Questão palestina

Política ou concurso de beleza: qual melhor ramo para a esquerda?

Corrente do PSOL expressa o desnorteamento, a confusão e as tendências pró-imperialistas que dominam as organizações da esquerda pequeno-burguesa

A corrente interna do PSOL, Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), uma corrente política pseudotrotskista, publicou nota sobre a questão palestina intitulada Construir uma luta de massas internacional contra o massacre sobre o povo palestino!. A nota é do início de novembro, mas, do ponto de vista político, não é destituído de interesse analisá-la neste fim de ano, dado que ela expressa o desnorteamento, a confusão e as tendências pró-imperialistas que dominam as organizações da esquerda pequeno-burguesa.

Uma posição “horrorosa” sobre o Hamas

Logo no início, a LSR cita na nota os números de mortos palestinos pelos bombardeios do Estado de “Israel”. Sua caracterização, no entanto, vai no sentido de que os bombardeios consistiram em um “ataque de vingança”. Vingança a que, ou a quem? A LSR diz: aos “horrorosos ataques indiscriminados de Hamas que matou 1.400 pessoas e levaram como reféns 200 pessoas em Israel (sic)”. Segundo a corrente psolista, “agora, toda a população de Gaza enfrenta uma punição coletiva”.

A LSR cita, como um dócil cachorro adestrado, sem qualquer questionamento, os números que a própria propaganda de guerra israelense divulgou após a ação do Hamas de 7 de outubro. Tais números, logo nas primeiras semanas depois da ação, mostraram-se como uma farsa. O próprio governo de “Israel” teve que desmentir a si próprio: de 1.400 reduziu para 1.200 a estimativa de mortos. Mas isso não esgota o problema.

O jornalista Max Blumenthal, editor do sítio The Grayzone, realizou uma investigação séria sobre a questão e, de acordo com ele, o número de mortos provavelmente foi cerca de 900. Ele revelou, ademais, que um grande número de mortos foi ocasionado pelas próprias forças armadas israelenses que, para atacar o Hamas, não se importam em assassinar seus próprios cidadãos ― seguindo a chamada Doutrina Anibal, um protocolo militar das forças de “Israel” que autoriza o assassinato dos próprios soldados israelenses para que não sejam capturados pela resistência palestina e usados como prisioneiros.

Nas palavras de Blumenthal: “há cerca de 900 mortes israelenses confirmadas, o que é 500 a menos do número que nos foi dito desde o início, de 1.400 […] Quase 50% desses mortos são soldados israelenses uniformizados que estavam ativamente engajados no cerco de Gaza e eram combatentes envolvidos em um ato de guerra em 7 de outubro”.

A posição da LST sobre a ação política do Hamas, porém, é o grande problema da análise contida na nota. Segundo os pseudotrotskistas, o ataque do Hamas foi “horroroso”. Convenhamos: trata-se de um adjetivo no mínimo estranho para caracterizar um movimento político de grandíssima envergadura que colocou em cheque a “invencibilidade” do Estado de “Israel”. A LSR parece ter esquecido que não está diante de um concurso de beleza, mas de uma luta política de dimensões internacionais e históricas, cujo desfecho alterará o destino não só do povo palestino, mas do mundo árabe em geral, com importantes consequências para o restante do planeta.

Com “horroroso”, a LSR quer dizer que desaprova a ação do Hamas. Mais ainda: dá a entender que é justamente essa ação a “responsável” pela resposta brutal e criminosa de “Israel”. O povo palestino estaria sofrendo uma “punição coletiva” em razão da ação de uma força política individual, o Hamas. É a tese segundo a qual o Hamas não representaria o povo palestino, nem teria vínculos com ele, uma tese bastante veiculada pelas organizações da esquerda pequeno-burguesa. 

Ajoelhando-se perante a posição do imperialismo, a LSR condena a ação do Hamas. Quer deixar claro para os seus mestres que não tem nada que ver com a organização de luta palestina. Condenando a atuação da organização que lidera a luta contra o Estado fascista de “Israel”, a LSR, tendo consciência ou não, coloca-se inescapavelmente num dos lados das trincheiras em combate: a trincheira do sionismo e do imperialismo contra o povo palestino.

Defendemos a luta armada, mas…

A LSR é daquelas organizações doutrinárias que, diante da realidade, não conseguem encontrar uma via de intervenção na luta real e terminam sempre professando lições abstratas, inócuas, que servem sempre aos inimigos das forças que dizem defender.

Para sustentar o não apoio às organizações palestinas que, de armas na mão, enfrentam a maquinaria militar israelense, a LSR expõe sua posição abstrata:

“Defendemos o direito do povo palestino de se defender e de resistir com armas se necessário. Mas isso tem que ser feito junto com mobilizações de massa e com controle democratico de base para envolver toda a população na resistência. Além disso, essa luta tem que se utilizar dos métodos da classe trabalhadora, de greves e organização de base em toda a região, como vimos na primeira intifada de 1987 e na greve por dignidade de 2021.”

Quando a realidade não segue à risca a cartilha da LSR, pior para a realidade. O Hamas, a Jiade Islâmica, a Frente Popular pela Libertação da Palestina e a Frente Democrática pela Libertação da Palestina – ou seja, a frente de organizações políticas que estão impondo a pior derrota ao Estado de “Israel” de sua história – infelizmente não se encaixam nas “normas sanitárias” da LSR. Não são organizações “puras”. Portanto, não merecem ser apoiadas. Pouco importa se são elas que travam, efetivamente, a luta de vida ou morte contra o fascismo sionista. 

A LSR termina defendendo o fim… do capitalismo:

“É só com a derrota desse sistema, com o fim do capitalismo e a instalação de uma confederação socialista do Oriente Médio e baseado nos interesses da classe trabalhadora que podemos garantir a autodeterminação e a liberdade para todos,” diz a organização “revolucionária”.

Somos obrigados a concluir, então, que o fim do capitalismo virá por fora das lutas reais que os povos oprimidos levam adiante contra… o capitalismo. A LSR professa, da boca para fora, o fim do imperialismo, mas, na prática, condena as forças reais que combatem realmente o imperialismo. 

A LSR talvez tenha mais sorte analisando concursos de beleza.

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