Durante a manhã da quarta-feira, dia 9 de agosto, o ex-diretor geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso preventivamente. A determinação foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte da “Operação Constituição Cidadã”.
A motivação foram as ações da PRF no período do segundo turno das eleições de 2022, sob determinação de Vasques. Onde a PRF atuou beneficiando a candidatura de Bolsonaro.
“Temos 13 mil policiais, grande parte dos nossos policiais também eram eleitores do presidente Lula. Além disso, é um crime impossível, que não ocorreu, não tem como. Como falaríamos com 13 mil policiais explicando essa forma criminosa sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem uma reunião, sem nenhum email enviado?” Afirmou Vasques em 20 de junho em sua defesa.
Don Quixote de la Mancha?
Não podemos deixar de notar similaridades entre o personagem Don Quixote de la Mancha e o “herói defensor da democracia” que está prendendo os fascistas, o ministro Moraes. As narrativas não correspondem à realidade e seus preceitos ridículos, havendo um descompasso com a objetividade.
Há um agravante no personagem Moraes, tendo em vista que o personagem Don Quixote, mesmo tendo perdido a razão, era sincero em sua atuação. Já a atuação de Moraes, aparentemente responde apenas aos interesses imperialistas.
Essas prisões não passam de parte de uma campanha contra direitos democráticos. A questão é que ao se retirar os direitos democráticos de um, abre-se o precedente para o fazer com todos, e a mão estatal sempre pesará mais sobre a esquerda e classe trabalhadora.
Houve tentativa de golpe nas eleições de 2022?
Em qualquer análise mais séria é evidente que não houve uma preparação da esquerda para evitar-se um golpe antes da eleição de 2022 ou em qualquer outro momento. O imperialismo e parte da burguesia não prosseguiram com o golpe no executivo, mas mantiveram o congresso, por temerem as consequências futuras com reações da classe trabalhadora.
A vitória de Lula foi uma vitória da classe trabalhadora, de sua mobilização e de ninguém mais. Ao mesmo tempo que o imperialismo e o setor principal da burguesia nacional, não conseguia definir abertamente o resultado da eleição dando outro golpe, também não se opuseram à tentativa de Bolsonaro de pender o fiel ao seu favor.
O caso de Vasques exemplifica bem isso, entre os dias 28 e 30 de outubro, período do segundo turno das eleições de 2022, houve 549 operações da PRF. Essa intensa ação da PRF, principalmente na região nordeste, palco de 272 destas, impediu o acesso de eleitores que se deslocavam às suas urnas.
Depois da repercussão dessas ações da PRF, o próprio Moraes no dia 30 intimou Vasques a se apresentar à sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A conversa durou 15 minutos, Moraes, então presidente do TSE, deu 20 minutos para que se liberasse os bloqueios, e foi informado por Vasques que a operação tinha sido suspensa.
O encontro presencial de Vasques com Moraes ocorreu no início da tarde do domingo, tendo passado mais da metade do expediente de votação. Entretanto, Moraes não prorrogou o prazo do pleito, alegando que a ação havia interferido nos resultados.
Segundo Moraes: “Não tivemos intercorrência gravíssima relacionada a diferenças políticas e ideológicas”. Em relação às filas no final da tarde, muito fruto do represamento, Moraes completou: “Nós vamos analisar obviamente em cada localidade pode ter ocorrido algo diferente, mas em princípio são causas concorrentes”.
Peixinho de aquário
É senso comum que envolvidos nos golpes de 2016, 2018 e nas manifestações criadas para desmoralizar o governo em 8 de janeiro, existem tubarões militares, políticos burgueses e capitalistas. Entretanto, Vasques não se configura como nenhum destes, ele estaria mais para um peixinho ornamental de um aquário desabonado.
Os outros 47 policiais da PRF que estão sendo instados pela Corregedoria Geral da PRF não são diferentes. A situação piora quando olhamos a lista apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR) dos 40 investigados na manifestação de 8 de janeiro.
A PGR deseja ‘punição exemplar’ afirmando que o ‘propósito criminoso era plenamente difundido e conhecido’. Entre os nomes da lista é possível encontrar de servidores públicos a manicures e diaristas, mas nenhum general.
Aí está a razão da PGR solicitar punição exemplar, os investigados de tão pequenos nem poderiam ser classificados como peixes. Nenhum dos altos oficiais das forças armadas que se fizeram presentes ou deram guarida aos manifestantes é sequer citado.
É apenas um jogo de cena, um teatro para a pequena burguesia com ares supostamente de esquerda. Querem prender trabalhadores para justificar o aumento da opressão em geral.
Tigrão com trabalhador, “tchutchuca” com general
O acanhamento do ministro com os verdadeiros golpistas desnuda sua covardia. Não apenas isso, essa parcimônia com os generais e grandes golpistas demonstra a impotência, a submissão de Moraes e o restante do STF aos golpistas.
Um tigre com os mais vulneráveis, mas um gatinho perante aqueles que detêm real poder. Esse é o ministro Moraes, assim é o STF, assim é o nosso sistema judiciário.
Essa atuação também demonstra a covardia, está bem fundamentada, perante a população. A burguesia e seus lacaios temem a classe trabalhadora, sem o apoio da pequena-burguesia, e estão neste momento realizando uma reciclagem dos seus agentes enquanto fortalecem sua política opressiva.