Depois do suposto vazamento de vídeo no qual o apresentador ultra reacionário José Luiz Datena incentiva o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) a “peitar o PT” para tê-lo como vice, alguns dirigentes do PT procuram defender o psolista divulgando a versão fantasiosa de que Boulos não estaria tramando com Datena, conspirando contra o PT, como ficou evidente, no vídeo da “conversa de amigos” que não foi negado pelos protagonistas.
Isso numa clara tentativa de conter a revolta que a conversa gerou no interior do próprio PT, com o claro posicionamento contrário da maioria dos setores de base do partido.
Em uma publicação no twitter, por exemplo, o deputado estadual e dirigente do PT Simão Pedro (SP) , postou foto sorridente ao lado do psolista e escreveu que
A postagem é seguida de vários comentários de ativistas da esquerda que se opõem à colocação, afirmando – dentre outras coisas – que: “O PT não aprende nunca. Vão destruir o PT de SP como fizeram com o PT do RJ. No Boulos eu não voto nem q Lula me peça pessoalmente. O PT vai ter q quebrar a cara até aprender, se é q vai aprender um dia”; “[Boulos] é o tipo de aliado que está pronto pra passar a perna no PT (mais uma vez)”; “Ele claramente concordou com tudo. Se fosse contra, teria manifestado essa discordância publicamente. Boulos tirou votos de um monte de companheiros e agora trama contra o PT. O PSOL já nos traiu antes e segue firme nessa linha. Petista tem que apoiar petista” etc..
Amigo de fascista?
A “defesa” de Boulos sobre o ocorrido foi afirmar, depois do vazamento, que a conversa era “coisa de corintianos”, ao tentar explicar – com enorme cinismo – que “Datena, o craque Neto e eu nos encontramos com outros amigos corintianos“, em sua casa. O que nada explica sobre a conspiração contra o PT proposta pelo apresentador, que em nenhum momento foi criticada pelo deputado.
Boulos, junto setores da esquerda pequeno-burguesa, é um dos ardorosos defensores da política de frente ampla, de aliança com a burguesia golpista, a direita tradicional em crise, como PSDB, MDB, PP e etc., em nome de que seria preciso fazer de tudo para “combater o fascismo”. Como explicar então a “amizade” por ele declarada com um notório fascista, não de palavras, de postagens na internet a favor do fascismo, mas responsável por uma ação cotidiana a favor da ação nazista da polícia contra o povo pobre, negro, trabalhador, propagandista da tese facista de que “bandido bom é bandido morto” e autor de frases que mostram seu caráter nazista:
“Eu fritava esse cara na cadeira elétrica rindo!
“O serviço público no Brasil, seja ele qual for, é sempre uma porcaria! PORCARIA!!!
“Não dá pra combater o crime com flores, tem que mandar é cravo neles!
“Um monstro desses devia ser enforcado no paredão da cadeira elétrica dentro da câmara de gás!
“Bandido na cadeia e polícia na rua!”
“Se levantar a arma para a polícia, prega fogo nele!”
Ao tentar, sem sucesso, explicar o ocorrido Boulos procura disfarçar o fato de que foi denunciado de participar de uma conspiração contra Lula e o PT com o argumento nada favorável de que desfruta de amizade com um notório fascista, inimigo não apenas da luta do povo pobre e sofrido, perseguido pela repressão, mas da sua própria existência, uma vez que celebra em “verso e prosa” a ação criminosa da PM e demais forças de repressão que matam por ano, em média, mais de 6 mil pessoas no País.
Em outras palavras, o “inimigo” dos fascistas de palanque e das entrevistas e postagens na internet, no mundo real aparece como realmente é, “amigo” do fascista de carne e osso.
A conduta do PT
O episódio é revelador da conduta política covarde de certos setores dirigentes do PT que vêm, há tempos, “dando cartaz” para políticos carreiristas aproveitadores do prestigio de Lula e do próprio partido e, de certa forma, se humilhando como se fosse o PT que precisasse do apoio eleitoral deles e não o contrário.
Não se trata, infelizmente, de uma conduta nova. Seja no caso de Boulos, seja no caso de outros políticos burgueses e pequeno-burgueses que fazem do apoio do PT um trampolim para suas carreiras, claramente apoiadas por setores da direita e da venal imprensa capitalista.
No caso de Boulos, o PT se submete a um elemento que vem atuando sistematicamente contra o próprio partido, contra a esquerda e contra o povo brasileiro e que se destacou, dentre outros episódios:
- por ter liderado a reacionária campanha Não vai Ter Copa, se juntando à direita que procurava atacar os governos do PT e criar pretexto para a campanha golpista, que receberia um impulso com a derrota do Brasil na Copa e com a campanha de Boulos e outros setores da esquerda pequeno-burguesa, contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, com amplo apoio da imprensa golpista;
- Por ter atuado para rachar a Frente Brasil Popular, frente da esquerda criada para lutar contra o golpe de Estado e que congregou as maiores organizações dos explorados do País, criando sua própria frente, a Frente Povo Sem Medo, incluindo grupos que concordavam com o golpe, como certos setores do PSOL que defendiam a Lava Jato, e que procurou em todos os momentos decisivos criar obstáculos a uma mobilização em defesa do governo Dilma contra os ataques da direita;
- atuar como “funcionário” do IREE – Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa -, que se subdivide em vários grupos de trabalho, tendo um para o mercado financeiro, outro para indústria, para direitos humanos e até para defesa, com notórios dirigentes direitistas, como o empresário e advogado Walfrido Vargues; Queiroz Monteiro Bisneto, advogado, filho do senador tucano Armando Monteiro Neto, do PSDB; Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa no governo Temer e Sergio Westphalen Etchegoyen, general de Exército, ex-chefe do Estado Maior do Exército durante o golpe de 2016. Um Instituto que tem parceiros como Global Americans, vinculada ao Departamento de Estado norte-americano e à CIA e que recebe verbas e, é claro, orientação politica (“pois quem paga a banda escolhe a música”) dos maiores inimigos do povo brasileiro.
Dando sequência à essa política que segue aos interesses do imperialismo e da burguesia golpista, neste momento, Boulos, enquanto cuida dos seu interesses eleitorais e se junta com “amigos” como Datena, se dedica – por exemplo – a construir a chamada Rede do Futuro, um agrupamento latino-americano liderado pelo PSOL e por outros partidos bem quistos pelo imperialismo, como Gabriel Boris (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia), que visa se constituir em uma “alternativa”, na realidade um oposição de direita ao Foro de São Paulo, liderado pelo PT, PC Cubano, PSUV da Venezuela, que sofrem duros ataques do imperialismo, tão solidário no patrocínio das organizações frequentadas por Boulos e pelo PSOL.
Apoiar Boulos é um crime contra a esquerda e o povo trabalhador, mas antes de mais nada contra o próprio Partido dos Trabalhadores. Não por acaso, Datena – um político direitista que chegou a ser cogitado como candidato da chapa majoritária de Bolsonaro, nas últimas eleições gerais, em São Paulo – vislumbra, propõe e atua junto a seu “amigo” Boulos, para “peitar o PT”.
É evidente que com o apoio à candidatura Boulos, os dirigentes do PT estão criando “cobra” para se picar. Uma política, liquidacionista e reacionária, uma vez que o candidato que merece o apoio e o afago de setores da direita golpista e da sua imprensa não deve ser apoiado pela esquerda que se reivindica socialista e defensora dos interesses dos trabalhadores.
