Parte da esquerda está tentando vender uma imagem de neutralidade, ou seja, não apoia os sionistas e muito menos o Hamas. No entanto, como já havia dito Lênin, em política não existe neutralidade, sempre há interesses de classe nas tomadas de posição. Parafraseando o bolchevique, na questão do pão, o abastado sempre será o “apolítico”. Na questão do Hamas não é diferente, aqueles que estão satisfeitos com a política imperialista para os palestinos são aqueles que se dizem contra todos os lados.
O problema de alguns setores da esquerda é não poderem se colocar abertamente ao lado do imperialismo. Por isso, dão voltas retóricas para tentar disfarçar, como é o caso do editorial publicado pelo PSTU em seu sítio no dia 12 de outubro. Começam disfarçando dizendo que “Israel está realizando um crime de guerra, terrorismo de Estado e genocídio de todo um povo”. Depois, tiram uma casquinha do Hamas. “É uma reação justa, embora tenha sido dirigida pelo Hamas, organização com a qual temos enormes diferenças, porque é uma direção burguesa”. – grifos nossos.
Foi colocada sorrateiramente a questão da “direção burguesa” porque, finalmente, “é tarefa dos trabalhadores enfrentar os diversos blocos burgueses (…)”. Ora, quem está enfrentando o Hamas? O imperialismo. Não adianta dizer que é preciso enfrentar os imperialistas porque já estão fazendo uma frente única.
O PSTU, embora tenha feito esse malabarismo para tentar camuflar sua posição imperialista, foi menos sutil na avenida Paulista, em uma manifestação pela Palestina, quando tentou arrancar o microfone das mãos de um dirigente do PCO que pedia apoio ao Hamas. A máscara caiu, o PSTU se revelou um verdadeiro cão adestrado para defender os interesses imperialistas. Este partido trata o Hamas como grupo terrorista, assim como faz toda a grande imprensa.
A coisa não fica diferente quando nos deparamos com os “sionistas de esquerda” ou coisas do gênero. Primeiro, é preciso deixar claro que o sionismo é uma doutrina fascista. Vladimir Jabotinsky, o principal ideólogo do Sionismo Revisionista, pretendia que o Império Britânico servisse de apoio para que pudessem colonizar a Palestina. Como os britânicos não estavam dispostos a entregar nada de graça, os revisionistas passaram a atacá-los e fizeram acordos com o fascismo de Mussolini.
Os escritos de Jabotinsky revelam o caráter desde sempre fascista do sionismo: “A colonização sionista deve ser terminada ou levada a cabo contra a vontade da população nativa. Esta colonização pode, portanto, ser continuada e progredir apenas sob a proteção de um poder independente da população nativa – um muro de ferro, que estará em posição de resistir à pressão sobre a população nativa. Esta é, na totalidade, a nossa política em relação aos árabes… Uma reconciliação voluntária com os árabes está fora de questão, nem agora nem num futuro próximo”. – A Guerra de Ferro (Nós e os Árabes) – 1923.
Michel Gherman, que até outro dia gostava de se dizer um “sionista de esquerda”, quando perguntado no X (antigo Twitter) sobre que faria se estivesse no lugar de Netanyahu, respondeu: “Se tivesse chegado onde chegamos, mesma coisa. (…)”.
A realidade se impõe, todo apoio “envergonhado” ao imperialismo, uma hora mostra a cara, perde a vergonha.