Na semana passada, a direção do Movimento ao Socialismo (MAS) anunciou o rompimento com o governo boliviano de Luis Arce, a decisão foi tomada depois de Evo Morales denunciar a existência de um processo com objetivo de anulá-lo politicamente. A situação na Bolívia mostra que, diferente do que a esquerda buscou fantasiar sobre o fim dos golpes e governos de extrema na América Latina, a crise política é muito maior do que se imaginava.
O rompimento se deu após o ex-presidente Evo Morales denunciar a ação do escritório de advocacia de Iván Lima, atual ministro da Justiça, que estaria ajudando uma empresa a processar o Estado boliviano em US$ 35 milhões. Diante da acusação de Morales, Lima processou o ex-presidente por difamação. O líder cocaleiro afirmou que o processo busca a sua anulação política e assim a direção do MAS declarou que está tudo acabado em referência à relação do partido com o governo.
O vice-presidente da legenda, Gerardo García, disse que o processo em andamento se trata de ameaças contra Evo Morales e que esse fato resultou na deterioração da relação entre o partido e o presidente boliviano. Segundo García, um encontro entre as partes é esperado para conversar e “ver como superamos nossas diferenças, (mas) agora estamos (separados), claros como água e óleo, nunca vão se misturar” (“Bolívia: direção do MAS diz que rompeu com governo de Luis Arce”, Opera Mundi, 19/8/2023).
O vice-líder do MAS declarou ainda que vai “continuar a pedir, a exigir que assim seja, que sendo presidente ou ministro não se aproveitem do poder para nos querer acusar e processar”, mostrando a falta de confiança do partido em relação ao governo Arce (idem). A direção do MAS declarou ainda que é impossível acertar uma candidatura com um traidor e que, se Luis Arce pretende concorrer à reeleição para presidente, o mesmo deve procurar se associar a outro partido.
Cabe destacar que Evo Morales tem se chocado desde o início de sua relação com o governo Arce. Diante de uma greve realizada por diversas categorias, no segundo ano do governo de Luis Arce, Morales criticou a falta de iniciativa do presidente boliviano em lançar mão de uma política para atender as necessidades do povo cujos salários já não eram suficientes e denunciou que a situação resultava num endividamento cada vez maior da população. Evo declarou que o presidente estava traindo as lutas históricas e os mártires da refundação da Bolívia, afirmando ainda que tal política atendia os interesses da direita golpista e que isso estava provocando uma divisão dentro do partido.
Fica claro que o otimismo da esquerda sobre a volta de governos progressistas na América Latina não passava de uma ilusão completa. Na Bolívia, a maior liderança popular do país e vítima de um violento golpe de Estado, pode se tonar inelegível nas eleições do próximo ano. Na Argentina, o kirchnerismo está em uma profunda crise e lançou um candidato ainda mais direitista que Alberto Fernandez para as eleições deste ano. No Brasil, Lula é refém do parlamento golpista, que sob comando de Arthur Lira e dos banqueiros, controlam o Banco Central e o Ibama, fazendo destas instituições grandes centros de sabotagem contra o governo.
É preciso impor uma derrota definitiva aos golpes de Estado e perseguições políticas comandados pelo imperialismo. Nada de governos improvisados como Luis Arce e Alberto Fernandez, nada de governos capachos como de Petros e Boric. A América Latina precisa de uma política independente do imperialismo, de cooperação entre seus países e em defesa da nacionalização dos recursos minerais em seus territórios.