Izadora Dias

Izadora Dias é militante do Partido da Causa Operária em São Paulo, coordenadora do coletivo de mulheres Rosa Luxemburgo e integrante da Secretaria de Organização do PCO. É militante anti-imperialista e anti-identitária. É estudante da USP e colunista do Diário Causa Operária.

Só para quem pode

Se for rico, fantasia de índio tá “liberado”

Ministra dos Povos Indígenas autorizou e elogiou fantasia de índio da cantora pop Anitta

Desde que o imperialismo começou a fomentar o identitarismo, em toda época de Carnaval a imprensa faz questão de divulgar a cartilha de fantasia permitidas e não permitidas para os foliões aproveitarem a festa. Dentre tantas proibidas, a de fantasia de índio tem destaque. Já que defender o índio de mentira está na moda, é o momento certo para a burguesia fazer demagogia.

A principal questão apresentada, é que ao se fantasiar de índio, as pessoas que não são indígenas, além de estarem se apropriando da cultura desses povos, usa os adereços sem de fato saber qual é o seu significado e demonstrando um total desrespeito por essa população, o que finalmente justificaria todas as violências que esses povos sofrem e sofreram durante toda a história da humanidade.
Não faz muito sentido, mas é a lógica dessa ideia que defende a censura contra fantasias de Carnaval.

Mas um acontecimento no Carnaval desse ano chamou atenção. A cantora Anitta, em uma das suas apresentações, usou uma fantasia em referência a Cabocla Jurema, uma entidade espiritual cultuada na umbanda, através de uma roupa composta por miçangas confeccionando por mulheres indígenas do povo Guajajara da Aldeia Lagoa Quieta, do Maranhão. A cantora, em publicação nas suas redes sociais, disse que se tratava de uma homenagem a essa mulher.
O ato da cantora foi elogiado, e pelo que parece, autorizado previamente por Sônia Guajajara, ministra dos povos indígenas.

“Uma forma de valorizar os trabalhos das artesãs, das artistas indígenas. É moda, é arte, é cultura e é isso que a gente precisa” disse Guajajara.

O que podemos concluir com esse acontecimento, é que a campanha contra o uso da fantasia de índio é uma farsa, ou seja, quando é uma pessoa famosa, rica e amiga da ministra, essa pessoa não só pode se fantasia de índia, como também consideram que é uma verdadeira homenagem.

Melhor dizendo, caso você seja uma pessoa da população, um anônimo folião, a polícia identitária te impedirá de usar adornos que remetem aos indígenas, pois você está desmoralizando os índios, ignorando todo o seu sofrimento, e a sua fantasia de tanga e uma tiara com penas é a verdadeira culpada pela realidade miserável que a maioria dos índios brasileiros se encontram. Já quando uma grande cantora pop aparece dançando com os adereços que remetem uma liderança indígena para um gigantesco público, é homenagem.

Fica evidente que essa censura é só mais uma repressão contra a população, não trata de lutar pelos direitos dos povos indígenas, nem de resolver os seus problemas reais. É puro demagogia e oportunismo de elementos que dizem representar a luta do índio.
Essa política não só não contribuem para a luta destes povos, como disfarça e tira de evidência os verdadeiros problemas dos indígenas, como a falta de recursos básicos para viver, fome, doenças, a constante violência promovida pelos latifundiários, e tantos outros problemas muito mais significativos do que quem usa ou não usa uma fantasia durante os dias de Carnaval.

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