Na última semana, diversos meios de comunicação da imprensa golpista, como o jornal O Estado de S. Paulo, publicaram matérias pressionando para que Lula adote uma posição direitista de condenação do governo de esquerda da Nicarágua. A atual ofensiva da imprensa burguesa contra a Nicarágua acompanha uma investida do imperialismo a nível internacional, incluindo a ONU.
O clima de intervenção direta do imperialismo na Nicarágua, em construção desde o golpe fracassado ocorrido no período de 18 de abril a 25 de julho de 2018, continua e agora volta a tomar forma, principalmente por conta da fragilidade do imperialismo que teve duras perdas ao ser derrotado no Afeganistão e está ameaçado pela situação presente na Ucrânia.
O Estado de S. Paulo caracterizou Ortega como “Velho guerrilheiro aposentou farda e trocou ateísmo comunista pelo fervor católico para conquistar o apoio de uma população conservadora e de líderes religiosos”, buscando cooptar para suas declarações o apoio de uma esquerda pequeno-burguesa liberal que acredita ser progressista.
Ainda, a propaganda de guerra contra a soberania latino-americana quer imputar mais uma vez uma suposta divisão entre a base petista com relação à postura de Lula, alegando que “hesitação do governo Lula com regime de Ortega divide base de petista”. Isso não é verdade, e como o próprio Estadão posteriormente afirma, quem está descontente com a postura de Lula em resistir à pressão pela condenação da Nicarágua na ONU é o PSB e a turba golpista infiltrada no governo. Quem está contra a Nicarágua dentro do PT são elementos direitistas da burocracia petista, como Alberto Cantalice, membro do Diretório Nacional que ataca Ortega e Nicolás Maduro.
Geraldo Alckmin, vice de Lula e filiado ao PSB, sim, aprovou na quinta-feira, 9, uma nota de repúdio à ditadura da Nicarágua. O texto defende uma democracia abstrata e imperialista como valor universal e afirma que não se pode ficar indiferente ao que chama de “flagrantes violações de direitos humanos, detenções arbitrárias, julgamentos e execuções sumárias, assassinatos e tortura contra dissidentes políticos do regime”, movimentação que cada vez mais evidencia a dificuldade de Lula em combater os infiltrados em seu governo.
Atacado pela mesma imprensa, em específico O Estado de S. Paulo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o Brasil não hesitou em se posicionar a respeito do regime de Daniel Ortega, na Nicarágua, no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O Brasil decidiu não aderir a uma declaração de 54 países feita em Genebra, na última sexta-feira, com condenações ao regime de Ortega.
A imprensa golpista brasileira, que sempre apoiou a ditadura militar brasileira, agora se cobre com a máscara de uma suposta posição democrática e pretende ilustrar o regime da Nicarágua como uma ditadura, partindo do mesmo formalismo neoliberal que considera todos os projetos contrários à política de Washington como uma ditadura sanguinária, e elenca os Estados Unidos como os bonzinhos.
Embora com toda a pressão feita pelo imperialismo, a população resiste, pois resta claro para todos nós, cidadãos da América Latina, que, por pior que seja a situação econômica de um país, uma intervenção norte-americana levará toda a nação a um estado permanente de servidão. O povo nicaraguense resiste e deve se espelhar no exemplo venezuelano, tomar nas próprias mãos a tarefa de se organizar e resistir, combater o golpe direitista interno, assim como os Estados Unidos e servir de exemplo a todos os povos de como se opor e vencer o imperialismo nesse seu momento de rapina, selvageria precipitada pela crise capitalista.
A mesma imprensa, hipócrita por natureza sob orientação do imperialismo, apoia o embargo genocida contra Cuba, apoia as guerras dos Estados Unidos e ataca toda a esquerda nacionalista e revolucionária.
Fato é que a esquerda e o PT não podem dar valor nenhum a tais críticas, pois seu fundamento vem de uma falsa lógica patronal. O próprio presidente Lula já demarcou sua posição e interesse em defender o regime de Ortega, como pudemos ver em recentes declarações.
É importante destacar que, no final das contas, esses mesmos ataques contra Ortega foram feitos contra o PT quando esteve no governo e podem voltar com maior radicalidade quando a burguesia quiser derrubar Lula.