O Futebol Brasileiro costuma ser muito atacado pela esquerda pequeno burguesa, em coro com a imprensa que segue as orientações do imperialismo. Isso ficou muito claro durante a Copa do Mundo e com os ataques constantes ao melhor jogador brasileiro Neymar. Contudo até quando essa esquerda tenta defender o futebol ela pode defender políticas reacionárias, principalmente com a atual linha repressiva que a esquerda pequeno-burguesa vem adotando pela influência do identitarismo. É o caso do PSTU que escreveu o artigo: “As apostas esportivas e a mercantilização do futebol no seu estágio mais profundo”.
O texto começa introduzindo o tema da influência das empresas de aposta no futebol: “Nos últimos anos, o esporte se viu cada vez mais imerso no mundo das apostas esportivas. Nesse ano de 2023, campeonatos como a Copa do Brasil (Betano) e o Campeonato Carioca (Betnacional) estão sendo patrocinados por sites de apostas esportivas eletrônicas, mais uma expressão da profunda mercantilização na qual os esportes e, nesse caso, o futebol se encontra.” De fato são mais um setor da burguesia que intervem no esporte, em 2022 houve ainda o caso da Fatal Model, empresa de prostituição, e além dessas há os grandes monopólios como Ambev e Itaú. O que não significa que não é valido discutir a questão das “bets” especificamente.
O artigo faz um apanhado histórico do problema das apostas nos esportes e depois cita casos recentes: “escândalos como o que estourou na série B do Campeonato do Brasileiro de 2022. O caso, que está sendo investigado pelo Ministério Público de Goiás, envolve 3 jogadores (do Vila Nova/GO, Tombense/MG e Sampaio Corrêa/MA) que teriam sido, alegadamente, subornados para cometerem penalidades máximas em jogadores adversários, durante suas partidas no campeonato.” Aqui já é possível criticar o partido morenista. Esse tipo de esquema no futebol existe há décadas, faz parte do controle do esporte pelos capitalistas. Juízes e jogadores são comprados por empresários de todos os ramos e não apenas pelo das apostas. Focar demais nas bets é um desvio da discussão real do problema.
O PSTU então defende de forma velada a política de proibição: “E embora no Brasil esse tipo de atividade seja considerada ilegal, a proibição é meramente ilusória, pois basta ter acesso a um desses sites e se pode cair nesse mundo de apostas. Nesse sentido, é preciso que levantemos a bandeira pelo fim da farra das apostas esportivas no futebol e nos esportes de forma geral, ajudando assim a garantir um mínimo de integridade das competições.” Como dito acima proibir um setor da burguesia, que é secundário, de intervir do futebol não irá resolver os problemas do esporte. E além disso é mais uma defesa da legislação repressiva pela esquerda, algo que deveria ser abolido.
A política atual do imperialismo é de criar cada vez mais leis repressivas como uma feição democrática. Em quase todos os casos o próprio PSTU defende, como a lei de punição ao racismo e a “lei” (interpretação do STF) que pune a LBGTfobia. Essas proibições apenas fortalecem o aparato de repressão do Estado burguês e passam longe de resolver qualquer questão social. No fim, elas são leis que dão mais poder da política, judiciário e sistema carcerário punir trabalhadores pobres. Quanto mais leis repressivas, maior será a quantidade de presos, algo que no Brasil já atingiu o marco de 800mil. Essas teses fortalecem a política repressiva da burguesia, algo que a esquerda deveria combater na totalidade. Não só se posicionar contra as leis repressivas como contra todo o sistema de repressão, pelo fim das polícias, eleição do judiciário e libertação de uma enorme quantidade de presos.
O Estado controlado pelos capitalistas, que também controla a repressão, não é capaz de resolver o problema da ingerência desses mesmos capitalistas sobre o futebol. Da mesma forma, os morenistas comentam como as apostas fazem “mal à classe operária”. Isso pode ser verdade em alguns casos, mas da mesma forma que ocorre com as drogas, o vício no jogo, no caso da classe operária, é produto de uma situação de miséria e sofrimento dos oprimidos. A solução, portanto, não passa pela repressão, mas pela luta pela libertação da classe operária que passa também pela melhora imediata de sua qualidade de vida. A burguesia impõe a miséria que gera toda a decadência dos trabalhadores, é preciso, portanto, lutar contra essa burguesia.
Sobre o futebol também existe uma política que não passa pela repressão. Os verdadeiros interessados no desenvolvimento do esporte são os torcedores e suas organizações e os próprios jogadores. Caso os clubes fossem controlados pelas torcidas, com interesse em que os times tenham o melhor desempenho possível, não seria possível comprar os jogadores da mesma forma. Comprar a diretoria de um clube é milhares de vezes mais fácil que comprar toda a torcida, se é que isso é possível. A política da esquerda para o futebol deve ser para que ele, tal qual a arte, não se submeta as forças externas, que são os capitalistas. O esporte deve se desenvolver por si só, por aqueles que praticam e admiram a arte que é o Futebol Brasileiro.
O PSTU até esboça algo nesse sentido: “é preciso ter em mente que o futebol, enquanto símbolo de amor, alegria e determinação, só poderá ser vivido em toda sua magnitude quando não sofrer mais pressões do sistema capitalista, portanto, num outro tipo de sociedade. O futebol da raça e da paixão não combina com o futebol dos lucros para dirigentes, empresários e casas de aposta. A partir do momento em que os tentáculos sujos do capitalismo coloca sua mão nesse esporte tão querido, ele deixa de cumprir sua missão. O que chamamos de verdadeiro futebol só é possível no socialismo!” mas é uma análise incompleta do quadro.
Os morenistas esquecem justamente da classe operária, a principal base de todas as torcidas. São essas organizações aquelas que travarão a luta contra os capitalistas que intervêm no futebol. O inimigo não são apenas as bets, mas todos os monopólios que controlam o futebol. Já a política em defesa do futebol é que as torcidas tomem o controle dos clubes. Elas não têm interesse em lucrar a qualquer custo, mas sim de admirar essa arte que foi criada pelo povo brasileiro.