Começou no último dia 16 de dezembro de 2023, o curso “A Questão Palestina”, organizada ṕela Universidade Marxista, programa de formação política do Partido da Causa Operária (PCO).
Ministrado pelo presidente do Partido, Rui Costa Pimenta, o curso trata sobre a história da Palestina, abordando desde questões anteriores à Primeira Guerra Mundial, como a história do povo árabe na região, passando pela formação do Estado de “Israel”, apoiado pelo imperialismo, indo até os dias atuais.
Uma das questões que Pimenta abordou nesse primeiro dia de curso, já pela manhã, foi o fato de que o sionismo, ideologia que guia toda a política de “Israel”, desde os seus primórdios, só conseguiu estabelecer seu projeto colonial após receber apoio massivo do imperialismo britânico.
Antes disto, as tentativas dos sionistas em criar um movimento amplo, quanto mais fundar um Estado supremacista Judeu (o objetivo central do sionismo), sempre fracassaram. Conforme explicou Rui, deve-se ter em mente que o movimento político sionista teve início na segunda metade do século XIX, tendo sido fundado pelo judeu austríaco Theodor Herzl, que escreveu um livro intitulado O Estado Judeu, de 1896, em que sistematiza a ideologia sionista, frisando a necessidade da criação de um Estado Judeu. A justificativa para isto seria a perseguição que os judeus sofriam na Europa, em especial no leste, em países com Rússia, Hungria, Bulgária e Polônia.
Primeiramente, embora não seja o tema desta matéria, deve-se apontar o caráter supremacista da proposta de Herzl: a criação de um Estado Judeu, ou seja, um estado em que judeus – e apenas judeus -, um grupo social caracterizado pela adesão a uma religião, seriam considerados cidadãos.
Em segundo lugar, conforme expôs o dirigente do PCO, embora de fato existisse essa perseguição a judeus no leste da Europa, em especial na Rússia, não iria tardar para o fenômeno se reverter. Afinal, o movimento socialista crescia a passos largos, e iria culminar com a Revolução Russa de 1917, criando o primeiro Estado Operário da história, o qual pôs fim aos pogroms que ocorriam no Império Russo contra os judeus.
Foi também apontado na aula que a maioria dos judeus europeus não queriam deixar os países em que viviam e ir morar em um local de grandes extensões desérticas, típicas do Oriente Médio, como era a Palestina. Os que migravam em razão da perseguição, ou tendiam a migrar para os Estados Unidos ou para o Reino Unido.
A cruzada sionista para erigir um Estado Judeu na Palestina não tinha apelo popular perante os judeus europeus, não obstante a perseguição que sofriam na Europa e em especial no Leste. Inclusive, muitos da comunidade judaica se opunham ao sionismo, por entender que era uma ideologia e um movimento que dificultava ainda mais a inserção dos judeus na sociedade dos países europeus em que viviam.
Assim, mesmo ao fim da Primeira Guerra Mundial, o número de judeus na Palestina não chegava a 10% da população total. Isto após duas décadas de sionismo, que inclusive recebia apoio de banqueiros como o britânico Walter Rothschild (2º Barão de Rothschild), o Barão francês Edmond James de Rothschild e Barão Moritz de Hirsch (da Alemanha).
Eles angariavam recursos, pagavam as viagens de ida de judeus para a Palestina, garantia-lhes a compra de terras e propriedades. Um esquema montado artificialmente na base do dinheiro de banqueiros. Ainda assim, o plano fracassou, posto que seu apoio ainda não era um consenso entre o imperialismo.
A principal potência imperialista do mundo à época, o Império Britânico, só decidiu apoiar o sionismo ao final da Primeira Guerra Mundial. Em primeiro lugar, pois eles tinham interesse na dissolução do Império Turco-Otomano. Ao mesmo tempo, impedir que a luta revolucionária dos árabes contra o domínio turco resultasse em uma grande nação árabe, fazendo o imperialismo perder uma oportunidade do domínio colonial.
Combinado a isto, havia o interesse econômico na Palestina, por ser uma importante rota comercial, em função de ser banhada pelo Mar Mediterrâneo e de sua proximidade com o Canal de Suez. O domínio da Palestina também serviria ao domínio britânico sobre o petróleo do Oriente Médio. Por fim, deve-se frisar que o antissemitismo da burguesia imperialista britânica também esteve por trás do apoio ao sionismo. Afinal, eles queriam mandar para longe da Inglaterra os milhares de judeus que haviam migrado do leste europeu.
Arthur Balfour, ministro das relações exteriores do Reino Unido, responsável por um dos documentos-chave do apoio imperialista ao sionismo, a Declaração de Balfour, era um notório antissemita.
Assim, conforme apontado por Rui, o sionismo só foi viabilizado com o apoio do imperialismo. Antes disto, fracassou por cerca de duas décadas.