Um dos legados que o governo trágico de Jair Bolsonaro nos deixa é a dissolução do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC). A estatal foi fundada em 2008 pelo ex-presidente Lula em Porta Alegre, no Rio Grande do Sul, e possuía a única fábrica da América Latina capaz de produzir microchips no silício, do começo ao fim.
Os circuitos não eram sofisticados como o recém-lançado microprocessador da Apple, o M2, fabricado em Taiwan. Também não se comparam aos processadores com aplicação voltada à área de inteligência artificial. Tratavam-se de circuitos simples, etiquetas eletrônicas, com aplicações que vão desde ao famoso “Sem Parar” – sistema de pagamento automático de pedágios e estacionamentos – à identificação de produtos variados e gado. Não à toa, a CEITEC ficou conhecida como “estatal do chip do boi”, o que não faz jus a sua importância para o Brasil.
Nem mesmo a China, se excluirmos Taiwan, possui autonomia na produção de processadores de alto desempenho. Essa área é uma das mais monopolizadas do mercado mundial, um dos fatores que contribuem para a tensão dos chineses com o imperialismo em relação à reintegração de Taiwan. Ainda assim, o governo de Xi Jinping investe amplamente no setor de semicondutores e o país é capaz de produzir a maior parte dos componentes simples que integram todo tipo de maquinário industrial, carros, eletrodomésticos e afins.
O que nos leva ao motivo pelo qual Bolsonaro, supostamente nacionalista, enterrou a estatal. Foi alegado que a empresa precisava de uma modesta injeção anual de R$50 milhões para cobrir a diferença entre receitas e despesas, algo pífio se considerarmos o PIB nacional e a importância do setor em que atua a CEITEC.
Por uma questão de segurança nacional e para concretizar a promessa de Lula de “reindustrializar o País”, é preciso investir na construção de uma grande empresa estatal de semicondutores. Restaurar a CEITEC e ampliar sua atividade. Se a criação da Central Siderúrgica Nacional (CSN) na época de Getúlio Vargas era fundamental para o desenvolvimento das forças produtivas nacionais, uma indústria sólida de semicondutores é necessária para que o Brasil volte a crescer com independência.
O investimento não pode limitar-se à indústria de base, mas também deve ser feito nas universidades, para a criação de processadores de alto desempenho. Devemos almejar a criação de um microprocessador nacional, de um computador nacional que faça frente aos apresentados pelos grandes monopólios.
O momento é oportuno. Se a propriedade intelectual da arquitetura de processadores modernos ainda encontra-se nas mãos do imperialismo, novas iniciativas, como a arquitetura RISC-V são tecnologias abertas, desenvolvidas com o mesmo espírito do software livre, do sistema operacional Linux.
Os EUA estão aplicando bilhões de dólares para trazerem as fábricas de semicondutores para seu território. Há incentivo similar na Europa. Frente a um conflito na Rússia e à possibilidade crescente de outro na China e já contando com a experiência de escassez de componentes eletrônicos durante a pandemia, o imperialismo tenta preparar sua autossuficiência tecnológica. Afinal, esses componentes também são essenciais para movimentar a máquina de guerra moderna.
O Brasil não deve ficar para trás. Nós temos a capacidade técnica e científica, temos os recursos naturais e temos parcerias que devem se fortalecer com a volta de Lula, como os BRICS.