“Gostaria de enfatizar que a Rússia valoriza a posição de equilíbrio do Brasil na atual situação internacional, sua rejeição a medidas coercitivas unilaterais tomadas pelos EUA e seus satélites contra nosso país e a recusa de nossos parceiros brasileiros em fornecer armas, equipamentos militares e munição para o regime de Kiev”.
As palavras acima são do vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, e foram ditas em entrevista ao portal TASS, principal agência estatal de notícias russa. Elas se referem à posição do governo brasileiro em prol de um “clube da paz”, composto por nações não envolvidas na guerra, como Índia e China, para chegar a uma resolução do conflito.
A declaração atesta porque o imperialismo norte-americano ficou tão incomodado com a posição brasileira, a ponto de que Victoria Nuland, subsecretária de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, ter dito que o Brasil precisava se colocar no lugar da Ucrânia.
Embora tenha assinado documento conjunto em visita a Joe Biden, Lula tem se colocado numa posição de independência em relação à política do imperialismo. Conforme expressa Nuland, o desejo dos norte-americanos é que os países estejam alinhados com a OTAN, contra a Rússia.
Lula se recusou a enviar armas para a Ucrânia, a pedido da Alemanha, o que desagradou os Estados Unidos. Quanto a isso, é importante lembrar que a decisão do Brasil não tem um peso pequeno. Só a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) é líder mundial em munição para armas portáteis e uma das principais fornecedoras da OTAN. A decisão de Lula, portanto, coloca em risco a própria posição do País no mercado de armamentos.
Por isso, o governo russo, por meio de seu chanceler, afirma valorizar a posição de Lula: “podemos ver como Washington está pressionando o Brasil. Essa postura soberana merece respeito”, afirma ele.
A posição do governo brasileiro, que à primeira vista, para os analistas inexperientes, pareceu uma política contra a Rússia, na prática, vai contra os interesses dos norte-americanos, cuja política no momento é de pressão total contra os russos. Mais ainda, os russos parecem saber que o governo brasileiro, ao propor uma política de paz aparentemente “neutra”, ele está favorecendo as posições da Rússia na guerra, que tem grande vantagem sobre os ucranianos.
A declaração do chanceler revela que o governo russo está muito consciente do significado da política de Lula:
“Tomamos nota das declarações do presidente do Brasil sobre o tema de uma possível mediação, a fim de encontrar caminhos políticos para evitar a escalada na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional com base no multilateralismo e considerando os interesses de todos os atores. Estamos examinando as iniciativas, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil e, claro, levando em consideração a situação ‘no terreno'”
Ao chamar a política de mediação do governo brasileiro de equilibrada e considerar a proposta, o governo russo sabe que tal política seria, na prática, uma derrota do imperialismo.
A declaração é muito significativa, pois esclarece o panorama confuso que se abriu com a chegada de Lula ao governo e sua política aparentemente ambígua nas relações internacionais. Lula procura uma posição conciliadora, é tradicional, mas no caso em questão essa é uma posição que, embora não bate de frente com o imperialismo, desagrada-o ao procurar relativa independência.