A ascensão da extrema-direita no Brasil, materializada pelo bolsonarismo, e a sua radicalização após a derrota nas urnas no final do ano passado, acirraram a luta pela terra no campo. O número de lideranças do movimento sem terra, bem como de indígenas assassinados por latifundiários e pistoleiros aumentou de maneira exponencial, surgindo cada vez mais denúncias de despejos, prisões, ameaças e muito mais. Uma verdadeira escalada fascista nas áreas rurais do País, e o Mato Grosso do Sul é, talvez, o melhor exemplo disso.
Em 2022, foram registrados 5 assassinatos no estado, número que aumentou desde o começo deste ano. No Brasil todo, segundo levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o assassinato de indígenas cresceu 37% em 2020 comparado com 2019. De maneira geral, provas do aumento da violência contra os povos oprimidos no campo.
Na última sexta-feira (08), Magno Souza e outros nove índios Guarani-Caiouá foram presos em Dourados, Mato Grosso do Sul, após despejo ilegal da polícia militar contra a retomada Iwu Vera. A operação foi absolutamente irregular, não tendo sido notificada para nenhum órgão ou instituição e não contando, inclusive, com um representante do Incra.
Frente a isso, Jairo Palheta, membro da coordenação estadual da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), militante e ex-candidato ao governo do Amapá pelo Partido da Causa Operária (PCO), denunciou a situação de Magno.
“O companheiro Magno é um exemplo claro de perseguição como eu também sofro aqui no Amapá por essa justiça estadual corrupta. Vão utilizar todas as formas possíveis para que ele seja desmoralizado publicamente porque é assim que o Estado funciona a favor do grande capital, a favor da burguesia. Querem desmoralizar as lideranças que se levantam e tem moral, que tem capacidade de fazer um levante”, afirmou Jairo à equipe do Diário Causa Operária (DCO).
Palheta também denunciou as figuras direitistas infiltradas no governo Lula. O ministro da Agricultura Carlos Fávaro, por exemplo, tem profundas ligações com o latifúndio e defendeu, há pouco mais de uma semana, o armamento da direita no campo contra as ocupações do sem terra.
“Vemos que o governo, infelizmente, está lotado de pessoas que não são da base de apoio do governo Lula, por isso que eles são intransigentes quanto à questão da reforma agrária. Fávaro é um exemplo claro de que eles estão contribuindo para o governo cair, contribuindo para que o governo não seja um governo popular, para que o governo fique impopular nas massas que o elegeram”, disse Jairo.
De fato, o que se observa é que o governo Lula está absolutamente emparedado. Em relação à política interna, não consegue nem mesmo se mexer sem que seja alvo de ataques por parte ou da imprensa burguesa, ou dos militares, ou do Congresso, ou, até mesmo, de seus próprios ministros, como é o caso de Fávaro na questão do campo.
Ainda sobre a situação de Magno e a situação da luta pela terra no geral, Jairo critica a posição do governo quanto a esse tipo de figura direitista, ressaltando que Lula deve, acima de qualquer coisa, se apoiar na mobilização popular para levar adiante um governo dos trabalhadores. Um governo que tenha as condições políticas de concretizar as principais reivindicações do povo oprimido.
“O principal disso tudo é que, mesmo sabendo de toda essa desfaçatez que é Fávaro e de toda sua trupe dentro do governo, que deveria ser dos trabalhadores, o PT não faz nada. Se deixa ser sequestrado por um grupo político que nada tem a ver com a luta popular. Considerando que foi a luta popular que manteve o nome de Lula na dianteira, foi a luta popular que manteve a eleição contra todo esse bolsonarismo que está, infelizmente, enxertado no governo Lula.”
Finalmente, Lula já deixou claro o que pretende fazer em seu governo: atender às reivindicações do povo e reverter as principais medidas do golpe de Estado. Todavia, para tal, precisa de condições políticas que só podem lhe ser fornecidas pelo povo trabalhador. Caso contrário, continuará sob ameaça dos principais setores da burguesia brasileira e internacional, algo que pode, eventualmente, resultar em sua queda.
A luta no campo deve ser mais uma frente de atuação do governo que, convocando os movimentos de luta pela terra – em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) -, deve levar adiante uma batalha ferrenha em prol dos direitos dos sem terra. Batalha essa que deve ter como principal reivindicação a reforma agrária.