Dando sequência ao programa anterior, que abordou o problema do partido revolucionário a partir da questão dele ser um “partido de classe”, a edição do Marxismo dessa semana focou na questão do programa. Contando com a participação do presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, o programa que aborda com maior profundidade temas teóricos do marxismo estreou em novo horário, toda quinta-feira ao meio dia no canal PCO – Partido da Causa Operária no YouTube. Além de Rui, a bancada do programa foi composta por Henrique Simonard e João Caproni Pimenta.
João deu o pontapé inicial questionando se a caracterização de um partido como revolucionário se daria por conta da composição social desse partido ou por seu programa político. Rui destacou que ambos os critérios concorrem para que se possa caracterizar assim um partido, citando uma importante colocação de Lênin sobre isso: “são três as condições para que um partido seja considerado como um partido socialista efetivamente (ou seja, o que ele queria dizer é o partido revolucionário): a composição social, o programa e a tática política.”
Foram discutidos alguns exemplos históricos de partidos políticos, como o próprio partido social-democrata alemão, que foi guiado inicialmente por Marx e Engels, inclusive ao adotar um programa reformista diante da derrota da revolução alemã no século XIX. A respeito dos partidos existentes no Brasil, todos foram caracterizados como partidos pequeno-burgueses com foco de ação restrito às universidades. Programaticamente são centristas, sem apresentar uma caracterização sobre como levar adiante a revolução no Brasil, oscilando entre posições reformistas ou simplesmente “inócuas”.
Sobre o maior partido da esquerda brasileira, foi colocado que, apesar de ter uma ligação real com as massas, o PT nem chega a se caracterizar como um partido operário, pois segundo Rui “o proletariado para o PT é apenas um eleitorado, ele não está dentro do partido” e os poucos com origem operária que estão dentro dele não controlam o partido. Sobre a presença operária que o PCB teve no passado, foi levantado o problema do controle exercido externamente pela burocracia stalinista da União Soviética, que levou o partido a adotar posições erradas em momentos chave da luta política no século XX.
Questionado sobre o que torna um programa revolucionário, Rui destacou a importância da compreensão do marxismo para que um partido possa fazer uso dessa ferramenta no contexto de cada país. Sem abrir mão de um programa internacionalista, um partido precisa ter um programa nacional para intervir na luta política do país onde existe. Ter um programa concebido a partir de uma análise marxista da realidade permite ao partido de conjunto a ter maior rapidez para reagir aos acontecimentos. A militância do partido, em grande medida, consegue interpretar corretamente a maior parte dos problemas colocados, sem depender de longas discussões a cada novo fato.
Durante o programa, foi evocado o caso cubano, onde Fidel Castro apresentava um importante nível de conhecimento sobre o país, mas sem embasamento teórico consistente. Rui esclareceu que na Revolução Cubana, na realidade, o Fidel e o Movimento 26 de Julho em grande medida não anteciparam mas acompanharam o desenvolvimento da revolução. Um exemplo marcante é que a burguesia foi expropriada apenas dois anos após a derrubada do governo Batista, como um desenvolvimento que reagiu à tentativa de invasão pelos Estados Unidos na Baía dos Porcos.
A atual crise do PCB, com o youtuber Jones Manoel no centro dela, serviu de exemplo para a falta de programa desse partido. Um pano de fundo da crise foi a importante divergência em relação à guerra na Ucrânia. Enquanto Jones adota uma postura mais pró-OTAN, disfarçada de neutralidade, o núcleo da direção do partido, mesmo que de forma morna, critica com maior peso o imperialismo norte-americano, Uma divergência fundamental na política do partido e que não foi resolvida internamente, como seria o normal em um partido com programa claro.
Acompanhe essa discussão fundamental no marxismo: