Em 2019 teve lugar no Chile, em escala nacional, gigantescos protestos contra o estado de miserabilidade que se encontravam os trabalhadores chilenos. O estado catastrófico do povo foi consequência de décadas de neoliberalismo, que se iniciou com a ditadura fascista de Augusto Pinochet, apoiada explicitamente pelos EUA, com os chamados “Chicago Boys”, economistas que divulgavam a teoria econômica de Milton Friedman. A rapina neoliberal, apesar da derrubada de Pinochet, não foi rompida por nenhum governo posterior. A explosão social, que levou milhares de pessoas às ruas, gerando uma situação pré-revolucionária, foi contida em uma manobra da burguesia, que apresentou como solução uma nova constituição, que acertadamente, sufocou o movimento popular. Outra manobra levada a cabo pela burguesia, foi a eleição de Boric, que se apresentou como um representante à esquerda do regime, substituindo Sebastian Pinera. Apesar do traje esquerdista, se mostrou um homem profundamente ligado ao imperialismo, consequentemente, dando continuidade ao regime neoliberal. Gabriel Boric, exercendo uma política repressiva e identitária, serviu para desmoralizar a esquerda, desta forma, pavimentando o caminho para a extrema-direita.
Após o povo chileno ter rejeitado o plebiscito nacional de setembro de 2022 uma nova Constituição para a República do Chile, em maio de 2023 elegeram, através das urnas, o Conselho Constitucional, órgão que ficou responsável por elaborar uma Carta Magna e convocar um novo plebiscito. Essa ação resultou em uma vitória da extrema-direita, que conquistou 22 lugares no Conselho Constitucional, de um total de 50. O partido governista, ficou em minoria, ocupando apenas 17 lugares. A predominância da direita, aprovou uma série de artigos que prejudicam o povo chileno, como a lei que isenta os ricos e a tentativa de extinguir por completo o direito de aborto, que atualmente é legalizada no Chile em três ocasiões, vigente desde 2017: em casos de gravidez por estupro, em caso de risco a vida da gestante e inviabilização fetal de caráter letal. A lei “que protege a vida que está por nascer”, sugerida pelo Partido Republicano, pode surgir na redação da nova constituição, consolidando uma derrota importante para as mulheres chilenas.
O direito pelo aborto é um passo importante para a libertação das mulheres, sufocado por uma política de cunho religioso que impede na maioria dos países a garantia de tal direito, mesmo nos estados que se apresentam como laica. O risco da completa extinção do aborto no Chile, evidencia o perigo que representa a esquerda identitária, profundamente ligada aos EUA. A trajetória de Boric, desde que foi eleito, foi ações repressivas contra os índios Mapuches, a prisão de estudantes e a continuidade de uma política econômica genocida: o neoliberalismo. Apesar do caráter reacionário do governo, este, se apresenta coberto por um velcro progressista, disfarçando ações nefastas com a política da representatividade, se mostrando uma solução totalmente inócua dos problemas concretos da mulher e de outras minorias.