O MRT, nesta quarta-feira (16), publicou em seu sítio a matéria “Lula apoia governo golpista do Peru que reprime e assassina indígenas” Temos visto uma grande insistência do MRT em acusar o governo Lula de apoiar Dina Boluarte, no Peru. Na verdade, esse grupo insiste em escrever o governo “Lula-Alckmin”, que é um truque que parte da esquerda utiliza para legitimar seus ataques, pois, de certa maneira, soa como se a oposição estivesse sendo feita a um governo de direita. Não que o atual governo não possa ser criticado. Porém, vimos o que aconteceu em 2016, quando grupos atacavam Dilma pela esquerda ao mesmo tempo, em que os golpistas investiam pela direta. O governo Lula nem bem começou e, como comprovam os atos de 8 de janeiro em Brasília, vem sendo alvejados pelos dois lados.
Na primeira semana de dezembro de 2022, antes da posse, Lula declarou: “Acompanhei com muita preocupação os fatos que levaram à destituição constitucional do presidente do Peru, Pedro Castillo. É sempre de se lamentar que um presidente eleito democraticamente tenha esse destino, mas entendo que tudo foi encaminhado no marco constitucional”. E, como sempre tem sido o seu tom conciliatório, o petista disse também esperar que “todas as forças políticas peruanas trabalhem juntas, dentro de uma convivência democrática construtiva, a única forma capaz de trazer paz e prosperidade ao querido e fraterno povo peruano”.
É certo que não apoiamos o governo Boluarte, que temos criticado e denunciado. No entanto, é preciso reconhecer os limites diplomáticos a que estão sujeitas as relações internacionais dos países. Essa política do PT não e um raio em céu azul, o Brasil também se relaciona com os EUA e a União Europeia, que mandam armas para a Ucrânia; tem relações com Israel, que ocupa e oprime os palestinos; tem relações com a Arábia Saudita etc. Portanto, embora as declarações de Lula tenham sido negativas, não podemos esperar desse governo um rompimento com o governo peruano, ou notas públicas de repúdio.
Armas para repressão
Em outra matéria, publicada em 4 de fevereiro, e intitulada “Quem é a empresa que lucra com a repressão assassina no Peru e outros países”, o MRT trata da Condor Tecnologias Não-Letais.
Segundo o texto “28.960 bombas foram compradas pela Polícia Nacional de Peru no dia 20 de dezembro de 2022, ainda sob o governo de Bolsonaro, ao custo de US$ 495.356 (aproximadamente R$2,7 milhões de reais) da empresa brasileira Condor, e entregues no dia 14 de janeiro, em mais um caso de cumplicidade do novo governo Lula com o governo golpista de Dina Boluarte, que já deixou mais de 65 mortos”. Essa empresa “é uma das maiores do ramo e fatura milhões exportando para forças armadas de mais de 50 países, lucrando há décadas com a repressão de revoltas sociais”.
A matéria, no entanto, não deixa clara a posição do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) com relação à indústria de armas.
Contra o que lutar?
Em 8 de janeiro, nos primeiros dias do governo, Lula enfrentou uma invasão de manifestantes bolsonaristas a prédios públicos na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Os fatos subsequentes, como o impedimento do Exército que se efetuasse prisões, revelou que havia por trás dos distúrbios a mão do alto-comando das Forças Armadas, especialmente o Exército.
Embora seja precipitado, e equivocado, classificar os atos de 8 de janeiro como ‘terrorismo’, ou ‘golpe fracassado’, ficou patente que existe uma disposição da burguesia em apear Lula da presidência. Além de não ter sido terrorismo, não faz sentido afirmar tal coisa; o ‘golpe’ também não foi derrotado, parece muito mais o primeiro ato de uma política a ser levada adiante pelos generais.
O governo penou para conseguir tirar o auxílio emergencial do teto de gastos. A grande imprensa, em seu conjunto, declarou guerra ao governo, desde que este vem questionando a política de juros e a autonomia do Banco Central. Antes, já havia criticado as falas de Lula sobre a política de preços da Petrobrás e seu desejo de retomar o controle de Eletrobrás.
É muito mais importante, neste momento, juntar forças para lutar contra a burguesia que está tentando emparedar o governo do que se somar aos críticos, ainda que se esteja à esquerda. O governo Dilma, antes do golpe, em 2016, enfrentou uma campanha para evitar o mundial no Brasil. O movimento Não Vai Ter Copa que teve muito espaço nos noticiários burgueses, financiado pela Fundação Ford/CIA, foi utilizado para desgastar o governo e abrir uma brecha para o golpe.
Guilherme Boulos, que ganhou notoriedade no Não Vai Ter Copa, tinha seu espaço garantido no jornal golpista Folha de São Paulo, de onde criticava a política fiscal de Dilma Rousseff.
Em um vídeo, Maíra Machado, criticando a fala de Lula dizendo que é ruim, mas que Castillo caiu dentro dos marcos da constituição peruana. A militante do MRT disse que gostaria de lembrar ao presidente que Dilma também foi deposta com base na Constituição. O que não é fato, pois não houve crime para depor a presidenta. A burguesia havia tentado outras manobras para derrubá-la, mas sem sucesso. Procuraram envolver Dilma com corrupção na Petrobrás, até que forjaram as tais ‘Pedaladas Fiscais’ que, dois dias após o golpe deixaram de ser ‘crime’.
Dizer que Dilma tenha sido retirada do poder com base na Constituição é o mesmo que dizer que não houve golpe em 2016. O mesmo discurso que estamos vendo na boca da grande imprensa burguesa: Folha de São Paulo, Estadão, dentre outros.