Conforme a crise que o Hamas desencadeou em Israel evolui, muitos têm especulado sobre a possibilidade do envolvimento direto do Irã na guerra. Além de ser um país oficialmente muçulmano, é uma importante potência regional e sofre com sabotagens do imperialismo há muitos anos, como nas inúmeras sanções econômicas impostas unilateralmente e no assassinato do general Qasem Soleimani em 2020, que gerou uma enorme comoção no Oriente Médio.
Diante dos ataques deflagrados pelo Hamas a partir de 7 de outubro, lideranças dos governos norte-americano, israelense e alemão chegaram a acusar o Irã de estar por trás da ofensiva, ao mesmo tempo, em que admitem não ter qualquer prova que implique os iranianos. Se por um lado, o imperialismo fala grosso através da sua poderosa imprensa, por outro, será que tem mesmo condições de bancar uma aventura militar dessa envergadura?
O histórico recente é bastante negativo para os Estados Unidos, que vêm sofrendo derrotas militares sucessivas, ao mesmo tempo em que enfrenta uma grave crise econômica dentro de casa. Na última década viu as ocupações no Afeganistão e no Iraque ruírem, a tentativa de derrubar al-Assad na Síria falhar diante da intervenção russa e segue insistindo numa guerra perdida na Ucrânia. A possibilidade de mais um conflito militar de grandes proporções não parece ser um desafio simples para o imperialismo, diante da sua própria crise de dominação.
Ao mesmo tempo em que fracassam nas suas aventuras militares, os países imperialistas se veem diante da crescente insatisfação das suas populações em relação ao preço pago por essas aventuras. Tanto em relação aos gastos que pesam nos orçamentos públicos, quanto em relação às consequências indiretas, como o aumento do preço do gás natural e do petróleo no caso da Ucrânia, por exemplo. Uma guerra de grandes proporções no Oriente Médio pode fazer a recente crise energética na Europa parecer um passeio. Por sua posição e capacidade militar, o Irã tem condições de bloquear o fluxo de petróleo do Oriente Médio a partir do estreito de Ormuz.
Criado artificialmente pelo imperialismo, o Estado de Israel está inserido no chamado “mundo árabe”, cercado de países muçulmanos, cuja religião é um alicerce cultural da região. Mesmo dentro da Palestina, o Hamas não é o único grupo que mantém um braço armado, apesar de ser o mais importante atualmente. Duas fronteiras de Israel já observam uma intensificação na troca de ataques, as fronteiras com a Síria e com o Líbano, onde o Hezbollah já responde há anos aos ataques israelenses. Vale lembrar que o Hezbollah surgiu justamente para combater a invasão israelense no Líbano e foi organizado pela Guarda Revolucionária Iraniana.
Mesmo os governos de maioria árabe que não se opõem abertamente a Israel não podem ser negligentes em relação ao aprofundamento da violência genocida do colonialismo israelense. O custo político pode ser alto demais e governos podem cair diante da revolta das suas populações. O drama palestino é um drama dos povos árabes, uma ferida aberta ao longo de décadas. Justamente o Irã foi o primeiro governo a declarar publicamente que existe um ponto de inflexão, uma “linha vermelha”, diante dos crimes de Israel. A ocupação da Faixa de Gaza pode ser o estopim de uma guerra que oponha Israel e os países imperialistas a diversos países árabes.
É claro que o resultado de uma guerra é em grande parte imprevisível, porém os recentes fracassos em missões muito menos complexas do que a atual permitem dizer que não se trata de um panorama favorável ao imperialismo. E diante da explosão de uma guerra nessas proporções, como fica a bilionária ajuda econômica aos nazistas de Kiev? Como ficará a máquina de guerra do imperialismo após a confirmação da derrota do governo Zelensky?