Revelando uma preocupação cínica com os direitos (e o bolso) dos trabalhadores brasileiros, o jornal golpista Estado de S. Paulo publicou um editorial no último dia 28 intitulado “A hora do pluralismo sindical”, que como indica o título, defende o fim da unicidade sindical. Segundo um dos maiores porta-vozes dos patrões no País, a unicidade sindical seria uma manobra da ditadura de Getúlio Vargas para criar “fluxos garantidos de dinheiro tomado pelo Estado dos bolsos dos trabalhadores”, sem outro objetivo além de arregimentar sindicalistas. Trata-se de um argumento hipócrita, criado sob medida para confundir a classe trabalhadora.
A unicidade sindical é uma conquista do movimento operário brasileiro, que com o monopólio da representação dos trabalhadores sob uma organização, consegue mobilizar sua base para garantir – pela força dessa base – o atendimento às reivindicações dos trabalhadores. É justamente essa força que os patrões buscam quebrar e é para isso que o Estado ataca.
A ridícula argumentação do jornal golpista joga para debaixo do tapete o fato de os sindicatos terem sua direção eleita pelos trabalhadores, de modo que se o peleguismo tomou conta de um determinado corpo dirigente, os trabalhadores dispõem de meios de resolver o problema. Poderíamos acrescentar ainda que a história do movimento operário brasileiro demonstra, de maneira muito clara, que a classe trabalhadora tem uma infinidade de meios de lidar com o peleguismo, nem todos bonitos e civilizados, é verdade, mas inquestionavelmente muito eficientes.
O editorial coloca ainda um questionamento sobre os motivos que levaram o Estado de S. Paulo a retomar um sonho antigo da burguesia, de acabar com a unicidade sindical. Ante a decisão do governo Lula de retomar a contribuição compulsória, seria normal que o órgão da direita simplesmente atacasse a volta do financiamento sindical, como outros jornais da direita, porém o Estado vai além.
A rigor, o peleguismo atacado pelo jornal é impulsionado por seus principais patrocinadores, que até bem pouco tempo atrás, apoiavam os atos de 1º de Maio (dia internacional da luta dos trabalhadores) da principal organização pelega do País, a Força Sindical. A crescente fraqueza da Força, no entanto, ajuda a explicar porque a burguesia brasileira está retomando o plano de quebrar a unicidade sindical.
Durante a greve dos metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional, ocorrida no ano passado em Volta Redonda, os operários se revoltaram contra a sua direção sindical – filiada à Força -, ultrapassando os sindicalistas e decretando sua greve na marra, ultrapassando os pelegos. Faltam dados confiáveis sobre o tema, mas é muito plausível que seja este o verdadeiro medo da burguesia. Uma vez que o peleguismo já não consegue conter o movimento operário, torna-se necessário e urgente quebrar a unicidade sindical e com isso, a força dos trabalhadores.
Apesar do cinismo e dos argumentos medíocres apresentados, existe, uma lição nas colocações do Estado que deve ser considerada pela esquerda e as vanguardas do movimento operário. A burguesia encontra uma grande dificuldade para controlar as massas trabalhadoras, o que coloca às organizações revolucionárias na incumbência de incrementar o trabalho de agitação. As tendências turbulentas verificadas no cenário internacional inevitavelmente se reproduzirão no âmbito interno, obrigando a uma ação dos partidos, dos comitês de luta e das organizações classistas dos estudantes e trabalhadores da cidade e do campo. Devemos estar preparados.