Nas últimas semanas o noticiário político tem voltado parte de sua atenção para questão da articulação de diversas forças políticas do país entorno de prováveis mudanças ministeriais no terceiro governo do presidente Lula.
Para a classe trabalhadora a troca meramente nominal tem relevância secundária, o que tem caráter primário é a questão relacionada a força política por detrás dos nomes, ou seja, os interesses de quais classes sociais esses elementos representam.
É fato que o presidente tem a primazia de indicar o corpo ministerial. Mas ele não opera a máquina de estado sozinho. Ainda mais um estado como o brasileiro, que tem seus traços, sua fisionomia, seus dispositivos, sua composição, constituída para atender os interesses das camadas dominantes, sejam elas daqui ou estrangeiras. Aliás, essas duas operam de forma associada.
Nesse contexto de luta política, podemos observar as movimentações de quatro setores: o imperialismo, a burguesia nacional, a pequena burguesia e a classe trabalhadora.
O imperialismo e a burguesia nacional, procuram domesticar o governo Lula, a primeira estabelecendo os interesses das empresas transnacionais e do sistema financeiro, a segunda garantindo seus interesses localizados, mas também seus interesses associados a esse sistema financeiro internacional. Aí que entra a mediação do chamado centrão, e sua manobra política pela garantia de interesses localizados e também do sistema financeiro. Ora libera determinadas válvulas de escape para o sistema financeiro internacional e em outras as contém de uma maneira fisiocrata para assegurar sua perpetuação enquanto força no regime político atual.
Essa manobra fica evidente quando essa fração de representantes políticos da burguesia e do imperialismo tem de manter a política de austeridade fiscal, porém por outro lado chantageiam o governo (com emendas, cargos, favores, etc.), seja ele qual for, para aprovar pautas que significam um aumento nos gastos e investimentos por parte do Estado.
A pequena burguesia, principalmente de esquerda, seja nas organizações populares ou inserida no aparato governamental, neste momento, apenas tem visualizado enquanto alternativa política para garantir a chamada governabilidade, ceder terreno para essas chantagens do centrão e para própria burguesia ligada mais diretamente ao imperialismo, como tem sido o caso da reforma tributária e dos gastos em publicidade com a Globo.
Esse filme, nós trabalhadores, já vimos anteriormente, e sabemos como findou, ou seja, a ofensiva sem tréguas de todas as alas da burguesia que não ficou saciada com as concessões feitas pelo governo democrático-popular, com a derrubada da presidenta Dilma que resultou sete anos de regime político golpista com ferozes ataques aos direitos dos trabalhadores.
A tentativa de golpe em janeiro deste ano não foi uma jogada política apenas do bolsonarismo e de militares histéricos, ela teve o aval de gente mais graúda. E não conseguindo a consolidação de um golpe, não efetivando um mínimo suficiente de apoio popular ao golpe, procurou contribuir para demonstrar que institucionalmente, por dentro do Estado, o governo não possui força nenhuma. Foi um recado das forças reacionárias internas e externas. Ou seja, procurou desmoralizá-lo através de uma demonstração de força concreta, permitindo que os aloprados de extrema-direita e os infiltrados dos serviços de inteligência, invadissem os três poderes com uma enorme facilidade, sem resistência institucional, até porque a institucionalidade quem coordenou essa atividade.
Desde o começo do governo a regra tem sido a mobilização (se é que assim podemos chamar) de baixa intensidade, vide o que tem sido o processo de enfrentamento ao capacho do imperialismo à frente do Banco Central, Campos Neto. Essa situação comprova que os horizontes da pequena burguesia só tem enxergado a via institucional e de negociação com os vampiros, abrindo mão daquilo que foi justamente o elemento fundamental para o retorno do presidente Lula ao Palácio do Planalto. Nem mesmo mobilizações para contrabalancear a situação no sentido de buscar um mínimo de equilíbrio de forças tem sido cogitadas. Ai não adianta reclamar que estão com a faca no pescoço, se nada tem feito para sair dessa situação.