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III Conferência Nacional

Rui Pimenta: o imperialismo trava guerra econômica contra o País

Confira, na íntegra, a fala do presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, na III Conferência Nacional dos Comitês de Luta

O momento tão aguardado chegou: a III Conferência Nacional dos Comitês de Luta. Ao final do primeiro dia, realizou-se a mesa que discutiu a “economia e a soberania nacional”.

Contando com a participação de Rui Costa Pimenta, Roberto Requião (PT-PR) e Rodrigo Ávila (Auditoria Cidadã da Dívida), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) abriu o debate com uma discussão acerca do atual estado econômico do Brasil. “Não é uma mera crise, é uma guerra econômica contra o País”, explica Rui.

O Diário Causa Operária transcreveu a fala do companheiro Rui e a disponibiliza, abaixo, na íntegra. Confira:

Rui Costa Pimenta, da III Conferência Nacional dos Comitês de Luta

O presidente Lula foi eleito tendo como uma das suas bandeiras a industrialização do país. É um problema que está colocado há muito tempo para o Brasil, mas eu queria dar um ângulo um pouco diferente daquele que a maioria das pessoas dá esse problema.

Quero deixar absolutamente claro que o problema do Brasil não é um mero problema econômico. O problema que nós estamos enfrentando no Brasil, que é o mesmo problema que a esmagadora maioria senão a totalidade dos países de capitalismo atrasado estão enfrentando: é uma verdadeira guerra econômica contra o País.

Os seis primeiros meses do governo Lula colocaram muito em evidência esse problema quando você tem, por exemplo, um presidente do Banco Central que contra toda a racionalidade possível do ponto de vista econômico, se recusa a abaixar aquela que é a mais alta taxa de juros do mundo, dá para perceber que a intenção dele é criar um entrave a qualquer tipo de desenvolvimento econômico.

Por que existe essa guerra econômica? A partir da década de 1970, quer dizer, lá se vão 50 anos, o capitalismo entrou numa crise definitiva. E isso deu um lugar a uma política consciente, uma política deliberada de destruição de uma boa parte da economia mundial para recuperar a lucratividade no capital. O mundo enfrentava naquele momento – enfrenta até hoje – uma crise que é uma crise de excesso de produção.

Excesso de produção nós temos que entender isso no sentido econômico: não é que se produz mais do que as pessoas precisam, mas se produz mais do que as pessoas podem efetivamente consumir, têm condições de pagar, de comprar. É um problema das próprias características do capitalismo.

Com essa política neoliberal, alguns países tiveram a sua economia completamente destruída. É o caso da antiga União Soviética, atual Rússia. Muita gente que fala em imperialismo russo não entende que os russos sofreram talvez o maior retrocesso econômico de um país fora de uma guerra total. A indústria russa foi reduzida a uma pequena porcentagem do que era. Por que fizeram isso? Isso foi feito por economistas norte-americanos e europeus que tomaram conta da economia russa quando a União Soviética entrou em colapso e eles destruíram conscientemente essa economia. Por quê? Para que as indústrias europeias e norte-americanas tivessem um novo mercado para tomar conta.

A mesma coisa aconteceu na Alemanha Oriental, na Polônia, na maioria dos países do antigo bloco soviético. Isso, companheiros, não é uma crise econômica, isso é uma guerra econômica. É uma política intencional de liquidação da economia dos países.

O Brasil ocupa, nesse sentido, uma posição muito especial porque o Brasil, dos países não desenvolvidos, é um dos mais desenvolvidos do mundo, um dos mais industrializados e, portanto, a fúria com que o capital estrangeiro ataca a economia nacional é maior do que em qualquer outro lugar.

Na Rússia, a economia foi destruída. No Brasil, as privatizações transformaram-se em fonte de lucros extraordinários para o capital estrangeiro. O País está completamente dominado por uma política que quer ver que o Brasil seja um país exportador de matéria-prima, que o Brasil seja um bom mercado à exploração de determinados negócios – a eletricidade, o petróleo, a indústria automobilística e outros setores -, tudo que vai servir para aumentar os lucros de companhias estrangeiras.

Para levar adiante dessa guerra econômica, o principal meio que tem sido utilizado são os golpes de Estado, muitas vezes disfarçados através das chamadas revoluções coloridas: você cria uma série de ONGs financiadas pelos grandes capitalistas do mercado financeiro internacional, essas ondas criam um movimento, derrubam o governo dando a impressão de que o governo foi derrubado por um movimento popular – mas não é verdade, isso foi um golpe de Estado. Os abutres do capital financeiro tomam conta do governo e impõe uma política de terra arrasada.

Isso aconteceu no Brasil também. O golpe de 2016 foi um golpe organizado de fora do País pelo imperialismo e um dos seus objetivos foi destruir uma parte da economia nacional, que eles efetivamente destruíram. Hoje, por exemplo, eu li uma matéria no Brasil 247 que fala das confissões, das gravações que foram reveladas da operação spoofing sobre a Lava Jato e, numa dessas gravações, fica absolutamente claro que os norte-americanos exigiram a quebra das companhias construtoras, das companhias de engenharia brasileiras.

Alguém pode falar o seguinte: ‘Mas que importância tem isso? São empresas capitalistas’. Tudo bem, isso é fato. Mas é uma empresa capitalista nacional. Essas empresas foram substituídas no Brasil por empresas internacionais, estão mandando dinheiro para fora, estão arrancando o dinheiro daqui e mandando para fora.

E os técnicos brasileiros que atuavam na Odebrecht e em outras grandes construtoras, agora estão trabalhando para empresas estrangeiras. Isso foi feito de propósito. O que eles fizeram com a privatização da Eletrobrás foi outro resultado do golpe de Estado de 2016, a política do teto de gastos é outro resultado dessa política, o aprisionamento do orçamento federal também é uma operação que é feita em conjunto entre agentes nacionais e internacionais. A maioria do orçamento do Estado, que poderia ser usado para melhorar a vida do povo brasileiro, desenvolver a economia, criar empregos, é enviada para os bancos, para o mercado financeiro parasitário.

Então os golpes de Estado foram um meio fundamental para aprofundar esse tipo de espoliação da economia nacional.

Eu não vou entrar em muitos detalhes, mas eu acho que é importante que fiquemos com a ideia de que o que nós estamos enfrentando aqui não é uma crise, não é que a economia do País não funciona bem. Nós sabemos que a economia capitalista nunca funciona bem. Ela tem altos e baixos, mas não é esse o problema. O problema é que o País é alvo de uma guerra econômica, uma guerra econômica que visa a liquidar a indústria nacional, fazer retroceder o Brasil aos níveis de antes da Segunda Guerra Mundial à desnacionalização dos setores lucrativos da economia e nós ficamos aqui como um mercado para consumir determinadas coisas.

Por exemplo, o mercado interno brasileiro de consumo de energia elétrica, de petróleo, de automóveis e de uma série de coisas, é um dos grandes mercados mundiais Então a nossa função aqui vai ser essa: comprar aquilo que os estrangeiros tiverem para vender. E aí, em troca, nós vamos vender soja, minérios de ferro, petróleo bruto e assim por diante.

Nós temos que prestar muita atenção, tendo em vista esse problema da guerra econômica, nesse problema da ecologia. É um assunto espinhoso porque logo vão aparecer as pessoas gritando histericamente que tem que salvar o planeta. O planeta terra está para desaparecer já faz uns 80 anos mais ou menos. Nós vimos aqui que, de dentro do governo Lula, veio um veto à exploração do petróleo na Margem Equatorial. Não tem motivo nenhum para isso, nenhum. O perigo ecológico é mínimo, é, para não dizer, que não é nenhum, um obstáculo que é colocado ao desenvolvimento nacional.

Enquanto você tem mais de 50 milhões de brasileiros no Bolsa Família, você tem uma ministra de um governo de esquerda, que é a senhora Marina Silva, que bloqueia a exploração de petróleo. Várias pesquisas já apontaram que o Brasil provavelmente tem uma reserva de petróleo equivalente ou maior do que a da Venezuela, que é a maior do mundo. A Venezuela são nossos vizinhos justamente ali naquela região, o Brasil é um país muito maior que a Venezuela e é bem provável mesmo que ele tenha essas reservas de petróleo.

Só que, há um veto. De onde que vem esse veto? Vem do capital estrangeiro. Todo mundo sabe que a senhora Marina Silva é financiada pelo senhor George Soros. Talvez o maior erro do governo Lula na escolha do ministério, e nós estamos vendo agora já os efeitos. Há vários problemas no governo, mas esse talvez seja o maior porque incide diretamente sobre a economia nacional.

Então esse problema da ecologia, que nós não temos tempo para discutir aqui, é preciso fazer toda uma reavaliação porque isso não é o que parece. Isso tem uma longa história, essa história, da síndrome do fim do mundo, de que o mundo vai acabar – e vai acabar por quê? Porque vão poluir, vão cortar árvores na Amazônia, mas ninguém fala que a poluição mundial é feita pelos grandes países industrializados. É tudo uma manipulação, é um debate que precisa ser feito.

O fundamental que nós temos que entender é o seguinte: o governo Lula, até o momento, procura superar suas dificuldades através de uma série de manobras institucionais. Eu não vou condenar aqui o Lula por fazer essas manobras institucionais porque ele tem muito pouca margem de manobra fora disso. No entanto, é preciso deixar uma coisa absolutamente clara. Diante da gravidade dos problemas que nós estamos enfrentando, nenhuma manobra institucional, nenhum acordo com a direita no Congresso Nacional vai resolver minimamente o problema. Se nós adotarmos esse ponto de vista, nós estamos enganando todo mundo.

O Lula não vai resolver o problema, ele é um político habilidoso, ele é um verdadeiro malabarista, mas por mais malabarismo que ele faça, ele não vai resolver isso daí. Isso só pode ser resolvido por um amplo movimento de massas. E, nessa Conferência, nós temos a ideia de que nós precisamos colocar na rua uma série de campanhas políticas fundamentais. Uma delas – vou dar apenas como exemplo – é que nós precisamos colocar que o petróleo brasileiro precisa ser explorado, todo ele. Tem que deixar de lado esse negócio da ecologia. E o petróleo precisa ser nacionalizado 100%.

Nós estamos sendo vítimas aqui de uma enorme fraude. Eu acho que o Brasil deve ser o único país no mundo onde aparece um governo que fala “Não vou explorar o petróleo”. Apesar de não ter sido definido, o fato de que a discussão tenha se colocado assim já é absurda.

É uma coisa que opõe os interesses da maioria da população aos interesses do capital estrangeiro. É assim que está colocado o problema. O capital nacional, como nós sempre afirmamos, é, primeiro, na melhor das hipóteses uma força insignificante diante do imperialismo. Na pior das hipóteses, ele é um braço auxiliar desse mesmo imperialismo, um setor associado com o imperialismo. Então não dá para você esperar que daí venha a resolução do problema. Só os trabalhadores, o povo brasileiro pode dar uma solução a esse problema e essa solução, companheiros, nós vamos ter que criá-la, nós vamos ter que desenvolvê-la nas ruas, através de campanhas como essa em torno da questão do petróleo.

Portanto, companheiros, queria encerrar dizendo simplesmente o seguinte: nós estamos enfrentando um momento decisivo. O Brasil está perdendo o seu lastro econômico numa velocidade muito grande. Isso começa, num determinado momento, a comprometer a possibilidade de retomada econômica, de desenvolvimento. Quer dizer, é hora de reagir, é necessário reagir a essa situação. Isso é muito urgente. O mundo não vai acabar amanhã, mas o Brasil pode se afundar como um país. Nós estamos vendo os índices: mais de 30% de perda industrial, a agricultura é o principal produto de exportação brasileiro, as empresas estatais estão todas dominadas pelo capital estrangeiro.

A única solução, uma vez que a burguesia brasileira é muito fraca para enfrentar essa situação, é o Estado. É através do estado que nós temos que enfrentar essa situação. Por isso o fim de todas as privatizações – isso o governo Lula já afirmou -, nós defendemos a revisão de todas as privatizações já realizadas, nós defendemos que as empresas sejam reestatizadas, e que o Estado assuma um papel de primeiro plano na condução econômica do País, na organização econômica do País.”

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