“Nem pra esquerda, nem pra direita, eu quero olhar pra frente.” Foi com esse mote que o vice do Bolsodória tentou conquistar os votos do eleitorado paulista. No melhor estilo “nem sim, nem não, muito pelo contrário”, terminou esquálido, como, de resto, o seu PSDB, que mais uma vez saiu derrotado das eleições.
Haddad, que parece ter chegado à política no último fim de semana, não hesitou diante dos microfones da imprensa golpista, sedenta de alguma declaração idiota, e foi logo dizendo que queria “conversar com o Rodrigo”. Passou vergonha, pois o tal Rodrigo Bolsodória Garcia não esperou o dia amanhecer para pular para dentro da canoa bolsonarista e fechar apoio ao Tarcísio no segundo turno.
Enquanto Haddad fica chupando o dedo, tentando descobrir por que as pesquisas erraram, a imprensa trata logo de botar panos quentes num eventual movimento de bolsonarização do PSDB. A questão do Rodrigo, segundo os bastidores, é “pessoal”, pois o seu irmão, Marco Aurélio Garcia, foi condenado por lavagem de dinheiro no escândalo da “máfia dos fiscais”, investigado durante o mandato de Haddad na Prefeitura de São Paulo.
Na ocasião, até a Interpol foi acionada para encontrar Marco Aurélio, então foragido da Justiça, o qual, no entanto, acabou conseguindo um habeas corpus no STJ e, posteriormente, fez um “acordo de não persecução penal”. Segundo a Folha de São Paulo, em outro processo também ligado a esse caso, o mesmo Marco Aurélio Garcia foi acusado de ocultar, por meio de trambiques, um apartamento de Ronilson Bezerra, que seria, este sim, o líder da quadrilha, de acordo com a acusação.
Naturalmente, mesmo sabendo que nem de longe a grande imprensa, peessedebista de carteirinha, faria alarde em torno dessas quinquilharias, Rodrigo fez de tudo para esconder o parentesco com o irmão trambiqueiro e corrupto, que, durante o período eleitoral, passou férias na Itália. Para essa imprensa, como sabemos, escândalo pra valer é o apartamento que o Lula nunca comprou nem usou, aquele que, nas páginas dos jornais e no noticiário da Globo, era chamado de “tríplex” (sem nunca informar a metragem do imóvel, que é o que realmente importa) só para dar a impressão de que o cochicholo de três andares era um palácio nababesco.
Haddad, o civilizado, não teve coragem de explorar essa fragilidade de Rodrigo, talvez imaginando que pudesse ter nele um futuro aliado contra o “fascismo” e a favor da “democracia”. A direita tucana, que se vende como civilizada e inclusiva, não hesitou em acusar Lula até de assassinato, coisa que Mara Gabrilli vem disseminando sem ser incomodada pelo TSE, quase sempre tão cioso de evitar fake News e “discurso de ódio”.
De todo modo, a imprensa, mesmo diante do fracasso retumbante da sua terceira via, continua sendo o muro de arrimo do PSDB. Já trataram de lembrar que Rodrigo passou quase 27 anos do extinto DEM, hoje União Brasil, para onde deve voltar. Em suma, Rodrigo nunca teria sido um “tucano de verdade”, seja lá o que isso for.
Bem, fato é que, para quem não queria ir nem para a esquerda nem para a direita, Rodrigo, entre a esquerda light e reformista de Haddad e a extrema direita bolsonarista, optou por esta última num piscar de olhos: “Nesse segundo turno, temos dois lados. O lado do PT e esse lado. Esse é o meu lado, em que sempre estive. Total coerência na minha decisão”.
Como vemos, Rodrigo quer mesmo “olhar pra frente” e salvar a própria pele, enquanto a direita mascarada do PSDB meteu o pé na areia movediça.