Luiz Felipe Pondé, que se apresenta como filósofo ou, como ele se define no X (antigo Twitter), “Colunista da Folha e Comentarista do Jornal da Cultura”, decidiu se abrir sobre a situação na Palestina.
E a melhor forma de dar seu pitaco sobre os acontecimentos no Oriente Médio foi atacando o PCO. Na verdade, seu comentário não explica quase nada, é apenas uma acusação.
“Agora sabemos a verdadeira identidade política do PCO: antissemita. O Hamas deixou a esquerda de saia justa ao revelar aquilo que sempre foi: um grupo terrorista. O antissemitismo de alguns setores da esquerda é uma questão de princípio desde Stálin”.
Agora sabemos a verdadeira identidade política do PCO: antissemita. O Hamas deixou a esquerda de saia justa ao revelar aquilo que sempre foi: um grupo terrorista. O antissemitismo de alguns setores da esquerda é uma questão de princípio desde Stálin.
— Luiz Felipe Pondé (@lf_ponde) October 10, 2023
A referência a Stalin não sabemos direito de onde tirou. talvez é apenas um reflexo direitista de tentar relacionar qualquer grupo marxista ao stalinismo. Mas o que se pode afirmar sobre Stalin nessa história é que ele reconhecia Israel, tanto que a Checoslováquia forneceu armas para os israelenses na guerra de formação do Estado de Israel. O governo da Checoslováquia era do Partido Comunista, controlado por Stalin.
Ao menos nesse sentido, a posição de Pondé está muito mais próxima da de Stalin do que a posição do PCO.
Agora, vamos ao que realmente interessa na acusação de Pondé. Segundo ele, o PCO, assim como toda a esquerda que defende o Hamas, “é antissemita”. Ainda nas palavras dele, a “identidade política” do PCO é antissemita.
O que justificaria essa afirmação? Embora não haja nenhum argumento minimamente elaborado, a lógica seria a seguinte: como o Hamas é um grupo árabe, pela libertação da Palestina e para isso ataca Israel e Israel é constituído majoritariamente por judeus, logo o Hamas é antissemita e o PCO também.
A discussão política é substituída por uma acusação de tipo moral. Interessante é que semita inclui aí os próprios árabes, acusados de “antissemistas”.
O que Pondé faz é uma manobra para não ter que entrar no mérito do problema. Um povo oprimido há mais de sete décadas está se rebelando contra esse massacre.
Ao chamar os que apoiam essa revolta, como é o cado do PCO, de antissemitas, Pondé está usando um truque para não ter que discutir a questão.
É o mesmo truque usado pelos identitários quando não querem discutir seriamente alguma coisa: já vêm logo acusando de machismo, racismo, homofobia etc.
Fazer uma crítica política a uma mulher faz do crítico automaticamente um machista. Se for um negro, o crítico se transforma em racista. E assim por diante.
Ponde usa o mesmo artifício. Defender a resistência palestina, é antissemita, não tem discussão.
Luiz Felipe Pondé é um identitário de direita, ou talvez, um identitário enrustido. Na verdade, esse sempre foi o truque da direita, é que a esquerda identitária está imitando.
A declaração de Pondé nos colocou diante de uma revelação: seria a direita um identitário enrustido ou os identitários uma direita enrustida? As duas coisas estão corretas.