Neste dia 17, domingo, Rui Costa Pimenta ministrou a segunda aula do curso A Questão Palestina, promovido pelo Partido da Causa Operária (PCO).
Dentre os vários temas que foram tratados pelo presidente do Partido, esteve a questão da limpeza étnica, ou seja, a expulsão massiva de palestinos de suas terras, nos anos de 1947 – 1948.
O dirigente comunista expôs que, em razão do problema demográfico (os judeus eram minoria, menos de um terço da população local), a limpeza étnica sempre esteve nos planos dos sionistas, no que diz respeito à fundação de “Israel”.
Detalhando sobre como ocorreu esse processo, o presidente do PCO explico a respeito do chamado Plano “D” (de Dalet). Plano este que recebeu a alcunha de diagrama para a limpeza étnica, pelo historiador judeu israelense Ilan Pappé, em seu livro A Limpeza Étnica da Palestina.
Pimenta fez questão de frisar, baseado em levantamentos históricos, em especial os feitos por Pappé, que a expulsão dos palestinos não acidental, mas algo sistematizado previamente. E meticulosamente calculado.
Durante a exposição, foram lidas citações dos livros, expondo as atrocidades cometidas pelos sionistas, durante a execução do Plano D.
Entre elas, houve um caso em que os suprimentos de água do vilarejo de Acre foram contaminados com tifo. Leia abaixo a citação do livro de Pappé:
“O urbicídio continuou até maio com a ocupação de Acre na costa e Baysan no leste em 6 de maio de 1948. No início de maio, Acre provou mais uma vez que não foi apenas Napoleão quem encontrou dificuldades em derrotá-la: apesar da grave superlotação devido ao enorme influxo de refugiados da cidade vizinha de Haifa, os pesados bombardeios diários pelas forças judaicas falharam em subjugar a cidade cruzada.
No entanto, seu abastecimento de água exposto a dez quilômetros ao norte, das fontes de Kabri, por meio de um aqueduto com quase 200 anos, mostrou ser seu calcanhar de Aquiles. Durante o cerco, germes de tifoide foram aparentemente injetados na água.
Emissários locais da Cruz Vermelha Internacional relataram isso à sua sede e deixaram pouquíssimo espaço para especulações sobre quem eles suspeitavam: a Hagana. Os relatórios da Cruz Vermelha descrevem uma epidemia súbita de tifoide e, mesmo com sua linguagem cautelosa, apontam para envenenamento externo como única explicação para esse surto.
[…]
Em 6 de maio de 1948, no hospital libanês de Acre, que pertencia à Cruz Vermelha, foi convocada uma reunião de emergência. […] Eles concluíram que a infecção era sem dúvida transmitida pela água, não devido a condições lotadas ou não higiênicas, como a Haganá alegava”.
A fim de deixar claro que a intenção dos sionistas era expulsar os palestinos definitivamente de suas terras, Pimenta cita o método de agir das tropas israelenses, para as quais não bastava explodir as casas dos aldeões palestinos. Sob os escombros, plantavam também minas e explosivos, para impedir o retorno daqueles que foram expulsos. Nesse sentido, outra citação de A Limpeza Étnica da Palestina:
“Até o final de maio de 1948, alguns enclaves palestinos ainda presentes dentro do estado judeu mostraram-se mais difíceis de ocupar do que o normal, e levariam mais alguns meses para concluir o trabalho. Por exemplo, tentativas de estender o controle sobre áreas mais remotas da Alta Galileia naquele mês falharam, principalmente porque voluntários libaneses e locais defenderam corajosamente aldeias como Sa’sa, que era o principal alvo das forças judaicas.
[…]
Na ordem [dada] à Brigada Golani para o segundo ataque a Sa’sa, dizia-se: ‘A ocupação não é para permanecer permanentemente, mas para a destruição da aldeia, implantação de explosivos nos escombros e nas áreas próximas’.”
[…]
“’As ordens que as brigadas receberam agora foram redigidas em linguagem mais explícita do que as instruções vagas oralmente que lhes haviam sido dadas antes. O destino de uma aldeia estava selado quando a ordem dizia ou ‘le-taher’, para limpar, significando deixar as casas intactas, mas expulsando as pessoas, ou ‘le-hashmid’, para destruir, significando dinamitar as casas após a expulsão das pessoas e colocar minas nos escombros para impedir seu retorno.’”
Foi igualmente exposto que Jerusalém foi alvo de intensos ataques pelos sionistas, que nem mesmo lhe pouparam o caráter sagrado a que lhe reservavam os palestinos, ou mesmo os cristãos. Conforme mencionado pelo presidente do PCO, Jerusalém, que era conhecida como a Cidade Eterna, ficou conhecida como a Cidade Fantasma, em razão dos ataques. As informações históricas coletadas por Pappé são esclarecedoras:
“O urbicídio não poupou Jerusalém, que rapidamente mudou de ser a ‘Cidade Eterna’, como colocado recentemente por Salim Tamari, para ser uma ‘Cidade Fantasma’. Tropas judaicas bombardearam, atacaram e ocuparam os bairros árabes ocidentais em abril de 1948. […] As tropas britânicas ainda estavam na Palestina quando essas áreas foram limpas e ocupadas, mas elas permaneceram distantes e não intervieram. […] A instrução para as forças judaicas foi muito clara em abril de 1948: ‘Ocupe o bairro e destrua todas as suas casas.’”
[…]
A inação britânica era a regra, no entanto, como destacam os apelos frenéticos de Khalidi em relação ao restante dos bairros de Jerusalém, especialmente na parte ocidental da cidade. Essas áreas foram alvo de bombardeios repetidos desde o primeiro dia de janeiro, e aqui, ao contrário do que aconteceu em Shaykh Iarrah, os britânicos desempenharam um papel verdadeiramente diabólico, desarmaram os poucos residentes palestinos que tinham armas, prometendo proteger o povo contra ataques judaicos, mas instantaneamente renegaram essa promessa.”
Estas, e milhares de outras ações fascistas realizadas pelo sionismo contra os palestinos foram feitas no âmbito do Plano Dalet.
Mas quem, dentre os sionistas, foram os responsáveis por ele? Quem esteve no comando de sua execução? Conforme exposto por Pimenta, o próprio fundador de “Israel”: Davi Ben-Gurion, propagandeado como um sionista liberal, democrático. Ele criou um órgão extraoficial chamado de Consultoria, encarregado de colocar em prática a limpeza étnica da Palestina:
“Em outubro e novembro de 1947, a Consultoria se tornou o grupo de referência mais importante de Ben-Gurion. Foi somente entre eles que ele discutiu abertamente quais seriam as implicações de sua decisão de ignorar o mapa de partição e usar a força para garantir maioria judaica e exclusividade no país. Em assuntos tão sensíveis, ele só podia confiar nessa coterie altamente seleta de políticos e homens militares.
[…]
Foi precisamente porque ele entendia que essas questões não podiam ser discutidas publicamente que Ben-Gurion criou a “Consultoria” em primeiro lugar. Como explicado anteriormente, essa não era uma entidade oficial
[…]
As reuniões ocorriam parcialmente na casa de Ben-Gurion em Tel Aviv e parcialmente na Casa Vermelha.
[…]
A Consultoria, como vimos, era uma combinação de figuras de segurança e especialistas em ‘assuntos árabes’, uma fórmula que serviu como núcleo para a maioria dos órgãos encarregados de aconselhar os futuros governos de ‘Israel’ ao longo dos anos sobre questões de segurança do Estado, estratégias e planejamento político em relação ao mundo árabe em geral e aos palestinos em particular. […] No próximo capítulo, veremos como se deu o desenvolvimento da Consultoria até elaborar um plano final para o despojo de um milhão de palestinos, não importando onde estivessem no país.”
Assim, com a exposição que foi feita nesse segundo dia de curso, em especial no que diz respeito as operações realizadas no âmbito do Plano Dalet, restou demonstrado que “Israel” nunca quis dois Estados, mas sim a completa expulsão dos palestinos.