Muitas vezes, na política, pouco importa o que uma pessoa diz ou o que consta em seu programa. Pelo contrário, na grande maioria dos casos isso não passa de puro lixo. Talvez sirva, apenas, para classificarmos sua posição como demagoga, mentirosa, hipócrita, etc. Mas para entender de fato o direcionamento político de alguma figura, é fundamental ver concretamente quais são as suas ações, e como elas interferem na luta de classes.
Pode parecer óbvio, mas gostaria de chamar atenção desse aspecto da análise política para esclarecer confusões comuns que podem ocorrer com o que chamamos no PCO de esquerda pequeno-burguesa. É bem típico desse setor da esquerda falar muito, mas na prática agir de acordo com os interesses imperialistas e prejudicar drasticamente o desenvolvimento da luta operária.
A título de exemplo de tal charlatanismo, temos o caso de Gabriel Boric, atual presidente do Chile, muito aclamado pelo PSOL e pela ala mais antipetista da esquerda brasileira. Para opor a realidade a seu discurso, separei algumas manchetes de jornais com as últimas notícias sobre ele. Convido o leitor para analisá-las sem nenhum julgamento moral. Apenas uma análise simples e direta sobre o que fez e faz Boric no Chile e na América Latina, e como o povo reagiu às suas ações.
Hoje, o candidato que era conhecido como “representante da luta popular” e “Jovem prodígio da política” e tem uma das maiores impopularidades da história do País.
Popularidade de Boric vai de 50% a 36% em menos de dois meses de mandato – Veja
Gabriel Boric é reprovado por 62% da população chilena – Brasil 247
Hoje, o candidato que possuía um “plano transcendental para os povos originários” (de fato isto está no programa do Boric), declarou estado de sítio contra os Mapuches na região Centro Sul do Chile.
Gabriel Boric prorroga militarização de zona mapuche no sul do Chile – G1
A organização mapuche pede “resistência armada” em resposta às propostas do governo Boric no sul do Chile. – Jornal 247
Hoje, o candidato que surgiu do movimento estudantil e que defende “uma educação pública e de qualidade para todos” é um dos maiores repressores da luta dos estudantes,
Gabriel Boric sugere que estudantes conversem em vez de protestar violentamente porque senão terão que “responder à lei” –
Gabriel Boric é alvo de pedradas em manifestação estudantil no interior do Chile – Brasil 247
Hoje o candidato da “nova esquerda” do Chile diz: “devemos parar de pensar que responsabilidade fiscal é uma questão de direita” – Brasil 247
Pois bem, os fatos falam por si mesmos. É fácil concluir que Boric não é praticamente nada do que diz ser. Mas o ponto sobre o qual chamo a atenção é um que nunca foi ao menos ocultado na campanha de Boric. Um ponto sobre o qual ele não se deu o trabalho de fazer nenhuma demagogia, nenhuma demagogia:
Desde o começo de sua campanha eleitoral, Boric fez críticas ferrenhas aos governos populares da América Latina. De acordo com ele, Cuba e Venezuela “violam os direitos humanos” e “perseguem os seus opositores”, além de terem “políticas populistas que fazem mal ao povo”. Gabriel Boric, inclusive, foi elogiado pelo próprio Biden – presidente dos EUA – por suas posições logo que assumiu a presidência.
Mais recentemente, Boric chegou a conversar diretamente com Zelensky, e declarou que a ‘Ucrânia tem um amigo na América do Sul’ – Brasil 247
Assim, ao contrário de tudo que Boric diz, é fácil concluir que de todos os governantes pró imperialistas da América latina, ele é o maior. Ou seja, mesmo com sua faceta de esquerda, ele é um dos principais aliados do maior inimigo da classe trabalhadora.
Artigo publicado, originalmente, em 16 de agosto de 2022.