Fogos de artifício

Quando um cachorro vale mais do que o direito do povo

Os pretextos para aumentarem o poder repressivo do Estado

A virada do ano traz à tona a discussão sobre a proibição dos fogos de artifício. Quem proíbe é, logicamente, o Estado burguês, mas o pretexto é sempre o mais nobre e moral possível. Nesse caso, uma suposta preocupação com o bem-estar dos animais de estimação e com crianças autistas.

Dizemos suposta preocupação porque ninguém em sã consciência deveria acreditar que a burguesia está preocupada com os animaizinhos. Com certeza, a burguesia está menos preocupada ainda com as crianças autistas.

No entanto, esse argumento é usado para convencer pessoas bem intencionadas a ingressarem numa campanha reacionária, repressiva contra o povo. A realidade dessa proibição é uma só: aumentar as leis repressivas contra a população.

Sob qualquer pretexto, não se deve dar ao Estado capitalista o poder de reprimir. Não se deve permitir que o Estado capitalista possa interferir tão diretamente na vida das pessoas. Quanto maior o nível de controle do Estado sobre as pessoas, mais autoritário ele é e maior o poder repressivo da burguesia contra a população.

Mas será que os argumentos contra os fogos de artifício barulhentos são corretos? Apesar de sermos contra o controle do Estado sobre as pessoas, deveríamos aceitar a campanha que serve como base para esse argumento? A resposta é não.

A primeira coisa que se deve saber quando a burguesia começa uma campanha pública contra determinadas coisas é que os próprios argumentos, a própria base dessa campanha foi criada. Os argumentos podem até ser relativamente verdadeiros ou completamente falsos.

No caso do autismo, há uma realidade aí. O que não é real é a preocupação do Estado em relação a essas pessoas. Nesse caso é muito simples: se o Estado capitalista tivesse realmente preocupação com a saúde dessas pessoas e do povo em geral, por que não melhora o atendimento? Há um deficit gigantesco no atendimento público para autistas. Não há uma estrutura adequada para dar suporte a crianças e familiares. No caso do autismo, quanto mais cedo a criança for diagnosticada, maior é a eficiência no tratamento. Mas se a saúde pública não tem condições sequer de ajudar as famílias a terem esse diagnóstico, imagine no atendimento dessas pessoas.

Para proibir os fogos de artifício os governos são muito rápidos, para garantir atendimento médico adequado são muito lentos. O governo poderia, ainda, fornecer equipamentos para proteger os autistas de sua hipersensibilidade ao barulho, coisa que serviria não apenas no Réveillon para o dia-a-dia dessas pessoas. Por que a imprensa capitalista, que faz a campanha contra os fogos de artifício, não fala dessa necessidade? Por que a intenção não é proteger os autistas, mas reprimir as manifestaçõe do povo.

É interessante que o argumento do autista tenha aparecido depois do argumento do animais e até hoje, o problema dos animais de estimação tem mais evidência do que o do autismo. Isso acontece provavelmente porque se eventualmente um capitalista tiver um filho com autismo ele com certeza não passará pelos problemas citados acima, mas certamente nas casas dos capitalistas está cheio de cachorros neuróticos. E sejamos realistas: os capitalistas dão mais valor aos seus cachorros do que ao povo que sofre.

O caso dos animais de estimação é mais falso do que o dos autistas. Se é fato que gatos e cachorros ficam perturbados com os fogos, é fato também que segundos depois eles já se recuperaram.

O que ocorre nesse caso é a ação do homem. Quem conhece o comportamento de cachorros de rua ou cachorros criados em ambientes mais abertos, sabe que o barulho perturba, mas logo passa. Acontece com fogos, mas acontece também com trovões, por exemplo. O cachorro se assusta, depois volta tudo ao normal.

O argumento de que fogos de artifício seriam extremamente prejudiciais para os animais aumentou com o aumento da criação de animais de apartamento. Há uma ideologia relativamente recente de que os animais deveriam ser tratados como gente. Essa ideologia implica em um tratamento anti-natural do bicho. Gatos e cachorros são animais domésticos adaptados ao ser humano e relativamente dependentes dele, mas eles não são como os humanos (é estranho ter que fazer essa afirmação).

A adaptação dessas animais aos seres humanos envolve inclusive adquiri as neuroses de seus donos. O cachorro, por exemplo, é um animal facilmente treinado, para o bem ou para o mal. A histeria além do normal com os fogos de artifício é um produto da ação dos donos desses animais muito mais do que uma reação natural deles. Explicando melhor: um dono de cachorro num apartamento com pouco espaço e que acredita que seu cachorro é uma criança, vai condicionar o cachorro é ter um comportamento cada vez mais histérico diante de um barulho. Assim, não se tem um comportamento normal do cachorro diante do barulho, mas um condicionamento que transforma aquele cachorro num neurótico.

Em suma, o sofrimento dos cãezinhos são produto dos donos e não dos fogos. Nesse sentido, aqueles que tratam seus animais como se fossem gente, estão fazendo muito mais mal para os bichos do que um cidadão que solta um rojão de vez em quando para comemorar alguma coisa.

Estamos diante, da farsa total da defesa dos animais. E é por isso que a burguesia usa tanto esse argumento. Basta andar pela cidade de São Paulo para notar a quantidade de grandes lojas de produtos para animais de estimação. Com essa campanha a burguesia consegue mobilizar uma parcela expressiva da classe média que tem o seu cachorrinho no apartamento. E assim, vale muito mais o cachorrinho neurotizado pelo próprio dono do que o direito das pessoas de realizarem suas tradições e manifestações culturais.

As pessoas têm o direito de neurotizar seus animais, mas não têm o direito de pedir que o Estado reprima o povo. Com tanto loja de produtos para animais, já devem ter inventado algum protetor de ouvido para o cachorro, é mais fácil fazer isso do que dar poder ao Estado capitalista.

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