A defesa de Lula à sua política progressista continua a incomodar os infiltrados no governo, tratados como aliados de uma suposta frente ampla. PSB, MDB, Cidadania e PSD não toleram ver Lula 3 sendo um governo à esquerda de seus governos anteriores, e colocam cada vez mais as garras para fora em ataques na imprensa ao petista.
O Diário Causa Operária tem denunciado por diversas vezes a falta de conformidade do bloco golpista infiltrado no governo Lula. Em matérias passadas, trouxemos diversas declarações dos partidos que compõem a “frente ampla” e lideranças partidárias atacando a posição de Lula sobre o Banco Central, questões internacionais e sobre o governo Temer, que Lula “tem a ousadia” de chamar daquilo que foi: um golpe de Estado.
Cada vez mais, a ala direita da frente popular está entrando em contradição com as políticas do presidente Lula e já indica que vai se tornar, na verdade, um entrave para qualquer evolução política do governo à esquerda, impedindo as mudanças que de fato tentem contemplar a classe trabalhadora.
O naufrágio da política de uma frente popular não espanta, pois não é novidade, tem precedentes em diversos momentos da história. Essa política limita, ou mesmo liquida, as reivindicações progressistas por parte dos partidos de esquerda: estes sacrificam sua independência política em troca do apoio da burguesia, que culmina no distanciamento das massas e na diluição de um programa político que realmente poderia fornecer as transformações necessárias para a classe trabalhadora. Lula, neste momento, precisa escolher: rompe com os infiltrados da burguesia e se alia de vez com o povo, convocando mobilizações em defesa de seu governo, ou se arrisca a deixar que Lula 3 seja um fiasco político.
O presidente do Cidadania, ex-deputado Roberto Freire, foi um dos que levaram seu descontentamento diretamente para Lula, sobre as corretas declarações do petista sobre o Banco Central. “Eu estive com o presidente e coloquei muito claramente que temos divergências. Os juros estão na estratosfera, e isso é um problema, mas nós defendemos a autonomia do Banco Central”, disse Roberto Freire.
Na última semana, Lula tem questionado cada vez mais a política reacionária de independência do BC. Nesse período, Lula questionou a taxa de juros de 13,75% e a independência do banco. E também atacou diretamente o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, nomeado para o posto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Quero saber do que serviu a independência do Banco Central. Eu vou esperar esse cidadão (Roberto Campos Neto) terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula.
Lula, enquanto na Argentina, deu nomes aos bois e denunciou o golpe sofrido por Dilma. No MDB, Michel Temer, golpista que assumiu a presidência da República com a queda de Dilma, se sentiu afetado e respondeu o presidente. “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece insistir em manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor, agora tentando reescrever a História por meio de narrativas ideológicas”. A fala revela o cinismo de Temer, este sim, tenta reescrever a história ao negar que o processo de impeachment tenha sido um golpe.
O PSD, que conseguiu arrancar três ministérios do PT, mobiliza Gilberto Kassab para responder às críticas de Lula ao BC, e demonstra em seu discurso que pretende manter o status quo econômico.
“O presidente Lula nesses primeiros dias tem demonstrado, em relação à economia, que quer dar uma guinada. Isso é muito perigoso” disse Kassab, em entrevista que deu ao UOL na semana passada.
Outros pontos que desagradaram a frente popular foi a discussão sobre uma moeda comercial comum entre Brasil e Argentina. O que fica claro, em toda a discussão, é que a política apresentada por Lula tem se movido à esquerda, o que desagrada os defensores da política neoliberal, pois qualquer migalha que atenda ao povo, é imediatamente rechaçada por todos aqueles que cumprem a função de representar a burguesia na política e em seu governo.