Entre o último dia de 1947 e o primeiro dia de 1948, cerca de 60 homens, mulheres e crianças árabes da aldeia de Balad al-Sheikh foram brutalmente assassinadas por milícias fascistas sionistas. A operação, comandada por quase 200 homens do Haganá, principal organização paramilitar sionista da primeira metade do século XX, aconteceu a sete quilômetros da importante cidade palestina de Haifa. A cidade integrava o Mandato Britânico da Palestina, governo estabelecido pela Liga das Nações em favor do imperialismo britânico, após a dissolução do Império Otomano
Naquele período, às vésperas da fundação do Estado de Israel, os sionistas, liderados pelo sanguinário David Ben-Gurion, já haviam deflagrado uma ofensiva violentíssima contra os árabes. Os sionistas pretendiam tanto intimidar a população local, preparando a ocupação forçada do território palestino, como também pressionar o imperialismo inglês a aceitar os termos propostos pelos sionistas.
O objetivo de Ben-Gurion não era o de apenas conseguir estabelecer um Estado judeu situado em parte do território palestino. Os sionistas, que haviam se fortalecido na medida em que a revolta árabe fora reprimida pelos britânicos, queriam a integridade do território palestino para si. “Os árabes precisam ir embora, mas precisamos apenas de um momento oportuno para fazer isso acontecer, como uma guerra”, disse Ben-Gurion em seu Diário (A Limpeza Étnica na Palestina. Ilan Pappé).
É neste cenário que se desenvolvem os acontecimentos que levaram ao massacre de Balad al-Sheikh. Tudo começou com um atentado sionista em uma refinaria da Companhia Iraquiana de Petróleo, sob propriedade britânica, em Haifa. Segundo conta o historiador israelense Ilan Pappé, no livro “A questão Israel/Palestina”, o atentado em Haifa aconteceu “[…] no dia 30 de dezembro de 1947, quando integrantes da organização sionista de extrema-direita Irgun Z’va’i Le’umi (Organização Militar Nacional, geralmente referida em hebraico pela sigla Etzel), comandada por Menachem Begin, lançaram uma série de granadas contra uma multidão de cerca de 100 árabes reunidos no portão principal da refinaria de petróleo de propriedade britânica, na periferia norte de Haifa, na esperança de encontrar trabalho como diaristas”.
Ilan Pappé conta que, como consequência da explosão, seis árabes morreram instantaneamente e outros 42 ficaram feridos. O Etzel afirmou, à época, que o ato seria uma retaliação por supostos ataques contra judeus na Palestina.
“Poucos minutos depois do incidente, uma multidão indignada de trabalhadores árabes e estrangeiros da refinaria se voltou contra os trabalhadores judeus, matando 41 e deixando 49 feridos até a chegada das unidades do exército e da polícia britânicas”, afirmou o historiador israelense na mesma obra.
A notícia do massacre na refinaria de petróleo chegou rapidamente às oficinas de reparo e manutenção das ferrovias palestinas, localizadas próximas às instalações da Companhia Iraquiana de Petróleo. Segundo Pappé, trabalhadores árabes mais jovens começaram a ameaçar seus colegas de trabalho judeus e tentaram desligar as máquinas. Apesar da elevação das tensões, as oficinas acabaram não sendo palco de um novo massacre, graças à intervenção de sindicalistas árabes e ao fato de que os locais permaneceram fechados por dez dias.
Muito embora os acontecimentos na refinaria não tenham levado a uma onda de massacres nos locais de trabalho comungados por judeus e árabes, eles serviram de pretexto para que as milícias fascistas sionistas intensificassem a sua política de limpeza étnica. Hora depois do massacre que vitimou 41 judeus, o Haganá, principal organização paramilitar sionista, comandou uma chacina ainda mais violenta e infinitamente mais cruel contra os aldeões palestinos de Balad al-Sheikh.
Naquela época, Balad al-Sheikh era a segunda maior aldeia de Haifa em termos de população, era habitada inteiramente por muçulmanos, com casas construídas principalmente de cimento e pedra. A aldeia contava ainda com uma escola primária, estabelecida em 1887, e um cemitério, onde jaziam os restos mortais de Shaykh ‘Izz al-Din al-Qassam, um pregador ascético cuja morte em ação contra as forças de segurança britânicas em 1935 desencadeou a revolta de 1936 contra a ocupação britânica (Welcome To Balad al-Shaykh. Palestine remembered).
O massacre de Balad al-Sheikh abalou a vila. Durante o réveillon de 1948, homens e mulheres de todas as idades foram mortos em suas camas durante disparos de armas de fogo. O Palmach, um dos braços do Haganá, foi quem planejou a ação, atirando a partir das encostas do Monte Carmelo.
De acordo com “A História do Haganá”, “um total de 170 homens do Palmach foram ordenados a cercar a vila, ferir o maior número possível de palestinos e destruir o maior número de propriedades”. Ao menos 60 pessoas foram executadas e dezenas de casas foram destruídas.
Segundo Ilan Pappé, o massacre, além de servir de retaliação ao massacre da refinaria de Haifa, também desmoralizava o governo britânico sobre o território, uma vez que “as autoridades britânicas ainda eram responsáveis pela manutenção da lei e da ordem e estiveram muito presentes na Palestina”.
A selvageria em Balad al-Sheikh deu um impulso para atos cada vez mais violentos das milícias sionistas. Logo após o massacre, os sionistas entraram em um dos bairros árabes da cidade, Wadi Rushmiyya, expulsaram seu povo e explodiram suas casas. Para Ilan Pappé, este ato pode ser considerado como o início oficial da operação de limpeza étnica na área urbana da Palestina (A Limpeza Étnica da Palestina. Ilan Pappé).