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Economia

Riqueza global, desenvolvimento industrial e os BRICS

Segundo o relatório de riqueza global do Credit Suisse (de 2019), os EUA detêm 30% da riqueza mundial, com um total de US$ 105,99 trilhões de patrimônio líquido

Segundo o relatório de riqueza global do Credit Suisse (de 2019), os EUA detêm 30% da riqueza mundial, com um total de US$ 105,99 trilhões de patrimônio líquido. Em seguida vem a China, com US$ 63,83 trilhões (17,7% da riqueza mundial) e o Japão, com US$ 24,99 trilhões. O conceito de riqueza do banco, utilizado na pesquisa, de patrimônio líquido (soma de todos os ativos financeiros menos todas as dívidas do país). Os países da Ásia, em conjunto, reúnem um patrimônio líquido superior aos dos EUA, US$ 141,21 trilhões, correspondente a 39% da riqueza global verificada naquele ano.

O estudo do banco mostra a discrepância entre as regiões mais ricas e as mais pobres do Planeta. Segundo o estudo, a África controla 1,14% da riqueza e a América Latina, 2,75%. Os 10 países que lideram o ranking global de riqueza, segundo o Credit Suisse, são:

  1. Estados Unidos (US$ 105,99 trilhões);
  2. China (US$ 63,83 trilhões);
  3. Japão (US$ 24,99 trilhões);
  4. Alemanha (US$ 14,66 trilhões);
  5. Reino Unido (US$ 14,34 trilhões);
  6. França (US$ 13,73 trilhões);
  7. Índia (US$ 12,61 trilhões);
  8. Itália (US$ 11,36 trilhões);
  9. Canadá (US$ 8,57 trilhões);
  10. Espanha (US$ 7,77 trilhões).

Chama a atenção que no ranking acima todos os países apresentam elevado nível de industrialização (com especificidades). No outro lado, boa parte dos países subdesenvolvidos no mundo desenvolvem produção nacional, quase que exclusivamente de origem rural. As exceções são os países que desenvolveram industrialização tardia, principalmente a partir da década de 1950, chamados de Novos Países Industrializados (NICs) e de outras denominações. Na listagem acima, China e Índia são os dois países que, apesar de subdesenvolvidos, conseguiram se industrializar, inda que tardiamente. Na América Latina, que, como vimos, detém menos de 3% da riqueza global, Brasil, Argentina e México também conseguiram se industrializar tardiamente, possibilitando dessa forma uma melhora no nível de vida de suas populações.

No ranking, China e Índia estão constando em função de suas gigantescas populações, que possibilitam e requerem maior produção de riqueza. Mas são países ainda subdesenvolvidos, conforme se pode verificar por suas rendas per capitas, medidas em Paridade do Poder de Compra: enquanto em 2022 os EUA alcançaram US$ 75.000 de renda por habitante, esse indicador na China foi de US$ 12.417,00 e na Índia, US$ 2.301,00.

A forma como a riqueza se distribui pelo mundo ajuda muito a entender a reação dos países ricos em relação à expansão do BRICS, que contará com novos membros a partir de janeiro de 2024. Como é possível que um país que tem pouco mais que 4% da população da Terra, como os EUA, detenha 30% da riqueza? Uma parte desse fenômeno é explicado pela hegemonia do dólar, que o BRICS procura combater. Os bancos centrais e ministérios da Fazenda e Economia de cada país do Bloco estão com a responsabilidade de realizar estudos em busca da adoção de uma moeda de referência do BRICS para o comércio internacional.

O objetivo é escapar da ditadura do dólar, que obriga uma boa parte dos países do mundo, sobretudo os subdesenvolvidos, a demandarem permanentemente essa moeda, sob pena de não poderem realizar transações internacionais. Trata-se de aumentar opções de pagamento e reduzir vulnerabilidades financeiras dos países em desenvolvimento, ou subdesenvolvidos, que compõem o BRICS.

É fundamental alterar a atual ordem internacional, forjada há muitas décadas e que é controlada pelos países imperialistas, EUA à frente. Esta ordem está atravessando grande crise, como revelam inúmeros sintomas, como o massacre do povo palestino, abertamente apoiado pelos países imperialistas. O processo de maturação dessa mudança será lento, os efeitos e as consequências mais importantes da decisão do BRICS irão aparecer paulatinamente. Mas tendem a ser cada mais significativos.

O BRICS representa os países “pobres” que são, ao mesmo tempo, muito ricos em recursos naturais. São países que guardam diferenças entre si, nos mais diversos aspectos: são subdesenvolvidos, com PIBs per capitas bem inferiores aos países imperialistas. Mas alguns já são potências setoriais (como China e Rússia no campo militar) e potências econômicas regionais, e até mundiais (como a China, que tem um bom número de empresas na lista das maiores do mundo, e até aqui, o segundo PIB mundial).

Javier Milei, político de extrema-direita que venceu as eleições presidenciais na Argentina, afirma que não ingressará no BRICS, conforme está previsto para janeiro próximo, e que irá retirar a Argentina do Mercosul. O problema é que o comércio no Mercosul é fundamental para a Argentina, especialmente com o Brasil. O comércio bilateral disponibiliza aos argentinos cerca de um milhão e duzentos mil empregos de razoável qualidade, em um total de trabalhadores empregados de cerca de 13 milhões.  Milei afirmou durante a campanha que irá reduzir os gastos do governo em 15 pontos percentuais do PIB, o que, antes de ser uma proposta, representa uma ameaça ao povo argentino. Promete inclusive privatizar o setor educacional, trocando a educação pública por vouchers, através dos quais as famílias escolheriam a escola para os filhos.

Além disso, a proposta de dolarizar a economia, talvez o carro chefe da campanha de Milei, esbarra em um detalhe nada trivial: a Argentina não tem dólares, justamente por isso contraiu uma grande dívida com o FMI. Ademais, somente quatro países do mundo dolarizaram suas economias: Equador, Zimbabué, Panamá e El Salvador, todos países de economia frágil e sem indústria. O que não é o caso da Argentina, que tem muitas alternativas de desenvolvimento, apesar da crise econômica atual.  Não há dúvidas que teremos fortes emoções nos próximos capítulos da conjuntura sul-americana

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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