Dois dias antes da realização deste artigo, no dia 17 de novembro, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) publicou uma extensa matéria em seu blog e, ao observar os acontecimentos recentes, seria compreensível imaginar que se trata de uma reportagem denunciando o genocídio do povo palestino pelas forças de ocupação sionistas. Porém, como já é de costume, o PSTU está aqui para mostrar que é de onde você menos espera que realmente não vem nada que preste.
Na última sexta-feira (17), em matéria cujo título é “Greve da USP e movimento estudantil: Balanço e lições”, o grupelho faz o que sabe fazer de melhor em todas as suas reivindicações: atacar o maior partido de esquerda da América Latina e, especialmente, a figura do presidente Lula. Já no primeiro parágrafo, onde afirmam ter “construído um grandioso movimento na USP”, a redação faz questão de enfatizar que combateu as privatizações “vindas pelas mãos de Lula” e, sobre esta frase em específico, há dois comentários relevantes. Antes de tudo, há de se compreender que o PSTU não fez nenhum combate real contra uma privatização sequer, seja do Metrô, da Sabesp ou da CPTM. O que eles chamam de “enfrentamento” contra os ataques e privatizações é, na realidade, uma greve de um dia que não possuiu sequer um único ganho político, tampouco tendo amenizado os ataques realizados pelo Tarcísio. Para o PSTU, porém, a forma tradicional de luta é o enfraquecimento dos movimentos de luta, provocando rachas e fracionando as organizações que funcionam. Então podemos analisar que, sim, pelo seu histórico fracassado, não fazer nada de fato eficaz já foi um bom começo. Segundo, porém, chama a atenção do destaque nominal ao presidente Lula, que não tem sido um líder revolucionário que combate todos os projetos privatistas – como nunca se propôs a ser, como também não tem agido em prol das privatizações. O PSTU, não satisfeito, elencou um sítio exclusivo para os internautas poderem acessar e compreender melhor os “ataques vindos pelas mãos de Lula”.
No parágrafo seguinte, porém, há uma análise correta – pelo menos na primeira metade. “A greve se iniciou com uma explosão de revolta, que ocorreu não por causa do DCE, composto pelo Juntos, Correnteza e UJC, mas apesar dele, pois a entidade, ao longo do ano, não teve como seu centro a preparação dos estudantes para lutar.” É um fato. Os grupos Juntos, Correnteza e UJC, respectivamente PSOL, UP e PCB, não passaram de grupos que visam obter o DCE e construir carreira política, fazendo parte do sindicalismo acadêmico e não se diferenciando, em muitos pontos, da UJS do PCdoB. Faltou ressaltar, no entanto, que o Rebeldia, do PSTU, não difere de forma geral desses grupos, todos identitários, anteriormente mencionados. “A falta de preparo significou que na maior parte dos cursos a greve foi debatida pela primeira vez na assembleia que deflagrou a greve”, continua o texto, de forma também acertada, mas acrescentando que “em termos das assembleias gerais da universidade, o tema da greve só foi cogitado depois do caminho para isso ter começado a ser construído em cursos como a Letras, em que o Centro Acadêmico conta com a presença do Rebeldia e independentes”. É verdade, porém, que começou no curso de Letras, mas a presença do Rebeldia ou não no Centro Acadêmico não mudou em nada a vontade de se organizar que os estudantes possuíam, visto o tamanho da mobilização que se formou não graças ao comando de greve, mas apenas com o comando de greve – que, de fato, não comandou grandes lutas.
O texto é extenso e conta com muitas páginas de discussão sobre a greve, com longos detalhes e críticas ao movimento, mas outro ponto de destaque é quando a redação afirma que, para que a greve seja eficaz, “é essencial que os estudantes compreendam a história das lutas estudantis e as possibilidades que a greve oferece como ferramenta de protesto”. Novamente, é real a constatação, mas o que fez o Rebeldia senão direcionar a greve na Universidade de São Paulo, a maior universidade da América Latina, contra o governo Lula, desviando a luta central e, junto aos membros do DCE e dos grupos citados pelo próprio PSTU, desvirtuado a luta, com pautas identitárias e irrelevantes para a mobilização da classe trabalhadora e a vitória do movimento grevista?
De forma crítica ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), que realmente nada fez pela mobilização, o PSTU aponta que houve uma política equivocada em diversos momentos, como muitos erros nas tentativas de encerrar a greve. Vale um destaque, porém, neste tópico, pois durante uma assembleia que, por algum motivo, ocorreu de forma virtual do curso de Letras, liderado pelo Rebeldia (PSTU), os membros do PSTU que faziam uso da palavra e da tribuna, se assim podemos chamar, o faziam visando o fim do movimento, explicando as reuniões do comando de greve com a reitoria e não explicando, no entanto, como se daria o movimento de luta e a construção de algo ainda maior – caso fosse este o seu objetivo.
O artigo defende, como princípios norteadores do movimento estudantil, a independência de classe, a democracia operária, o combate às opressões e a aliança com os trabalhadores. Vale ressaltar, uma vez mais, que são ideias que quando não são vagas e ficam apenas na teoria, são mal executadas se postas em práticas. Em uma quarta-feira, o movimento estudantil se uniu aos trabalhadores dos serviços privatizados em São Paulo, provocando uma greve sobretudo infértil, que parou a cidade de São Paulo durante um dia por um motivo válido, mas sem um plano de luta, um objetivo concreto ou um projeto de união da luta dos estudantes com a luta dos trabalhadores, sendo esta a de maior impacto na sociedade como um todo.Por fim, o texto conclama os estudantes a se engajarem politicamente, a se organizarem sob a bandeira do socialismo e a se unirem na construção do Rebeldia, uma organização política comprometida em intervir nos processos de luta, promover debates políticos e lutar por mudanças significativas na sociedade.
Em síntese, o texto destaca a importância da preparação, mobilização e organização para o sucesso da greve, com parágrafos extensos e uma política vazia, fazendo uma propaganda do Rebeldia como o principal meio para a construção de uma greve real e vitoriosa. Esqueceram de falar, porém, que o Rebeldia “constrói” não só movimentos que não atingem a vitória, como seu histórico de luta não é de “construção”, mas da verdadeira desintegração de movimentos já formados e combativos, como é o caso da CSP-Conlutas, que de luta não tem nada e apenas serviu para tentar rachar a própria Central Única dos Trabalhadores (CUT).