Sem perspectiva de fim, a Guerra na Ucrânia vem produzindo desdobramentos geopolíticos dignos de uma nova ‘ordem mundial‘. Dentre eles, a aproximação formal e declarada entre China e Rússia merece atenção por indicar os movimentos internacionais e as mudanças nos eixos políticos e econômicos, especialmente do desenvolvimento, no mundo.
Em fevereiro de 2022, a amizade entre estes dois países causou espanto ao ocidente. Uma carta entre os presidentes Xi Jiping e Vladimir Putin reforçou os laços fraternais entre os países e apresentou ao mundo alternativas ao domínio norte-americano. Após este evento, se seguiram inúmeras iniciativas de acordos, visitas e reforço dos BRICS, inclusive, com a liderança do Brasil em destaque. Na área militar, a parceria é antiga, mas tomou novos rumos diante da frente formada pela União Europeia e os EUA contra a Rússia.
Recentemente, Rússia e China realizaram testes militares com navios de guerra na área do Ásia-Pacífico em respostas às movimentações originadas pelo acordo militar que os EUA fizeram com a Austrália e Reino-Unido para a segurança da área do Indo-Pacífico. Mesmo não sendo uma contraofensiva declarada, China e Rússia mostram que estão atentas à movimentação desses países. Segundo o informe publicado sobre a missão Rússia-China na região da Ásia-Pacífico, o objetivo foi “fortalecer a cooperação naval entre a Rússia e a China, manter a paz e a estabilidade na região, monitorar a área marítima e proteger as instalações da atividade econômica marítima”.
Outro país envolvido nesta relação tensa entre Rússia-China e os EUA é o Japão. Captado via o acordo militar denominado QUAD, que também envolve a Índia e a Austrália (mais uma vez!), o Japão foi recrutado pelo imperialismo americano para proteger a região do Indo-Pacífico. Os objetivos são os mesmos do informativo da missão Rússia-China recém-realizada: proteger a áreas e garantir as rotas econômicas. Porém, sabemos que se trata de uma demonstração de força e provocação aos dois países, dentre os quais, a uma vítima histórica do imperialismo nipônico, que é a China.
O fato é que as movimentações estão ultrapassando as esferas econômica e política e apontam para o conflito bélico. A Ucrânia virou pretexto para infundadas medidas dos EUA e da União Europeia e dos seus parceiros, Japão e Austrália, para forçar recuo, desistência e até rendição da Rússia. Nesse caso, sabemos que não se trata de uma rendição qualquer. O objetivo é a “balcanização” da Rússia para definitivo domínio dos EUA e a subserviência da China à moeda, modelo de relação econômico-financeira e política americana. Ou seja, um será retalhado e dominado e o outro explorado economicamente até segunda ordem do imperialismo.
A missão China-Rússia no oceano Pacífico cria mais um obstáculo ao desejo de domínio do imperialismo nessa região. Quer mar, terra e ar a qualquer preço! Por outro lado, Rússia e China vêm respondendo com cautela e precisão às investidas militares dos EUA e seus aliados. Isto é fundamental para a proteção dos países diante das investidas do imperialismo, que vê o quão esse arranjo de dominação da Europa Oriental e Ásia encontrou adversários à altura da situação.