Na edição publicada no último dia 9, o jornal burguês Folha de S. Paulo trouxe uma matéria intitulada “Por que PCO incomoda esquerda e agrada bolsonaristas”, assinada por Danilo Thomaz e trazendo algumas das posições mais polêmicas do Partido da Causa Operária (PCO), “quase sempre”, informa, “em divergência com o restante da esquerda”. Surpreendentemente honesta, a reportagem reconhece a coerência do partidário com o “viés clássico marxista”, a saber, “há aqueles que defendem a classe trabalhadora e o desenvolvimento soberano do país, e aqueles que não”, conclui, destacando um ponto que merece mais atenção.
As posições do marxismo, de fato, incomodam a pequena burguesia. Sendo uma classe social detentora de alguns privilégios, seus elementos apresentam uma forte tendência a lutar por mais privilégios, orientando sua luta política pelos mesmos princípios com os quais se orienta sobre tudo: a autopromoção e o carreirismo.
A partir dessa lógica, torna-se plenamente compatível, por exemplo, dizer-se de esquerda e interessado na libertação da classe trabalhadora, por um lado, e ser financiado por inimigos mortais do proletariado, por outro.
O youtuber e ex-PCB Jones Manoel expressou muito bem esse aparente paradoxo em uma de suas famosas lives, ainda que de maneira um tanto cômica. Não é, no entanto, a posição de um blogueiro, de um acadêmico ou mesmo de um parlamentar: é a própria forma de atuar da pequena burguesia, ainda que de maneira diletante, digam ser contra a conciliação de classes, a favor de uma política independente, etc.
O PCO, entretanto, não se limita a defender em abstrato o desenvolvimento de uma política proletária e independente da burguesia. Cotidianamente, o Partido aplica esse conceito, orientando-se por um programa político que tem exatamente essa independência como eixo fundamental, o que termina por colocar o PCO na contramão do senso comum imposto pela burguesia e adotado pela pequena burguesia acriticamente.
As posições do Partido trotskista sobre a liberdade de expressão, armamento civil, a liberdade e o pluralismo político (apenas para ficar em alguns princípios) são frontalmente contrários ao que defende a burguesia e, a despeito da fraseologia esquerdista, quase a totalidade dos principais partidos de esquerda do País.
Sonia Guajajara, Marina Silva, Flávio Dino, Gregório Duvivier e supostos esquerdistas do gênero (“nomes em geral bem-vistos nos meios progressistas”, diz a matéria), são algumas personalidades que rotineiramente ganham as páginas deste Diário Causa Operária, não por motivos verdadeiramente progressistas, mas por emprestarem um verniz de esquerda a políticas profundamente reacionárias.
Como são elementos carreiristas e dependentes de uma autoridade que lhes dê permita confundir os trabalhadores, nada mais natural que reajam às críticas feitas pelo PCO, a exemplo de outro oportunista notório, Guilherme Boulos. Vendo seu meio de vida (semeador de confusão profissional) ameaçado, o atual deputado federal pelo PSOL tratou de fugir das denúncias de suas ligações com a CIA, em uma malfadada tentativa de desacreditar o Partido e também este DCO.
À luz dos desenvolvimentos práticos da luta de classes, de suas manifestações cotidianas, é compreensível que os elementos carreiristas, tipicamente pequeno-burgueses, se incomodem com o PCO, dispensando aos militantes do Partido o mesmo tratamento dado às massas que a essa classe social tanto quer jogar na cadeia. Os operários, embrutecidos por um sistema de exploração insuportável, são uma ameaça aos pequenos privilégios da pequena burguesia. O PCO também. Não se trata de um problema moral ou algo do gênero, mas a própria expressão da luta de classes.