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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

A AMEAÇA DA BOLHA

Quando a “bolha” vai estourar?

A quebradeira de diversos bancos dos EUA pós-COVID-19 já na entrada de 2023, aponta para além de uma maior concentração bancária, uma crise profunda do imperialismo

O capitalismo na fase do imperialismo desde o início do século XX, vem frequentemente demonstrando uma espécie de desgaste crônico, no sentido de produzir crises econômicas e financeiras bastante profundas. O ataque cardíaco na crise de 1929 e a segunda guerra mundial colocaram em xeque o sistema capitalista, ameaçando de fato a ordem mundial dominada pelo imperialismo estadunidense em acordo com uma parte europeia comandada por Inglaterra e França. Após o término da segunda guerra, um grande pacto de seguridade social e um ambicioso plano econômico de reconstrução da Europa foi colocado em prática para reabilitar o combalido imperialismo. Após duas décadas de crescimento econômico, por intermédio do dirigismo estatal no interior do padrão monetário do lastro ouro-dólar, essa estratégia chega ao seu esgotamento entre o final da década de 1960 e início de 1970.

Os Estados Unidos sepultam na prática o acordo de Bretton Woods do lastro ouro-dólar em 1971 e a crise do petróleo comandada pelo cartel da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em 1973 são reflexos acentuados da crise do modelo de acumulação do fordismo e do padrão monetário do lastro ouro. O retorno da rivalidade econômica na disputa mundial entre a Alemanha e Japão, com os Estados Unidos já em crise, demonstra as contradições do modelo de acumulação de capital e da própria crise do imperialismo. A nova crise do petróleo de 1979, a revolução iraniana no mesmo ano e demais crises políticas nesse contexto impulsionaram a retomada forçada dos Estados Unidos no controle monetário internacional sob a batuta do dólar.

A taxa de juros nos Estados Unidos quando Paul Volcker assumiu o FED (Federal Reserv – Banco Central dos EUA), no início do governo Jimmy Carter, era de menos de dois dígitos anuais e, em resposta ao surto inflacionário nos Estados Unidos, o presidente do FED fez a taxa ultrapassar os 20 pontos percentuais anuais. A inflação colossal nos EUA refletia a crise econômica da década de1970 e o aumento dos juros como resposta a chamada estagflação (economia estagnada com inflação) piorou ainda mais a situação econômica no próprio EUA, ainda fez a dívida externa dos países atrasados como o Brasil explodir. O México pediu moratória em 1982 e o Brasil anos depois. As consequências disso foram altíssimas taxas de inflação, baixos índices de crescimento econômico e início dos desinvestimentos no país.

A crise econômica e financeira com a quebradeira de bancos nos Estados Unidos e em outros países imperialistas ocorreu devido ao estouro de uma bolha especulativa, que havia sido contida de maneira artificial pelo manejo da política monetária que conseguiu se “estabilizar” na década de 1990 às custas da emissão monetária mundo afora, mas que durou em termos históricos muito pouco tempo nas mãos da alternativa neoliberal. A financeirização exacerbada do capital impulsionou a bolha imobiliária nos Estados Unidos, epicentro da crise econômica e financeira internacional entre 2007-2009. Como a crise foi historicamente sendo produzida pelo imperialismo, ela já não consegue no seio das suas próprias contradições conter as bolhas sucessivas no interior do mercado financeiro mundial.

A COVID-19 abalou as cadeias produtivas no mundo e fez com que a crise, não resolvida do final da primeira década dos anos 2000, viesse à tona pós-pandemia como agora em 2023. O verdadeiro lastro da economia não é o ouro ou a “credibilidade” de qualquer moeda, ainda mais o dólar, cada vez mais fragilizado com a crise do imperialismo, também revelado com o fracasso da ofensiva da OTAN na guerra da Ucrânia. A estagflação é um problema crônico da economia dos Estados Unidos e do próprio imperialismo, mesmo porque o fino tecido do lastro produtivo no capitalismo foi rasgado com a quebra produtiva e dos serviços na pandemia. O que sustenta a financeirização não são os papéis da dívida pública do Tesouro dos EUA, mas sim a produtividade no capitalismo. A emissão monetária desenfreada, assim como de papéis sem o lastro produtivo, vão desencadear crises cada vez maiores e em espaços menores de tempo.

Em 2023, quatro bancos nos Estados Unidos vieram à falência em decorrência de múltiplas causas no interior da crise do imperialismo. A COVID-19 e a guerra na Ucrânia impulsionaram a crise e não foram as causas principais, já que a combalida economia mundial apresentava crescentes momentos críticos principalmente desde a década de 1970. Falsas resoluções de contenção no interior do neoliberalismo eram adotadas como a liberalização financeira dos fluxos de capital e o monetarismo exacerbado.

Do início de março de 2023 até o começo de maio, já foram à falência o Silicon Valley Bank, o Signature Bank, o Silvergate e, mais recentemente, o First Republic Bank. Sobrou até mesmo para o tradicionalíssimo Credit Suisse que serviu para escancarar ainda mais a política econômica fracassada do imperialismo. Enquanto isso, as grandes corporações bancárias estadunidenses e mundiais estão cada vez mais concentradas e abarcando uma maior fatia do mercado financeiro internacional. O problema ´é que se a crise não for contida de alguma maneira, a bolha também poderá atingir grandes instituições e um certo receio ainda paira. Mas, enquanto isso, os bancos maiores seguem a sua saga de aquisições de outras instituições financeiras menores ou já atingidas pela crise.

Diante desse contexto, o Silicon Valley Bank foi comprado pelo First Citizens Bank, o Signature Bank foi adquirido pelo Flagstar Bank e o JPMorgan comprou o First Republic Bank. Essas instituições procuram se fortalecer diante da crise e expandir seus projetos de acumulação e reprodução do capital. Em contrapartida, em 10 anos, cerca de 120 bancos foram à falência nos Estados Unidos e, se voltarmos ao início da crise financeira com epicentro nos EUA em 2007, são cerca de 500 instituições. As contradições desse processo revelam uma força que esmaga os menores e faz explodir os lucros dos maiores bancos estadunidenses.

A pergunta que permanece é a seguinte: até quando esse sistema em franco declínio conseguirá blindar, mesmo esses gigantes bancos parasitas da economia mundial e seus gananciosos especuladores? O sistema financeiro mundial opressor não pode se sustentar sozinho, pairando sob um regime de controle monetário artificial sem um lastro econômico real que o fundamente. A própria falência da ofensiva do imperialismo e a luta de classes mundial poderá empurrar de vez esse sistema espúrio para o fundo do poço e abrir espaços para uma outra etapa histórica na sociedade mundial.

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