Previous slide
Next slide

Sergey Karaganov

Putin deveria usar suas armas nucleares na Ucrânia?

Antigo conselheiro presidencial de Putin entende que a única forma de a Rússia derrotar o imperialismo na Ucrânia é utilizando armas nucleares contra alvos em países imperialistas

Em artigo publicado no dia 13 de junho, no sítio russo Global Affairs, o professor Sergey Karaganov defendeu a posição de que o governo Putin deve realizar um ataque nuclear preventivo a fim de fazer com que o “Ocidente” (o imperialismo) recue de seus ataques contra a Rússia, dando um fim à Guerra na Ucrânia.

Outrora conselheiro presidencial de Vladimir Putin e Boris Yeltsin, e atual presidente honorário do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia, Karaganov acredita que o país e o governo estão diante de uma encruzilhada.

Em seu entendimento, o conflito da Rússia com o imperialismo (a que ele chama de Ocidente) não irá cessar mesmo com o advento de uma vitória parcial (ou mesmo avassaladora) sobre a Ucrânia.

Argumenta dizendo que “mesmo que consigamos uma completa liberação das regiões do Donetsk, Lugansk, Zaporozhye e Kherson, seria uma vitória mínima”, e que uma vitória mais significativa seria a completa libertação do leste e do sul da Ucrânia. Contudo, mesmo essa conquista não resolveria o problema, pois o restante do país seria terreno fértil para a propagação e intensificação do nazismo ucraniano, o que, inevitavelmente, resultaria em novos conflitos.

O professor também levanta a possibilidade de uma conquista da totalidade do país. Contudo, afirma que consistiria em uma situação ainda mais instável para Rússia, visto que a libertação de toda a Ucrânia das garras do imperialismo necessitaria enorme sacrifício humano, fazendo florescer ódio à Rússia por parte da população local, ódio esse que demoraria décadas para ser dissipado.

Após levantar essas hipóteses, ele conclui que nenhuma delas seria uma boa alternativa para Rússia, pois impediria que o gigante do leste europeu solidificasse seus vínculos na Eurásia. Todas essas alternativas forçariam a Rússia a investir, de forma desnecessária, recursos econômicos e humanos na Ucrânia e manter sua atenção excessivamente focada no imperialismo.

Para ele, o cenário ideal seria que houvesse uma libertação e reunificação do leste e do sul, combinado com uma capitulação do regime de Kiev, rendição esta que incluiria um pacto de desmilitarização. O objetivo seria que o restante da Ucrânia constituísse um Estado amigável que servisse de amortecedor entre a Rússia e os ataques imperialistas. Contudo, aponta que, para isto acontecer, seria necessário que o imperialismo recuasse e se desse por vencido.

Chega então, ao que ele considera ser a raiz do problema (da guerra): o enfraquecimento do imperialismo, que vem progressivamente perdendo território econômico para a China e a Índia, países que teriam a Rússia como sua âncora militar (para enfrentar o imperialismo). Em razão dessa crise, os EUA e a Europa Ocidental não diminuirão sua agressividade perante os países oprimidos, a fim de reconquistar o terreno perdido.

Nesse sentido: “o Ocidente transformou a Ucrânia em um saco de pancadas, a fim de amarrar as mãos da Rússia, o pivô político-militar de um mundo não ocidental, livre das algemas do neocolonialismo. É claro, em um cenário ideal, os americanos prefeririam simplesmente destruir nosso país, a fim de enfraquecer a emergente superpotência, China […] Um Estados Unidos enfraquecido está destruindo a Europa Ocidental e outros países dependentes dele ao empurrá-los em direção a um confronto aberto que se seguirá ao da Guerra na Ucrânia”.

O professor defende que os regimes políticos dos Estados imperialistas seguem em direção ao fascismo e, como consequência desse movimento, será desatada uma Terceira Guerra Mundial, citando que a mesma resultaria de uma escalada dos atuais conflitos: “as movimentações do Ocidente são um claro sinal de que encaminhamos para a deflagração da Terceira Guerra Mundial. Ela já começou e poderia escalar para uma conflagração generalizar, seja por acidente, ou pela crescente incompetência e irresponsabilidade das elites dominantes do Ocidente”.

Mas não é só. Karaganov entende que, após mais de sete décadas de relativa paz, as pessoas se esqueceram dos horrores da guerra e, inclusive, da ameaça das armas nucleares. Por conseguinte, o instinto de autopreservação teria diminuído em todo o mundo, mas especialmente no “Ocidente”.

O período de paz precedente estaria ancorado principalmente nesse instituto, ou seja, no medo de um possível cataclismo nuclear.

Contudo, esse medo teria desaparecido, de forma que a mera existência de armas nucleares não é mais suficiente como uma medida de dissuasão.

Disto, ele conclui que o medo da guerra nuclear deve ser restaurado, para evitar a destruição da humanidade pelas mãos do imperialismo. Segundo ele, a batalha pelo futuro da humanidade estaria acontecendo na Ucrânia: “a configuração da ordem mundial futura está sendo decidida nos campos da Ucrânia, nesse momento. (não apenas a configuração) Mas sim se o mundo a que estamos acostumados será preservado, ou se tudo o que restará serão ruínas radioativas, restos envenenados da humanidade […] Ao quebrar a vontade agressiva do Ocidente, não apenas estaremos salvando a nós mesmos e libertando o mundo de cinco séculos de domínio ocidental, mas também estaremos salvando toda a humanidade”.

Nesse sentido, propõe uma escalada nas ameaças nuclear: “[…] essa operação militar não pode resultar em uma vitória decisiva sem forçar o Ocidente a um recuo estratégico, ou mesmo a uma capitulação. Precisamos forçar o ocidente a abandonar suas tentativas de girar a roda da história para trás, de dominar o mundo […] Contudo, para que isto aconteça, é preciso que as elites ocidentais recuperem seu instinto de autopreservação […] A credibilidade da dissuasão nuclear deve ser restaurada abaixando o inaceitável limite para o uso das armas nucleares”.

Mas e se a elevação da ameaça não funcionar? E se o imperialismo não recuar diante das ameaças? Karaganov chega então à sua proposta, qual seja, o uso preventivo de armas nucleares: “Então teremos que atingir um grupo de altos em vários países, a fim de restaurar o bom senso àqueles que perderam (i.e, os líderes dos países imperialistas)”.

Prossegue então dizendo que seria uma escolha moralmente amedrontadora, mas necessária, pois, se isto não fosse feito, não só a Rússia sucumbiria, mas o restante da humanidade.

Independentemente de sua avaliação ser acertada ou não, o fato de Karaganov, um cientista político de relevância na Rússia (é presidente honorário do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia, já tendo sido conselheiro presidencial de Putin e Yeltsin), defender que é necessário um ataque nuclear preventivo contra os países imperialistas é certamente uma demonstração de que a questão da Ucrânia e a ofensiva imperialista contra a Rússia não estão perto de terminarem, e que a situação tende a escalar para um conflito aberto do imperialismo contra o conjunto dos países oprimidos.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.