Editorial publicado no jornal A Verdade, da Unidade Popular (UP), na primeira quinzena de março, chamado “Defender as liberdades democráticas é punir os golpistas de ontem e de hoje” ainda trata do tema do ato de 8 de janeiro, feito por bolsonaristas.
Seguindo o roteiro do que fala a direita tradicional e sua imprensa golpista, o editorial defende “punição exemplar para todos”. Chegam ao ponto de defender que “Bolsonaro merece passar o resto da vida na cadeia, que é onde todo corrupto e fascista deve estar”, uma espécie de desejo pela prisão perpétua, coisa que não existe no Brasil.
Afirmam também que outros políticos, os do “centrão”, o alto comando das Forças Armadas e a grande burguesia. O editorial defende, ainda, “sem anistia para os golpistas”.
Muito radicalismo verbal, mas pouco conteúdo.
O que a UP não entende, em primeiro lugar, é que estamos sob o domínio do Estado burguês, ou seja, sob a ditadura da burguesia. O que a UP está pedindo, fundamentalmente, é que esse Estado puna a burguesia e seus próprios representantes.
A burguesia que financiou Bolsonaro por algum motivo decidiria puni-lo e depois punir a si própria por ter financiado Bolsonaro. Depois, as Forças Armadas convenceram a si próprias de serem punidas e colocariam elas mesmas na cadeira. Melhor ainda se for uma prisão perpétua.
O editorial não diz nada sobre o Poder Judiciário. Não sabemos se é porque a UP acredita que esse Poder, um dos mais antidemocráticos e golpistas da história recente do País, seja confiável, lindo e ilibado.
O editorial também não cita nada sobre a imprensa golpista e sua máquina de mentiras cujo papel foi fundamental para os golpes e a eleição de Bolsonaro. Também não sabemos se a ausência da imprensa capitalista como grande criminosa que é se deve ao fato de que a UP crê numa espécie de “neutralidade democrática” da Rede Globo e demais órgãos.
Mas supondo que o editorial da UP tenha apenas esquecido do Judiciário, será que seria possível convencer os juízes e ministros do STF a punir a si próprios por serem golpistas e terem apoiado a ditadura e agora a eleição de Bolsonaro? E no caso da imprensa, a UP defender acabar com o monopólio dessas famílias, tirar a concessão da Globo, por exemplo?
O editorial da UP tem muitas palavras aparentemente radical, mas nenhuma proposta realmente prática.
Das ideias que defende no editorial, o único resultado prático será contrário aos interesses dos trabalhadores. Se a proposta de punição exemplar para Bolsonaro e outros políticos for para frente sob o Estado burguês seria apenas como uma cobertura para acabar com as liberdades democráticas do povo, porque é contra o povo, não contra si mesma, que a burguesia que domina o Estado vai agir. Isso é o bê-a-bá da política.
Mas, como dissemos, a UP é muito discurso e pouca ou nenhuma ação. No fim das contas, a propaganda de UP pedindo uma “punição aos golpistas” é o contrário de conseguir liberdades democráticas. Se esse programa for levado adiante, e a direita está levando adiante através do Judiciário, cujo papel golpista a UP omite, não teremos liberdades democráticas, mas uma ditadura ainda maior contra o povo.
A esquerda deve ter um programa próprio de luta contra a direita e a extrema-direita, deve ter um programa democrático para todas as instituições, colocar em marcha uma luta pelos interesses reais e materiais do povo e chamar o povo a se organizar com seus próprios métodos de luta. O que a UP defende é colocar o povo a reboque do Estado burguês.