É surpreendente a confusão que as pessoas (inclusive, e principalmente, os médicos) fazem entre “ciência”, “progresso”, e uso irrestrito de tecnologia para o tratamento de doenças – ou sua prevenção. Parece que perdemos a capacidade de raciocinar de forma isenta. Muitos ainda analisam a ciência como um ente objetivo, infensa às flutuações culturais do seu tempo, sem sofrer as pressões brutais do capitalismo que, em última análise, a mantém, financia e controla. Um exemplo disso é a reação pífia de médicos e da população em geral diante da recente retirada de circulação da vacina da AstraZeneca. “De um total de 40 casos prováveis e confirmados de Síndrome de Trombose com Trombocitopenia distribuídos por dose de vacina para covid-19, notificados no e-SUS Notifica Brasil (excluindo-se São Paulo), 34 foram atribuídos à vacina da AstraZeneca”. Aliás, essa foi a vacina que eu tomei, de cujo risco jamais fui alertado.
Já pararam para pensar o que aconteceria com o pobre mortal que resolvesse questionar a segurança dessas medicações há….. apenas 2 anos? O que aconteceu com quem teve a coragem de perguntar: “Essa medicação foi adequadamente testada?”. Não precisa imaginar; existem milhares de exemplos de “bruxos” queimados nas fogueiras por ousarem desafiar as verdades inquestionáveis da BigPharma – transformadas em “ciência isenta”. Os que ousaram fazer perguntas inconvenientes foram aqui chamados de “Negacionistas!!!!“, ou rechaçados aos gritos de “Bolsonarista, vá tomar Cloroquina seu idiota!!” Criamos uma tal polarização no debate sobre medicamentos que a análise racional foi impiedosamente sepultada, completamente consumida pela dualidade irracional que se formou. Pessoas como eu – de esquerda mas também radicalmente céticas em relação ao compromisso ético das corporações farmacêuticas – eram impedidas de comentar, pois corriam o risco de serem espancadas – e por ambos os polos digladiantes.
“As empresas farmacêuticas gastam US$ 480 bilhões todos os anos” (quase meio trilhão de dólares). “Desse valor, 5% vão para pesquisa e desenvolvimento; os outros 95% são gastos em marketing. Há muito interesse próprio trabalhando nos bastidores para criar novos distúrbios e disfunções, medicalizando a vida cotidiana, retratando problemas leves como sérios, ampliando os limites do diagnóstico, criando ferramentas de avaliação extensas e corrompendo a pesquisa médica”. (veja o artigo completo Med Men aqui)
… e destruindo a reputação de pesquisadores do mundo inteiro que ousam perguntar sobre a segurança e a efetividade das drogas que somos forçados a usar.
Impossível olhar para a ação predatória dessas gigantes multinacionais da BigPharma e não imaginar a cena da chegada dos navegadores europeus em terras do Novo Mundo, no final do século XV. Era de se imaginar que a reação mais natural por parte de quem os recebia seria a desconfiança. Afinal, por que haveriam eles de oferecer presentes sem exigir algo (valioso) dos nativos? E por que deveria esta troca ser justa, se os forasteiros aqui chegavam com suar armas, seus germes e seu aço, enquanto os indígenas estavam vestidos apenas com sua ingenuidade, seu assombro e sua nudez? Por certo que, entre os, nativos algum deles questionou: “Será mesmo seguro receber por aqui gente tão estranha? Será que o que trazem é verdadeiramente algo de bom para nós?”
Entretanto, por certo que estes últimos não foram ouvidos. Enquanto eles falavam, os outros se embeveciam com os badulaques, espelhos e contas coloridas presenteadas pelos viajantes, hipnotizados e embriagados pelo brilho fulgurante das novidades, as quais obliteravam a percepção completa da realidade. É provável que aqueles que alertaram para os perigos do contato com os europeus foram imediatamente tratados com rudeza, e até mesmo violência. Hoje, o modelo de publicidade das farmacêuticas americanas leva o consumidor de lá a ver as drogas como mais um artefato de consumo, como sapatos, armas, carros e bijuterias, mas poucos são os que se dão conta da armadilha na aventura das drogas. E o pior: trazem para cá como se fossem a “última moda em Nova York”. E nós, ingenuamente, compramos…
“Os fabricantes de dispositivos organizam ou alugam estandes em conferências, onde envolvem os principais líderes de opinião (pagando) médicos famosos em suas áreas para falar e recomendar seus produtos; os fabricantes também tratam compradores em potencial com jantares luxuosos, sacolas de brindes e preços promocionais que tornam os procedimentos mais lucrativos ao longo do tempo.”
Oferecer o status de ciência a empresas capitalistas multinacionais que lucram com diagnósticos cada vez mais forçados (muitos deles criados apenas para favorecer a venda dos remédios) e com o consumo das drogas que elas próprias vendem é um erro que pode ter efeitos devastadores para a humanidade. Segundo a professora da Universidade Georgetown Professor Adriane Fugh-Berman sobre o tema da criação de enfermidades, “O marketing de medicamentos pode começar de sete a dez anos antes de chegarem ao mercado. Como é ilegal promover um medicamento antes de ele ir para o mercado, o que eles estão promovendo é a doença. Isso não é ilegal porque não há regulamentação sobre a criação de enfermidades”. Em 12 anos, os Estados Unidos pularam de 3.6 bilhões em publicidade de drogas para 32.7 bilhões, um acréscimo de quase 1000% no montante dispendido, uma estratégia cada vez mais agressiva para que essa “pílula” seja mais fácil de engolir. Mais interessante é ver que a maioria das drogas prescritas – quase 70% delas – 92 das 135 drogas mais populares – são aquelas consideradas como pouco efetivas. Ou seja: a propaganda de medicamentos nos faz comprar lixo, ou pílulas de baixo efeito para a melhoria da saúde, mas que oferecem alta lucratividade para os mercadores de drogas.