Nascido em 2 de maio de 1860 em Budapeste, então cidade do Império Austro-Húngaro, Theodor Herzl foi o segundo filho de Jeanette e Jakob Herzl, judeus assimilados que falavam alemão. Seu pai era um rico empresário.
Jornalista e considerado “pai” do movimento sionista, Herzl, dizia ter linhagem tanto ashkenazi quanto sefardita. A inspiração para essa política teria sido a efervescência provocada pelo Caso Dreyfus, que polarizou Paris (onde trabalhava como correspondente) em 1894. Dois anos depois, publicou o panfleto “O Estado Judeu”, no qual elaborou suas visões sobre uma pátria judaica.
A obra defendia que a comunidade judaica deveria deixar a Europa em direção à Palestina, e que os judeus possuíam uma nacionalidade, faltando-lhes uma nação e um Estado próprios, para que pudessem escapar do antissemitismo, e, assim, expressarem-se cultural e religiosamente sem repressão. Movimentos sionistas como o Hovevei Zion se aliaram a Herzl, mas o plano enfrentou a oposição de membros da comunidade ortodoxa e outros grupos que buscavam se integrar na sociedade dos países em que viviam, levando o “pai do sionismo” a criticar duramente seus opositores judeus, valendo-lhe críticas como a de ser antissemita, devido ao artigo “Mauschel”, palavra derivada do iídiche cujo som assemelhasse a “maus” (“rato”, em português).
Em “O Estado Judeu,” escreve:
“A questão judaica persiste onde quer que judeus vivam em números apreciáveis. Onde ela não existe, é trazida junto com imigrantes judeus. Naturalmente, somos atraídos para aqueles lugares onde não somos perseguidos, e nossa presença lá dá origem à perseguição. Este é o caso, e será inevitavelmente assim, em todos os lugares, mesmo em países altamente civilizados – veja, por exemplo, a França – enquanto a questão judaica não for resolvida no nível político.”
A conclusão do problema seria a criação do Estado judeu:
“Portanto, acredito que uma geração maravilhosa de judeus surgirá. Os Macabeus ressurgirão. Permitam-me repetir mais uma vez minhas palavras iniciais: Os judeus que desejam um Estado o terão. Viveremos finalmente como homens livres em nosso próprio solo e morreremos pacificamente em nossas próprias casas. O mundo será libertado por nossa liberdade, enriquecido por nossa riqueza, magnificado por nossa grandeza. E o que quer que tentemos realizar ali para o nosso próprio bem-estar, reagirá poderosa e benevolentemente para o bem da humanidade.”
Embora sua retórica clame por um “mundo libertado por nossa liberdade”, seus diários apontam algo radicalmente diferente:
“Você está sendo convidado a contribuir para a escrita da história. Isso não deveria assustá-lo, nem causar risos. Não está dentro de sua esfera habitual; não trata da África, mas sim de uma parte da Ásia Menor, não envolve ingleses, mas sim judeus. No entanto, se isso estivesse em seu caminho, já teria sido realizado por você mesmo. Então, como posso me dirigir a você, uma vez que este é um assunto fora do seu caminho? De fato, como? Porque é um assunto colonial [grifo nosso] e exige a compreensão de um desenvolvimento que levará vinte ou trinta anos. O senhor, Sr. Rhodes, é um visionário tanto em termos políticos quanto práticos… Quero tê-lo ao meu lado… para endossar a autoridade do plano sionista.”
O “visionário” descrito como Sr. Rhodes, a quem Herzl endereçou a carta registrada em seus diários, era Cecil John Rhodes, inglês autor de um conjunto de reformas políticas na colônia que levaria seu nome (Rodésia, atual Zimbábue) e que dariam origem ao que depois seria conhecido como apartheid. Um “visionário” de um projeto colonial e essencialmente racista, porém na África. Ao que indica a carta do “pai do sionismo”, era nisso que seu plano divergia de Rhodes, além de quem seria a raça superior. Na colônia do sul da África, os ingleses; na Ásia Menor, os judeus.
Ainda em busca de seu “assunto colonial na Ásia Menor”, Herzl procurou o sultão otomano Abdul Hamid II após os massacres de armênios na década de 1890, propondo que, em troca do estabelecimento judeu na Palestina, o movimento sionista poderia trabalhar para melhorar sua reputação na Europa e também as finanças do império. O escritor francês e judeu Bernard Lazare (que, posteriormente, apoiaria o sionismo) criticou duramente o oportunismo de Herzl e outros delegados do Congresso Sionista, apontando que estes “enviaram sua bênção ao pior dos assassinos”.
No Sexto Congresso Sionista em 1903, Herzl apresentou o Esquema Uganda, apoiado por Joseph Chamberlain – à época, secretário de Estado para as colônias do Reino Unido e futuramente primeiro-ministro do Reino Unido. A proposta buscava criar um refúgio temporário para os judeus na África Oriental Britânica, porém foi recebida com forte oposição, sendo, finalmente, rejeitada. No ano seguinte, uma doença cardíaca o leva à morte, aos 44 anos. Inicialmente enterrado em Viena, na Áustria, seus restos foram levados para “Israel” em 1949 e enterrados no Monte Herzl, renomeado em sua homenagem.