As relações do Líbano com o Brasil são enormes. De acordo com alguns censos, que classificam brasileiros descendentes de libaneses como libaneses, o Brasil teria uma população de libaneses maior que o próprio Líbano! Em relação ao futebol, é também conhecido que os árabes, em geral, torcem para a Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo. No entanto, algo que é menos conhecido é que o secretário-geral do Hesbolá, Hassan Nasseralá, já declarou que ele, e boa parte dos membros do seu partido, torcem para a Canarinho.
A declaração foi feita em 2014, quando o dirigente libanês foi entrevistado pelo jornal Al-Akhbar. Ele afirmou: “gosto de futebol e jogava como diversão com os amigos, antes e depois de colocar o turbante dos religiosos xiitas”. Nasseralá é uma liderança religiosa xiita além de ser um importante dirigente político, algo comum no Oriente Médio. Na mesma entrevista, ele também destacou que torce para a Seleção Brasileira e, algumas poucas vezes, chegou a torcer para a Argentina, “sobretudo na época de Maradona, pois adorava seu jogo”.
Ele então declarou que estava muito ocupado com política para acompanhar a Copa do Mundo de 2014. O Hesbolá naquele momento estava engajado na guerra contra o Estado Islâmico que acontecia na Síria. “Não pude acompanhar a última Copa do Mundo por causa da situação no Líbano, Síria, Gaza e Iraque”, mas conseguiu ver uma parte da final “mais pelo filho do que pela partida em si”. Nessa partida, torceu para a Argentina contra a Alemanha.
Quando perguntado se não torceu para o Brasil de forma geral, ele afirmou: “na última Copa do Mundo, todo mundo dizia que eu torcia para o Brasil, mas na realidade eu não torci para ninguém. Em nosso grupo, Hesbolá, há muito tempo as pessoas geralmente apoiam o Brasil, pois gostam do estilo de jogo”. Aqui se destaca um fator de primeira importância, o estilo do futebol brasileiro, o futebol arte, é admirado pelos oprimidos do mundo justamente por ter surgido de um povo oprimido.
Um fator interessante é que há inclusive uma identificação visual entre o Hesbolá e a Seleção Brasileira. As cores do partido libanês são o amarelo com detalhes verdes, muito semelhantes a tradicional camisa dos jogadores brasileiros, a famosa canarinho. Isso dá um toque especial à torcida, pois em eventos para assistir às partidas da Copa do Mundo as decorações partidárias e de homenagem ao Brasil se compõem de forma agradável.
As imagens da população libanesa torcendo para a Seleção Brasileira durante as Copas mostram que a classe operária é internacional e o futebol faz a sua união. Por um mês, a cada quatro anos, as favelas de Beirute, capital do Líbano, se transformam no Rio de Janeiro. Basta ver o vídeo do “funeral” realizado para a Seleção da Alemanha em 2018. Sem uma descrição, todos acreditam que certamente são imagens da Rocinha ou do Jacarezinho, até o censo de humor é semelhante ao dos brasileiros.
Brazil fans in Lebanon held a funeral for Germany 🤣🤙🏽🇧🇷 @CBF_Futebol #WorldCup #BRA pic.twitter.com/fMBwdhLAoU
— Sheikh Abu Dhabi (@sheikhabudhabi) June 28, 2018
O caso é uma demonstração da força do futebol brasileiro. O Brasil se coloca no esporte mais popular do mundo, o esporte da classe operária, como a liderança na luta contra o imperialismo. Foi com a ascensão do futebol arte, na década de 1950, que teve como sua principal figura, Pelé, que os brasileiros se mostraram superiores aos europeus. O Brasil derrotou a Itália em 1970, tornando-se o maior campeão do mundo, e até então não há sinais de que os brasileiros perderão seu título de reis do futebol. Em 1970, o Líbano ainda não estava em Guerra. Assim, Nasseralá, que tinha 10 anos, certamente viu o espetáculo que foi Seleção Brasileira.
O fato de a Seleção Brasileira ser o time de futebol com a maior torcida do mundo é comprovado a cada quatro anos quando acontece a Copa do Mundo. Nas últimas, com o advento da internet, rapidamente se espalharam vídeos de torcidas em diversos países, até mesmo na Palestina. Mas o fato de um dirigente político de umas das principais organizações anti-imperialistas do Oriente Médio torcer para o Brasil evidencia que torcer para a Seleção Brasileira é uma demonstração de luta dos oprimidos contra o imperialismo. Todas as vezes que um europeu é derrotado, seja no campo de batalha ou no campo de futebol, os oprimidos comemoram.