 0 no Estádio Orlando City.
O jogo marcou o retorno de Marta aos gramados. A craque brasileira e melhor jogadora do futebol feminino há quase 20 anos ficou 10 meses tratando uma lesão no joelho, mas já demonstra esta apta a liderar a Seleção na Copa do Mundo. Foi ela que realizou a excelente jogada que levou ao gol da artilheira Debinha, no segundo tempo.
O escrete nacional feminino volta a campo no próximo domingo, 19, contra a seleção do Canadá. Na quarta-feira, 22, as brasileiras enfrentarão a seleção dos Estados Unidos, atual campeã mundial.
No seu retorno aos gramados, Marta se emocionou ao dar entrevista ao final da partida. “Foi um desafio para mim, dia após dia, complicado. São 22 anos jogando profissionalmente, é a primeira vez que eu fico bastante tempo longe. Sofri muito, mas a recompensa é sempre maior quando você se dedica. Entrar no jogo, a gente precisava da vitória, Deus me abençoou e eu encontrei essa garotinha aqui para colocar a bola para dentro”, afirmou Marta, em lágrimas, abraçando Debinha à beira do campo.
“Estou muito feliz pelo retorno, é só um recomeço. Sei que eu tenho que trabalhar muito para voltar a ser aquela Marta que tem os piques muito mais rápidos do que esses”, completou.
Uma polêmica sobre o futebol feminino
Na última semana, o futebol feminino entrou no centro das discussões esportivas. Viralizou nas redes sociais uma entrevista da jornalista Mariana Spinelli, apresentadora da ESPN Brasil, ao Flow Podcast de julho do ano passado. Ela disse que o motivo de alguns homens rejeitarem o futebol feminino é exclusivamente por preferência de gênero.
“Os caras que não gostam de futebol feminino, não é que eles não gostam de futebol feminino, eles gostam de ver homens jogando. Eu gosto de futebol. E o que você gosta no futebol? Gol, ataque contra defesas, um jogo maneiro… Isso é futebol”, iniciou, no vídeo que gerou a polêmica.
“Agora, se você é contra o futebol feminino, é que você gosta de ver homens. Para mim é só essa explicação. ‘Eu só gosto de homens’, mas não tem problema, não é isso que estou falando. Para mim, o argumento de não gostar de futebol feminino, é que você tem preferência por gênero”, concluiu.
Os argumentos de Spinelli comprovam a política errada do identitarismo. A jornalista tem em vista explicar a impopularidade do futebol feminino em relação ao masculino por uma questão de gênero. No entanto, a questão não tem nada a ver com preconceito. Ou, melhor dizendo, se existe o fator do preconceito, o mais importante é técnico.
É um fato para qualquer um que acompanha futebol que o nível do futebol feminino está muito abaixo — inclusive de divisões de base do masculino. Jogadores como Marta são uma raridade. Além disso, o esporte feminino é algo relativamente novo. Ou seja, não existe uma tradição da população de acompanhar o esporte.
O futebol feminino, por ser algo novo, é totalmente dependente dos recursos financeiros, do investimento. Países capitalistas atrasados, como o Brasil, por exemplo, não têm condições de competir contra os grandes países imperialistas — a menos que haja muito investimento. É isso que explica que os Estados Unidos, um país totalmente sem tradição no futebol, tenha quatro Copas do Mundo Feminina. Noruega e Japão, outros países sem tradição, têm uma Copa cada um.
O Brasil, por outro lado, o país com o melhor futebol do mundo, nunca conquistou uma Copa. No futebol feminino, a lógica do futebol masculino não existe. O futebol no Brasil é um esporte de massas, o que permitiu um amplo desenvolvimento do esporte, elevando-o a um nível nunca visto. Elevando um país pobre à maior potência do futebol mundial.
Isso é um processo de anos, e nunca vai acontecer com o futebol feminino. O futebol feminino brasileiro é influenciado, naturalmente, pelo futebol arte, o que permite o surgimento de jogadoras como Marta. No entanto, surgiu no momento em que os grandes países capitalistas já dominam totalmente o futebol. Para as mulheres brasileiras, a conquista da Copa do Mundo é ainda mais difícil do que para o futebol masculino. O investimento é fundamental.