O PSTU, como toda a esquerda pequeno-burguesa, quer fazer política por meio das instituições burguesas. Apoiou o impeachment de Dilma Rousseff no golpe de 2016 e agora quer que a Justiça coloque Bolsonaro na cadeia, em vez de fazer uma luta política que enfrente e supere a extrema-direita. Como vemos em matéria sobre Bolsonaro publicada em seu sítio, neste 4 de maio, sob o título “Vacinação forjada pode ser só o início da esteira de escândalos”.
O primeiro parágrafo já dá o tom do que vai ser o artigo: “Esta quarta-feira, 3, amanheceu com as imagens da Polícia Federal cumprindo uma série de mandados de busca e apreensão na casa de Bolsonaro. Em se falando de um ex-presidente que contrariou tranquilamente dezenas de artigos do Código Penal, incluindo uma tentativa de golpe e o recente contrabando de joias milionárias, não deixa de ser irônico que a operação da PF ocorresse por conta da falsificação do cartão de vacinação”.
Se tem uma coisa que a esquerda deveria repudiar, são essas operações da Polícia Federal. Usaram e abusaram desse recurso contra militantes do PT e até contra Lula. Não cabe a quem se diz de esquerda, ainda mais trotskista, repercutir esse tipo de coisa como se fosse algo normal. Condenamos esse tipo de espetáculo com a esquerda e não faz sentido apoiar quando fazem isso com nossos adversários políticos.
A esquerda deveria fazer um paralelo com a operação Lava Jato, são os mesmos métodos. E essa operação foi planejada e orquestrada pelos Estados Unidos. Não estariam os americanos por trás dessa ação contra Bolsonaro tentando fortalecer a Terceira Via?
A direita usou a polícia contra a esquerda porque controla o aparato repressivo do Estado. Fortalecer essas instituições é dar munição para o inimigo. Quem garante que no próximo mandato presidencial teremos alguém de esquerda? Se a direita, ou a extrema-direita, voltarem ao poder, todas essas instituições, que estão sendo cevadas pela esquerda, atuarão ainda mais duramente contra nós.
Outro erro do PSTU é dizer que tenha havido uma tentativa de golpe no dia 8 de janeiro. Os militares sabem muito bem como dar golpe de Estado. Fizeram isso em 64 e em 2018 ameaçaram dar um golpe no caso de o STF não mandar prender Lula. O que ocorreu em janeiro não chega nem perto desses eventos, foi uma demonstração orquestrada pelas Forças Armadas para enfraquecer o governo Lula, recém-empossado.
Tiro no pé
A experiência tem mostrado que esse tipo de ação não ajuda em nada. Se tirarem Bolsonaro do poder, nem por isso terá sido derrotado o bolsonarismo. O próprio Arthur Lira aventou a hipótese de se eleger um Tarcísio, um ‘bolsonaro’ mais palatável para a burguesia.
Quando prenderam Lula, sua popularidade aumentou, poderia ter vencido as eleições mesmo estando preso, não fosse o STF – que parte da esquerda acredita defender a democracia – ter cassado seus direitos políticos.
Nos Estados Unidos temos o mesmo fenômeno. Havia uma disputa interna dentro do Partido Republicano para concorrer contra a Trump o direito de sair candidato às próximas eleições. Após a enxurrada de ações judiciais contra si, Trump disparou nas intenções de voto. Poucos dias antes de seu depoimento, arrecadou US$ 8 milhões em contribuições de seus eleitores. Ron DeSantis, se retirou da disputa quando sentiu que não seria páreo para o ex-presidente.
Os eleitores de Donald Trump sentiram que se trata de uma perseguição judicial, uma chicana para tentarem impedir sua reeleição. No Brasil não é diferente, os eleitores de Bolsonaro o enxergam como uma vítima. E mesmo que não concorra às próximas presidenciais, pode muito servir de cabo eleitoral para alguém pior do que ele.
Pinga-sangue
A matéria do PSTU remete muito mais às páginas policiais sensacionalistas do que de um partido de esquerda: “Os crimes que Bolsonaro e seus cúmplices podem incorrer vão de peculato eletrônico, infração de medida sanitária, falsidade ideológica até corrupção de menores”. Não bastasse isso, apela uma descrição dos fatos que mais se parecem com uma espécie de vingança, como vemos neste trecho: “Atordoado e chorando copiosamente em entrevista à emissora de ultradireita Jovem Pan, Bolsonaro parecia não estar preparado para enfrentar essa denúncia, em meio a tantas que já lidava. O mais interessante, porém, não é nem a falsificação das carteiras de vacinação em si, o que já seria motivo para jogá-lo na Papuda”.
Esses, definitivamente, não são os métodos da esquerda.
Mas, e o Lula?
Como não poderia faltar, o PSTU aproveita para atacar o governo Lula e questiona sua ‘política frente aos setores golpistas bolsonaristas’. E afirma que “Embora no discurso o governo ataque a ultradireita, na prática, se omite a lutar até as últimas consequências contra eles”, ou “enquanto ocorria a operação contra Bolsonaro, Lula anunciava um outro general para o GSI…”.
Esse partido ignora as dificuldades que o governo vem enfrentando para governar. O PSTU deve se lembrar que a própria candidatura Lula vinha sendo sabotada por parte da esquerda. A eleição, por conta disso, inclusive, foi muito dividida. Não dá para ficar cobrando agora, atitudes de um governo forte, pois não é o caso.
Omissão
A esquerda pequeno-burguesa não quer dar o combate político necessário para derrotar o bolsonarismo. Primeiro, porque é trabalhoso e; segundo, porque é ideologicamente presa à burguesia.
O trabalho da esquerda é o combate político, o debate, o convencimento. Não adianta ‘cancelar’, tratar as pessoas de ‘gado’ e deixá-las de lado, pois serão atraídas pela direita. Teríamos que extrair das fileiras do bolsonarismo aqueles elementos confusos da classe trabalhadora que se bandearam para o outro lado. É trabalhoso? Sim, mas é duradouro e efetivo esse tipo de conquista.
Apelar para Justiça para derrotar o bolsonarismo é usar os métodos da própria direita, o que só pode fortalecer a extrema-direita, pois mesmo que Bolsonaro não se eleja, todo o ambiente político estará favorável para os nossos inimigos.
