Conforme anunciado por Lula durante sua campanha à presidência, seu governo terá como um dos seus objetivos principais a reindustrialização do país. A criminosa operação Lava Jato, o golpe de Estado de 2016 e o governo Bolsonaro atuaram no sentido de desmontar o setor industrial brasileiro, peça chave no desenvolvimento econômico de qualquer país. Logo na sua posse, Lula fez falas contundentes sobre o tema, como “não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites, temos capacidade técnica, capitais e mercado em grau suficiente para retomar a industrialização e a oferta de serviços em nível competitivo”.
Em visita à Argentina, Lula firmou compromisso de usar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar um gasoduto na Argentina, que serviria para viabilizar uma autossuficiência de gás para nossos vizinhos e ainda atender às termoelétricas brasileiras. Como era previsível, a imprensa golpista já caiu em cima dessa e outras propostas econômicas anunciadas pelo governo na visita, como a criação de uma moeda comum entre Argentina e os países do BRICS, que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul. A principal carta lançada foi a enorme preocupação que a burguesia tem com o meio ambiente. Acessoriamente, lançam mão da bandeira da “defesa dos povos originários”, contando com o apoio de Sônia Guajajara e seus patrocinadores.
Quem acompanha este Diário já está prevenido neste tema, sempre que um país atrasado tenta impulsionar sua industrialização os supostos ecologistas aparecem para impor uma série de restrições que inviabiliza essas iniciativas. Isso além do boicote e sabotagem tradicionais do imperialismo, que mantém o atraso econômico no mundo para privilegiar o grande capital financeiro, improdutivo e parasitário. No caso argentino, as críticas recaem ao tipo de exploração na reserva de Vaca Muerta, na bacia de Neuquén, especialmente o “fracking” para extrair gás de xisto. Como os recursos estão sob grande profundidade, essa técnica envolve a perfuração da rocha e injeção de água, areia e outros produtos para fazer escoar os materiais.
A técnica é muito utilizada num dos grandes promotores de democracia, ecologia e afins, os Estados Unidos. No entanto, ninguém tem poder para apitar a respeito do que os capitalistas norte-americanos fazem. Eles sim, atuam para sufocar as tentativas de desenvolvimento econômico mundo afora. Longe de ser a fonte e o método mais interessantes, se trata de um recurso que os argentinos possuem de fato e dependem dele, em primeiro lugar, para aquecer os lares da sua população durante os períodos mais frios e também para viabilizar sua atividade industrial. Não se trata de optar por um método poluente por algum capricho antiecológico, mas de tentar utilizar os recursos que estão disponíveis no país, com as ferramentas que esse país possui.
Além do Partido da Imprensa Golpista (PIG), ONGs da ecologia também entraram de cabeça na campanha contra o gasoduto. No seu lugar, o Brasil deveria investir, ou mais corretamente emprestar dinheiro, em projetos de “energia limpa”. É preciso deixar bastante claro que apesar de uma bandeira aparentemente positiva, o discurso dessas ONGs não passa de um engodo. Idealmente, é óbvio que se fosse uma questão de escolha o caminho mais normal seria optar por geração de energia com menores impactos ambientais, mas isso ainda está muito longe de ser uma escolha concreta. Basta ver a crise gerada na Europa por conta da interrupção do fornecimento de gás natural pela Rússia. Os países desenvolvidos do continente, que são os mais “ecológicos”, ficaram completamente expostos ao não conseguirem disfarçar que o fundamental das suas economias depende de energia gerada a partir de combustíveis fósseis.
Já em relação ao BNDES, é preciso esclarecer que não se trata de nenhuma doação de capital do governo brasileiro. O BNDES financia, ou seja, empresta. E as beneficiadas serão empresas brasileiras, o que reverte em aquecimento da economia brasileira, o que é positivo para a população de conjunto. Além disso, o fomento às relações econômicas com países atrasados é benéfico para a economia brasileira, pois é possível estabelecer relações mais vantajosas. Com o imperialismo não existe negociação real, apenas submissão às condições impostas. Justamente por isso, impulsiona essas campanhas a partir da sua imprensa, da imprensa submetida a ela e dos milhões de ONGs que financia para interferir na política dos países atrasados.